São Paulo, domingo, 12 de outubro de 1997.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JUDÔ
Depois de medalha conquistada no Mundial da França, atleta espera conseguir patrocínio e 'sossego' para treinar
Edinanci, bronze, quer fim de provação

JOSÉ ALAN DIAS
da Reportagem Local

A medalha de bronze no Mundial da França, conquistada na última quinta-feira, pode ter posto fim ao período de provações da judoca paraibana Edinanci Silva.
"Espero que quando chegar ao Brasil eu consiga ter mais tranquilidade para poder pensar só no judô. Não quero mais me preocupar em arrumar patrocínio ou lugar para morar ", diz a judoca da categoria meio-pesado (até 72 kg).
A notoriedade em Atlanta-96, causada principalmente por seu problema genético (Edinanci, 21, apresenta características dos dois sexos), trouxe poucas transformações em sua vida.
Sem patrocínio, depois do sétimo lugar, continuou treinando em Guarulhos, onde a prefeitura local mantinha um programa de apoio a atletas. Depois que a atual gestão assumiu, em janeiro último, os recursos escassearam.
Sem ajuda de custo por seis meses (R$ 1.000/mensais), acabou topando proposta feita pela CBJ (Confederação Brasileira de Judô), que a queria treinando no Rio.
Foi, em julho, para um apartamento alugado pela CBJ no bairro do Flamengo (zona sul), enquanto se preparava para as seletivas do Mundial. Ficou três semanas.
"Perdi uns cinco quilos lá. Eu descia para treinar e subia para dormir. Pra não morrer de tédio quando não estava treinando, eu ia correr na praia. Aí, eu me enchi. Azucrinei tanto a cabeça do pessoal da CBJ que eles me mandaram para São Paulo", diz a atleta.
De volta ao Estado, passou a treinar no Projeto Futuro (projeto da Secretária Estadual de Esportes), no ginásio do Ibirapuera.
Além do local de treinos, conseguiu alojamento e alimentação. Mas, como os demais atletas, não recebe ajuda de custo.
"Edinanci é uma pessoa complicada, difícil de lidar. Tem que ter jeito com ela", disse Silvio Abreu, técnico da seleção brasileira, pouco antes de a equipe ir ao Mundial, referindo-se ao fato de a judoca ter chegado a abdicar dos treinos para visitar a família na Paraíba antes das seletivas.
"Ela é uma ótima judoca. Todo mundo gosta dela. Estamos fazendo um esforço para mantê-la aqui", afirmou Floriano de Almeida, coordenador do Projeto Futuro e também técnico da seleção brasileira.
Edinanci afirma estar dividida entre a possibilidade de ficar em São Paulo e a esperança de receber agora, com a medalha, o convite de alguma cidade, durante sua participação nos Jogos Abertos do interior, na próxima semana.
"Vamos ver se o resultado (a medalha) pode mesmo me ajudar."
Museu
Passado um ano e meio da cirurgia corretiva, que a permitiu ser aprovada no teste de feminilidade dos Jogos de Atlanta-96, e a obtenção da carteirinha de feminilidade, Edinanci classifica o episódio como "exagero das pessoas"
"Falaram um monte de coisas. Que eu ia ficar fraca, que ia ficar diferente. Continuo a mesma pessoa. Fizeram muito barulho em cima daquilo."
Tampouco gosta de falar sobre a participação nos Jogos, nos quais competiu como pesado (acima de 72 kg), enfrentando adversárias muito mais fortes, como a russa Svetlana Gundarenko (1,91 m, 154 kg). "Olimpíada é passado. Quem vive de passado é museu. Olho para a frente. Daqui a pouco até essa medalha vai ser passado. Nessa vida de atleta você tem sempre que tá provando que é bom."
Talvez explique porque ficou decepcionada por não ter enfrentado a francesa Espha Essombe (contundida, abandonou), na disputa do bronze no Mundial. "Seria ótimo para o meu currículo."



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.