São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 2008

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VIOLÊNCIA

Conflito afeta rendimento da Geórgia na Olimpíada

Forte em judô e tiro, equipe do país tem apenas um bronze até agora

Guerra com a Rússia faz atletas defenderem volta à terra natal e até irem ao aeroporto, mas governo decide mantê-los na China


ADALBERTO LEISTER FILHO
ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

O conflito com a Rússia está atrapalhando o desempenho da Geórgia nos Jogos de Pequim. A falta de informações sobre família e amigos tem tirado a concentração da pequena delegação, de 35 atletas.
Apesar de ser forte em alguns esportes cujas competições já tiveram início -levantamento de peso, judô e tiro-, o país conquistou até o final das competições olímpicas da manhã de ontem só um bronze.
"Vários atletas acharam que era melhor voltar, nosso país estava sendo atacado", disse à Folha o porta-voz da delegação, Giorgi Tchanishvili.
A guerra é por conta de disputa pela Ossétia do Sul, Província da Geórgia. Parte da população quer se separar do país e aderir à Rússia. A estimativa dos governos é que o conflito, que se estende a outras regiões, tenha feito 2.000 mortos.
Na delegação olímpica, a indefinição sobre a permanência em solo chinês era muito grande até sábado. Houve um vai-e-vem de informações no prédio da delegação na Vila Olímpica.
Os atletas chegaram a ser informados de que a Geórgia comunicaria oficialmente sua desistência da Olimpíada.
Com essa informação, houve atletas que deixaram a Vila e seguiram até o aeroporto para tentar trocar suas passagens.
O problema é que, caso deixasse Pequim logo após a cerimônia de abertura, a Geórgia poderia ser punida pelo COI, com a suspensão do país dos próximos Jogos Olímpicos.
De madrugada, por volta das 3h, houve uma reviravolta, com uma ordem, vinda diretamente do presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, para que o grupo competisse.
A decisão foi comunicada aos atletas pela primeira-dama, Sandra Roelofs, que está em Pequim com a delegação.
"O presidente afirmou que seria importante que lutássemos pelo futuro dos esportes em nosso país", afirmou Tchanishvili, porta-voz da equipe.
A boa notícia para os georgianos veio horas depois, anteontem, quando Nino Salukvadze levou a medalha de bronze na prova da pistola de ar de 10 m.
Dividindo o pódio com a russa Natalia Paderina, que levou a prata, as rivais se cumprimentaram com um beijo no rosto. "No esporte, continuamos amigas. Se o mundo aprendesse essa lição, não haveria guerra", ensinou Paderina.
Tchanishvili afirmou que, apesar dos contratempos, os georgianos mostrarão sua força "em arenas esportivas, não em campos de guerra". Lembrou que, quando deixou o país, a situação já era tensa.
Longe dos campos de batalha, hoje, às 23h, a Geórgia enfrentará a Rússia no vôlei de praia. Cris e Andrezza, brasileiras naturalizadas georgianas, jogam contra Shiryaeva e Uryadova. Quem vencer continua na busca pela classificação às oitavas-de-final. As perdedoras serão eliminadas. "Darei o meu melhor para vencer as russas. Ficarei muito feliz se conseguir representar bem a Geórgia", afirmou Cris (ou Saka, em seu nome georgiano).
Na madrugada de hoje, os georgianos estreariam na luta greco-romana, uma de suas maiores esperanças de medalha, com David Bedinadze e Lasha Gogitadze. E poderá haver novos confrontos diretos.
"Os russos estão entre nossos maiores rivais", comentou Bedinadze, atual campeão mundial na categoria até 60 kg.

2 OUROS
ganhou a Geórgia nas três participações nos Jogos até Atenas-2004, desde que se separou da URSS. No total, foram 12 medalhas -sem contar a de Pequim, no tiro. O judô foi quem rendeu mais pódios: quatro. Levantamento de peso (2), luta greco-romana (3), luta livre (2) e boxe (1) foram outros esportes em que o país foi ao pódio.


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