São Paulo, quinta-feira, 12 de agosto de 2010

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JUCA KFOURI

Por um mês feliz


A questão é: quanto queremos gastar para ter 30 dias de festa, de alegria, de felicidade


OS AUTORES DO instigante, divertido, revelador e meio maluco livro "Soccernomics" (Editora Tinta Negra) são taxativos: nenhum pais fica mais rico por sediar uma Copa. A afirmação é acompanhada por números que não permitem dúvidas, haja ou não corrupção envolvida na organização do evento.
O colunista esportivo do "Financial Times", e desta Folha, Simon Kuper, e o especialista em economia esportiva Stefan Szymanski, os autores, olham para a Copa do Mundo com outra visão, interessante, rica, que faz sentido: quem sedia uma Copa fica mais feliz, por um mês que seja -até porque os seis anos anteriores são de angústia e estresse por causa de atrasos, cobranças, denúncias em países como a África do Sul e como o... deixa pra lá.
Eis o ponto: o Brasil será mais feliz durante 30 dias em 2014. Vale pagar por isso? Em princípio, a resposta deste que vos escreve é, sim, vale!
A pergunta, óbvia, é sobre o quanto estamos dispostos a pagar por tamanha felicidade.
E aí parece claro que o que a traz certamente não é o dinheiro gasto em estádios mirabolantes, mas o investido para receber bem 31 seleções e seus torcedores num festival de futebol, com trânsito civilizado, aeroportos limpos, funcionais e eficazes, uma boa rede hospitalar e gente preparada para receber com um sorriso nos lábios e uma solução na cabeça, além de estradas sem buracos e sinalizadas.
É tudo o que se precisa afora, é evidente, bons gramados em estádios limpos, seguros e minimamente confortáveis, mas sem o exagero de um elefante branco como o Soccer City, alegria dos empreiteiros e apaniguados do Comitê Organizador Local, risco que, felizmente, não corremos aqui, dado o passado ilibado dos que o compõem, embora Simon e Szymanski até admitam a necessidade de novos palcos no Brasil.
Na verdade, conclui-se do "Soccernomics" (310 páginas, R$ 49), a Copa é uma propaganda que dura um mês, anúncio monumental que deve ser tão bom como corre o risco, proporcionalmente, de ser ruim para a imagem de um país.
Razão pela qual precisamos ter cuidado e rogar para que tal anúncio esteja à altura dos melhores momentos da carreira de seus criadores, e não dos piores, como os dos cervejeiros guerreiros que nos assolaram estupidamente antes e durante a participação brasileira na Copa africana.
O que vale para a Copa de 2014 vale também para a Olimpíada do Rio-2016.
Só não vale mentir e falsear a realidade econômica com números que não se realizarão.

blogdojuca@uol.com.br


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