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JUDÔ
Depois de medalha conquistada no Mundial da França, atleta espera conseguir patrocínio e 'sossego' para treinar
Edinanci, bronze, quer fim de provação
JOSÉ ALAN DIAS
da Reportagem Local
A medalha de bronze no Mundial da França, conquistada na última quinta-feira, pode ter posto
fim ao período de provações da judoca paraibana Edinanci Silva.
"Espero que quando chegar ao
Brasil eu consiga ter mais tranquilidade para poder pensar só no judô. Não quero mais me preocupar
em arrumar patrocínio ou lugar
para morar ", diz a judoca da categoria meio-pesado (até 72 kg).
A notoriedade em Atlanta-96,
causada principalmente por seu
problema genético (Edinanci, 21,
apresenta características dos dois
sexos), trouxe poucas transformações em sua vida.
Sem patrocínio, depois do sétimo lugar, continuou treinando em
Guarulhos, onde a prefeitura local
mantinha um programa de apoio a
atletas. Depois que a atual gestão
assumiu, em janeiro último, os recursos escassearam.
Sem ajuda de custo por seis meses (R$ 1.000/mensais), acabou topando proposta feita pela CBJ
(Confederação Brasileira de Judô),
que a queria treinando no Rio.
Foi, em julho, para um apartamento alugado pela CBJ no bairro
do Flamengo (zona sul), enquanto
se preparava para as seletivas do
Mundial. Ficou três semanas.
"Perdi uns cinco quilos lá. Eu
descia para treinar e subia para
dormir. Pra não morrer de tédio
quando não estava treinando, eu ia
correr na praia. Aí, eu me enchi.
Azucrinei tanto a cabeça do pessoal da CBJ que eles me mandaram
para São Paulo", diz a atleta.
De volta ao Estado, passou a treinar no Projeto Futuro (projeto da
Secretária Estadual de Esportes),
no ginásio do Ibirapuera.
Além do local de treinos, conseguiu alojamento e alimentação.
Mas, como os demais atletas, não
recebe ajuda de custo.
"Edinanci é uma pessoa complicada, difícil de lidar. Tem que ter
jeito com ela", disse Silvio Abreu,
técnico da seleção brasileira, pouco antes de a equipe ir ao Mundial,
referindo-se ao fato de a judoca ter
chegado a abdicar dos treinos para
visitar a família na Paraíba antes
das seletivas.
"Ela é uma ótima judoca. Todo
mundo gosta dela. Estamos fazendo um esforço para mantê-la
aqui", afirmou Floriano de Almeida, coordenador do Projeto Futuro e também técnico da seleção
brasileira.
Edinanci afirma estar dividida
entre a possibilidade de ficar em
São Paulo e a esperança de receber
agora, com a medalha, o convite
de alguma cidade, durante sua
participação nos Jogos Abertos do
interior, na próxima semana.
"Vamos ver se o resultado (a
medalha) pode mesmo me ajudar."
Museu
Passado um ano e meio da cirurgia corretiva, que a permitiu ser
aprovada no teste de feminilidade
dos Jogos de Atlanta-96, e a obtenção da carteirinha de feminilidade,
Edinanci classifica o episódio como "exagero das pessoas"
"Falaram um monte de coisas.
Que eu ia ficar fraca, que ia ficar
diferente. Continuo a mesma pessoa. Fizeram muito barulho em cima daquilo."
Tampouco gosta de falar sobre a
participação nos Jogos, nos quais
competiu como pesado (acima de
72 kg), enfrentando adversárias
muito mais fortes, como a russa
Svetlana Gundarenko (1,91 m, 154
kg). "Olimpíada é passado. Quem
vive de passado é museu. Olho para a frente. Daqui a pouco até essa
medalha vai ser passado. Nessa vida de atleta você tem sempre que tá
provando que é bom."
Talvez explique porque ficou decepcionada por não ter enfrentado
a francesa Espha Essombe (contundida, abandonou), na disputa
do bronze no Mundial. "Seria ótimo para o meu currículo."
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