|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Brasil pune quem treina no exterior
Natação corta patrocínio de atletas que vivem fora do país e cria debate sobre meios para lapidar talentos do esporte
Dirigentes acreditam que país tem qualidade para cuidar de seus prodígios e que EUA não são mais única opção para atleta prosperar
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL
Buscar aprimoramento técnico no exterior, prática seguida por boa parte das estrelas
que a natação brasileira produziu, virou motivo para uma medida de repressão sem precedentes que causa celeuma entre dirigentes e atletas.
Tudo porque a Confederação
Brasileira de Desportos Aquáticos decidiu não renovar os contratos de patrocínio de nadadores que treinam fora do país,
mesmo que consigam bons resultados em torneios de elite.
Mais: a entidade não vai levar
aos Jogos Sul-Americanos,
competição programada para
novembro, na Argentina, quatro representantes que conquistaram na piscina o direito
de representar o Brasil. Gustavo Calado, Leonardo Martins,
Lucas Azevedo e Phillip Morrinson vivem nos EUA.
Duas razões são apontadas
como preponderantes por Coaracy Nunes, dirigente máximo
da modalidade no país, para as
penas estabelecidas: a falta de
bons resultados obtidos por nadadores que estão no exterior e
problemas com a estatal que
despeja mais de R$ 7 milhões
por ano nos esportes aquáticos.
"Os últimos atletas que saíram do Brasil ficaram uma lástima lá fora. E, além disso, eu
pago todos com dinheiro dos
Correios, uma empresa brasileira. Qual o retorno que eles
vão ter lá fora?", afirma.
O próprio cartola reconhece,
contudo, que o tema é polêmico. "Sei que muita gente não vai
gostar. Dou a minha cara para
bater. Não sei exatamente
quantos atletas vão perder as
bolsas, mas tenho convicção de
que estou no caminho certo."
Um dos punidos é Lucas Salatta, que defende o Pinheiros e
a seleção brasileira. Seu caso
ajuda a entender os motivos de
as ações da confederação gerarem debate. Ele treina na Universidade da Flórida, nos EUA,
e explica que deixou o país para
seguir os passos dos melhores.
"O Ricardo Prado e o Gustavo
Borges, por exemplo, também
treinaram fora do Brasil. Acho
errado eu ficar sem patrocínio,
sem incentivo", diz Salatta, que
recebia R$ 2.000 da CBDA.
Nem é preciso resgatar os casos de Prado -recordista mundial dos 400 m medley em
1982- e de Borges -quatro
medalhas olímpicas entre 1992
e 2000- para encontrar exemplos satisfatórios de quem aprimorou a técnica longe de casa.
Thiago Pereira, César Cielo
Filho e Fabíola Molina, atletas
mais premiados no Troféu Brasil, encerrado ontem, tiveram
experiências no exterior.
"Também estamos cheios de
casos de gente que brilha no
Brasil, como o Kaio Márcio,
nosso campeão do mundo dos
100 m borboleta, que vive e nada na Paraíba", pondera Ricardo Moura, diretor da CBDA.
Ele acredita que o Brasil pode
oferecer hoje qualidade técnica
e infra-estrutura adequada, situação impensável nas épocas
de Prado e Borges.
"Nos últimos anos, os atletas
saem daqui bons e voltam médios. Eles pioram. Eu quero ver
sair do país um nadador médio
e voltar bom", provoca Moura.
Texto Anterior: Nilmar: Agente diz que clube não quitou parcela Próximo Texto: Regras são regras: Para Borges, critério da CBDA deve ser seguido Índice
|