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TÊNIS
O domínio de Venus
RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA
" hegou uma hora durante o jogo em que comecei a
ficar com dó dela, de verdade. Eu
pensava comigo mesmo: "Serena,
não faça assim!", "Irmã, não erre
uma bola desse jeito". Mas era
uma final de Grand Slam, então
tratei de tentar fechar logo."
O comentário de Venus Williams sobre a final do Aberto dos
EUA revela como é difícil para
qualquer tenista, irmã, amiga ou
inimiga, bater nela hoje em dia.
Diminuído o impacto da volta
triunfal de Jennifer Capriati, dada a devida importância ao eterno bate-boca entre Serena e Martina Hingis, superada a surpresa
das revelações Justine Henin e
Kim Clijsters e, enfim, encerrado
o assunto Anna Kournikova, é,
sim, Venus quem desponta hoje
como a dona do tênis feminino.
Dos últimos seis Grand Slams
que disputou, Venus saiu campeã
em nada menos que quatro deles.
Na temporada 2000, Venus disputou somente nove torneios. E
ganhou seis deles, incluindo
Wimbledon, o Aberto dos EUA e
os Jogos Olímpicos de Sydney
(duas medalhas de ouro, aliás).
Nesta temporada, são 12 torneios disputados. E, novamente,
seis os títulos conquistados: novamente Wimbledon, novamente o
Aberto dos EUA.
Venus não perde há 16 jogos.
Dos últimos 33 sets, ganhou 32.
No Aberto dos EUA, foram 14
sets vitoriosos, todos com facilidade, não importando se a rival era
a irmã Serena, a amiga Lisa Raymond ou a inimiga Capriati.
Deu dó mesmo.
Não só de Serena, mas de todas
as adversárias.
Agora, vale a pena deixar para
lá um pouco Capriati, o bate-boca infantil entre Hingis e Serena,
para ver o que Venus anda jogando. Vale mais a pena.
No masculino, mais do que o título de Hewitt (uma hora, mais
cedo ou mais tarde, teria de vir,
não é?), impressionou muito "a
volta daqueles que não foram
embora", como se diz por aí.
Tidos como superados e mortos,
Pete Sampras e Ievguêni Kafelnikov fizeram ótimas campanhas
nas quadras de Flushing Meadows e só caíram diante do mais
novo membro do clube de campeões de Grand Slam.
Mostraram o quanto é precipitado dizer que este ou aquele já
era. Sampras saiu vencedor no
melhor jogo do torneio, contra
Andre Agassi. Kafelnikov, por sua
vez, mastigou o sonho brasileiro
com uma vitória larga sobre Gustavo Kuerten nas quartas.
Nos seis últimos Grand Slams,
foram seis campeões diferentes.
Se no feminino Venus Williams
domina hoje, e por isso vale a pena ver, no masculino ninguém
domina, e por isso também vale a
pena acompanhar quem será o
rei da temporada 2001.
Vôo quase duas horas atrasado,
a caminho de Salvador, pergunto
ao repórter Paulo Cobos, recém-chegado de Nova York, onde viu
atentamente o Aberto dos EUA, e
coincidentemente acomodado ao
lado na mesma aeronave, o que
iria rolar no ATP Tour brasileiro.
A resposta: um Guga cansado,
um calor forte, pouco público.
Impaciente, desanimado, irritado, cansado, estressado, Kuerten
acabou decepcionando os baianos. Aos desconsolados pela eliminação do ídolo, as palavras do
sábio Fernando Meligeni: o torneio continua; não existe torneio
de um homem só.
Tenista de verdade
Justiça seja feita, Kuerten não foi eliminado na primeira rodada só
porque estava cansado ou sofrendo com o calor. Perdeu também
porque, do outro lado, estava um bom tenista, consciente e que
não teve medo de jogar contra o número um do mundo.
Torneio de verdade
Justiça seja feita, merece elogios a organização do ATP Tour nacional. O lugar escolhido é realmente longe, o preço dos ingressos
realmente é para poucos, o acesso ao local é para quem pode. Mas
os poucos sortudos que conseguem chegar podem ter uma idéia
do que é um ATP Tour de verdade.
Disputa de verdade
Justamente por não ter muitas grandes estrelas, o público consegue ver bons jogos nas chaves masculina e feminina na Bahia. São
jogadores de segundo escalão travando bons duelos.
E-mail: reandaku@uol.com.br
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