São Paulo, segunda, 12 de outubro de 1998

Texto Anterior | Índice

HIPISMO
Rodrigo Pessoa não nasceu, não mora e pouco visita o país pelo qual disputa as competições internacionais
Campeão mundial mal conhece o Brasil

da Reportagem Local

O brasileiro Rodrigo Pessoa, novo campeão do mundo de hipismo, desconhece o Brasil.
Ele não nasceu no país, mas em Paris, França, quando seu pai, Nelson Pessoa, estava disputando uma temporada européia.
Acabou optando pela nacionalidade brasileira porque, competindo pelo Brasil, teria maiores chances de integrar uma equipe nacional nos Jogos Olímpicos.
Agora, Rodrigo mora em Bruxelas, Bélgica. Ao lado do pai, dirige uma equipe de hipismo, a escuderia Pessoa.
"Tudo o que sei aprendi com meu pai", afirmou ontem Rodrigo, após a vitória. "Como ele nunca ganhou uma medalha de ouro nos Campeonatos Mundiais, essa medalha é para nós dois", disse.
Rodrigo aprendeu a falar português fluentemente apenas adulto.
Foi a mudança para a Bélgica do cavaleiro paulista Álvaro de Miranda Netto, o Doda, que também conquistou o bronze em Atlanta-96, que ajudou o novo campeão mundial a desenvolver o idioma.
Antes, Rodrigo falava a língua com muitos erros e com sotaque francês.
"Aprendi português em casa; francês e inglês, na rua. Depois que comecei a competir, aprendi ainda espanhol, italiano e alemão", diz o cavaleiro brasileiro.
Rodrigo também vem pouco ao país, preferindo disputar as competições da temporada européia.
"Só vou ao Brasil quando tenho um período grande de férias. Descanso na Sardenha ou em Portugal", afirma o cavaleiro.
Nesse ano, o novo campeão mundial esteve no Brasil em agosto, disputando o Grande Prêmio Cidade do Rio de Janeiro, principal prova do hipismo nacional.
Em abril, fora a Porto Alegre para competir no Concurso de Saltos de local, torneio no qual ficou com a 13ª posição.
"Não fico muito a par dos assuntos do país porque, quando estou no Brasil, gasto todo o tempo visitando meus familiares."
Apesar de ignorar os acontecimentos do país, ele demonstra algum conhecimento. "Pouco a pouco, as coisas vão melhorando. Mas falta disciplina. As cidades são muito sujas e há muito assaltos."
Segundo Rodrigo, para se desenvolverem, os cavaleiros brasileiros devem se mudar para a Europa.
"Dá para contar nos dedos de uma mão os brasileiros que podem chegar longe no esporte. Há gente boa no Brasil que já deveria ter se mudado para a Europa", diz.
Rodrigo diz que não pensa em viver algum dia no Brasil. "Minha carreira está na Europa e, quando ela terminar, vou virar treinador por aqui (na Europa) ", afirma.
Além do maior nível técnico das competições locais, Rodrigo vê outra vantagem em ter nascido e em morar na Europa.
Segundo ele, é seu lado europeu que lhe dá equilíbrio suficiente para disputar bem as provas de hipismo. "A disciplina é o eixo do bom cavaleiro", afirma Pessoa.
²
Subida A pouca idade (25 anos) pode ajudar Rodrigo a conquistar outros títulos mundiais -e até uma medalha de ouro olímpica.
"Ele tem mais futuro, porque o esporte evolui, e eu não tive um "manager', como ele tem", afirma seu pai.
Rodrigo vem melhorando significativamente seus resultados nos últimos anos.
Na Copa do Mundo, passou de um quarto lugar em 96 para a primeira posição no torneio deste ano. Já no Mundial, a subida foi ainda maior: da oitava para a primeiro posição.
Nas duas Olimpíadas (92 e 96) que disputou, teve desempenho igual: foi o nono colocado.
²


Com agências internacionais


Texto Anterior | Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.