|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Banco Opportunity contrata consultora e executivo de instituição rival para investir na aquisição de clubes
'Musa da privatização' avança sobre clubes
MÁRIO MAGALHÃES
da Sucursal do Rio
O banco Opportunity lançou o
mais ousado plano de investimentos no futebol brasileiro, prevendo
a compra de clubes e a transformação deles em sociedades anônimas
de capital aberto, com negociação
de ações nas Bolsas de Valores.
A consultora do projeto é Elena
Landau, 39, ex-diretora da área de
privatização do BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social). Quando estava no governo, Landau foi chamada de "musa da privatização".
O executivo, agora sócio-diretor
do Opportunity, é Luís Roberto
Demarco, 34, que dirigia o programa até então mais avançado no setor, o do banco Garantia.
Landau e Demarco, contratados
há poucas semanas, vão se dedicar
em tempo integral ao projeto futebol do Opportunity, banco que administra recursos e intermedeia
negócios para várias empresas,
boa parte estrangeiras.
Foi Demarco quem apresentou
as propostas do Garantia para
comprar o São Paulo (R$ 100 milhões pelo departamento de futebol do clube) e o Botafogo.
Com a mudança de empresa, ele
levou para o Opportunity o
know-how sobre o mercado esportivo e, principalmente, os contatos com os dirigentes dos clubes
potencialmente negociáveis.
De acordo com Demarco, o Opportunity reservou para o futebol
verba do seu principal fundo de investimentos, o mesmo utilizado na
compra de nacos de empresas estatais leiloadas, como a Companhia Vale do Rio Doce, a Cemig
(Companhia Energética de Minas
Gerais) e o porto de Santos.
Demarco não diz quanto o banco
está disposto a investir, mas no
mercado avalia-se que a soma disponível atinja a casa de centenas de
milhões de reais, para a entrada
em, no mínimo, três mercados:
São Paulo, Rio e Bahia.
Há negociações com clubes de
vários Estados, em alguns casos
mais de um na mesma praça, e todos os dias o banco recebe telefonemas de dirigentes.
A Folha apurou que até grupos
de oposição, como o do Vasco, liderado por Jorge Salgado e Olavo
Monteiro de Carvalho, têm procurado o Opportunity.
O são-paulino Luís Demarco e a
botafoguense Elena Landau não
informam detalhes, mas apenas as
linhas globais das negociações
(leia texto nesta página).
Há outros bancos estudando
-ou já negociando- a compra
de clubes, como o Garantia (mesmo com a saída de Demarco), o
Bozano,Simonsen, e, com muita
discrição, o Icatu.
A ida de Luís Demarco para o
Opportunity é emblemática da
concorrência entre os bancos que
querem "comprar o futebol".
Estudo encomendado pelo governo estipula em US$ 25 bilhões o
potencial do mercado do esporte
brasileiro, que movimentaria hoje
US$ 800 milhões.
Nos EUA e na Itália, o esporte já
representa mais de 3% do PIB (soma das riquezas produzidas pelo
país). No Brasil, de acordo com o
Ministério dos Esportes, 0,1%.
O desafio do futebol tem características semelhantes às da privatização, na opinião de Landau.
"Muitos achavam que só investimentos do Tesouro bastariam
para resolver os problemas das estatais. Era um paliativo", afirma a
ex-diretora do BNDES.
Para ela, co-gestão e contratos de
patrocínio são paliativos para o futebol profissional, cujas potencialidades serão desenvolvidas com a
transformação dos clubes em sociedades anônimas.
"Nas estatais, problemas políticos influenciavam as empresas,
que resistiam à privatização, sem
estímulos à produtividade. O futebol vai aprender a se comportar
nesse processo de mudança."
O vice-presidente do Vasco, deputado Eurico Miranda (PPB-RJ),
critica o que considera a "compra
da paixão" por bancos.
Para o Opportunity, a torcida ganharia com times fortes e ídolos no
Brasil, não no exterior.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|