|
Texto Anterior | Índice
FUTEBOL
Teoria e prática
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Hoje, contra a fraquíssima
Jamaica, Parreira vai manter a estrutura tática com quatro
defensores, três no meio-campo e
três mais adiantados. É o mesmo
esquema do Cruzeiro, virtual
campeão brasileiro.
Parreira gosta mais da formação com quatro no meio (dois volantes e um armador de cada lado) e dois atacantes, utilizada por
ele na Copa de 94 e hoje pela
maioria das equipes e seleções da
Europa. Os armadores da direita
e da esquerda fazem duplas com
os laterais, no ataque e na defesa.
Esse esquema começou com a seleção da Inglaterra, campeã do
mundo em 1966.
Como o Brasil tem vários meias
ofensivos talentosos, acostumados a jogarem livres, próximos
dos dois atacantes, sem obrigação
de marcar no seu próprio campo,
o técnico, acertadamente, optou
por três no meio e três na frente.
Mas os três do meio-campo não
podem ser apenas marcadores.
São eles que iniciam as jogadas
ofensivas. Por isso, precisam ter
um bom passe e, alternadamente,
se aproximarem dos atacantes.
Essa é a dificuldade. Gilberto
Silva joga mais recuado, Emerson
não se destaca pela habilidade e
mobilidade, e Zé Roberto é muito
habilidoso, mas não tem a lucidez, a criatividade e a técnica dos
grandes armadores. Joga mais
com os pés do que com o cérebro.
Olha muito para a bola e pouco
para a frente.
Não há opções melhores. Uma
possível seria tentar adaptar um
dos meias de ligação que estão na
reserva a uma nova função, já
que o meio-campo é grande para
apenas dois jogadores. Nenhum
deles faz isso em seus clubes. Em
58, o ponta Zagallo já sabia disso
quando ia para o meio ajudar os
dois armadores na marcação.
Nas primeiras partidas em que
jogou pelo Milan, Kaká atuou
dessa forma, mais recuado, pela
direita ou esquerda, marcando
no seu campo ao lado dos dois volantes, numa função próxima à
do Zé Roberto.
Como Kaká é um jogador disciplinado e de ótima condição física, ele foi bem, mas aí não é o seu
lugar. Ele ficou muito longe dos
dois atacantes e do gol. No último
jogo, contra a Inter, Kaká atuou
do meio para a frente, livre, como
gosta, sabe e fazia no São Paulo.
Jogou muito melhor. Desse jeito,
ele jogará hoje contra a Jamaica.
Parreira tem uma filosofia e um
esquema tático definidos, o que é
essencial, mas deveria criar variações para determinados momentos, como marcar por pressão, escalar um segundo típico atacante
(Adriano ou Luis Fabiano) ou
dois volantes, dois meias e dois
atacantes ou um jogador que recue, marque pelo meio e avance
como um ponta (Denílson, Robinho ou o próprio Zé Roberto).
Para isso, é preciso teorizar,
treinar e experimentar em alguns
jogos, como no segundo tempo do
amistoso contra a Jamaica. Unir
a teoria com a prática.
A teoria sem a prática é estéril,
ou quase, o que poderia ter sido,
mas não foi. A prática sem a teoria é uma grosseira simplificação.
Magia do craque
Se Kaká jogar hoje muito melhor do que Rivaldo, poderá ser o
titular na volta do Ronaldinho.
Na eliminatória anterior, mesmo
quando jogava mal -era mais
criticado do que merecia-, Rivaldo era imprescindível porque
não havia outro jogador de talento. Agora, no entanto, é diferente.
Há excelentes opções, como Kaká
e o cruzeirense Alex.
Kaká estreou no São Paulo em
2000 e, agora com 21 anos, está
próximo de se tornar uma estrela
mundial. Nesses três anos ele ficou mais forte, rápido, melhorou
a técnica, foi endeusado, criticado, chamado de craque, de pipoqueiro, de menino bonito protegido pelo marketing e foi campeão
do mundo.
Kaká amadureceu. Na Itália,
onde se valoriza não só o jogador
que acerta muito, mas também o
que erra pouco, ele vai aprender a
esperar o momento certo para
brilhar. No São Paulo, Kaká queria, em todas as jogadas, arrancar
do meio-campo até o gol. Acertava, porém perdia muitas bolas e
era criticado.
Antes de se destacar individualmente, Kaká terá de jogar um futebol coletivo e solidário. A sua
posição exige muito isso.
Cruyff afirmou que jogava 85
minutos para o time e, nos cinco
restantes, dava o seu show. E foram esses cinco minutos que fizeram do holandês um craque inesquecível.
Não dá para ser craque os 90
minutos. Romário era assim. Ronaldo também aprendeu a fazer
isso. Kaká terá de descobrir essa
magia.
E-mail tostao.folha@uol.com.br
Texto Anterior: Atletismo: Maratona de Chicago tem africano favorito Índice
|