São Paulo, quarta-feira, 12 de setembro de 2001

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TÊNIS

O domínio de Venus

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

" hegou uma hora durante o jogo em que comecei a ficar com dó dela, de verdade. Eu pensava comigo mesmo: "Serena, não faça assim!", "Irmã, não erre uma bola desse jeito". Mas era uma final de Grand Slam, então tratei de tentar fechar logo."
O comentário de Venus Williams sobre a final do Aberto dos EUA revela como é difícil para qualquer tenista, irmã, amiga ou inimiga, bater nela hoje em dia.
Diminuído o impacto da volta triunfal de Jennifer Capriati, dada a devida importância ao eterno bate-boca entre Serena e Martina Hingis, superada a surpresa das revelações Justine Henin e Kim Clijsters e, enfim, encerrado o assunto Anna Kournikova, é, sim, Venus quem desponta hoje como a dona do tênis feminino.
Dos últimos seis Grand Slams que disputou, Venus saiu campeã em nada menos que quatro deles.
Na temporada 2000, Venus disputou somente nove torneios. E ganhou seis deles, incluindo Wimbledon, o Aberto dos EUA e os Jogos Olímpicos de Sydney (duas medalhas de ouro, aliás).
Nesta temporada, são 12 torneios disputados. E, novamente, seis os títulos conquistados: novamente Wimbledon, novamente o Aberto dos EUA.
Venus não perde há 16 jogos. Dos últimos 33 sets, ganhou 32.
No Aberto dos EUA, foram 14 sets vitoriosos, todos com facilidade, não importando se a rival era a irmã Serena, a amiga Lisa Raymond ou a inimiga Capriati.
Deu dó mesmo.
Não só de Serena, mas de todas as adversárias.
Agora, vale a pena deixar para lá um pouco Capriati, o bate-boca infantil entre Hingis e Serena, para ver o que Venus anda jogando. Vale mais a pena.

No masculino, mais do que o título de Hewitt (uma hora, mais cedo ou mais tarde, teria de vir, não é?), impressionou muito "a volta daqueles que não foram embora", como se diz por aí.
Tidos como superados e mortos, Pete Sampras e Ievguêni Kafelnikov fizeram ótimas campanhas nas quadras de Flushing Meadows e só caíram diante do mais novo membro do clube de campeões de Grand Slam.
Mostraram o quanto é precipitado dizer que este ou aquele já era. Sampras saiu vencedor no melhor jogo do torneio, contra Andre Agassi. Kafelnikov, por sua vez, mastigou o sonho brasileiro com uma vitória larga sobre Gustavo Kuerten nas quartas.
Nos seis últimos Grand Slams, foram seis campeões diferentes.
Se no feminino Venus Williams domina hoje, e por isso vale a pena ver, no masculino ninguém domina, e por isso também vale a pena acompanhar quem será o rei da temporada 2001.

Vôo quase duas horas atrasado, a caminho de Salvador, pergunto ao repórter Paulo Cobos, recém-chegado de Nova York, onde viu atentamente o Aberto dos EUA, e coincidentemente acomodado ao lado na mesma aeronave, o que iria rolar no ATP Tour brasileiro.
A resposta: um Guga cansado, um calor forte, pouco público.
Impaciente, desanimado, irritado, cansado, estressado, Kuerten acabou decepcionando os baianos. Aos desconsolados pela eliminação do ídolo, as palavras do sábio Fernando Meligeni: o torneio continua; não existe torneio de um homem só.

Tenista de verdade

Justiça seja feita, Kuerten não foi eliminado na primeira rodada só porque estava cansado ou sofrendo com o calor. Perdeu também porque, do outro lado, estava um bom tenista, consciente e que não teve medo de jogar contra o número um do mundo.
Torneio de verdade
Justiça seja feita, merece elogios a organização do ATP Tour nacional. O lugar escolhido é realmente longe, o preço dos ingressos realmente é para poucos, o acesso ao local é para quem pode. Mas os poucos sortudos que conseguem chegar podem ter uma idéia do que é um ATP Tour de verdade.

Disputa de verdade
Justamente por não ter muitas grandes estrelas, o público consegue ver bons jogos nas chaves masculina e feminina na Bahia. São jogadores de segundo escalão travando bons duelos.

E-mail: reandaku@uol.com.br


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