São Paulo, quarta, 12 de novembro de 1997.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL
Banco Opportunity contrata consultora e executivo de instituição rival para investir na aquisição de clubes
'Musa da privatização' avança sobre clubes

MÁRIO MAGALHÃES
da Sucursal do Rio

O banco Opportunity lançou o mais ousado plano de investimentos no futebol brasileiro, prevendo a compra de clubes e a transformação deles em sociedades anônimas de capital aberto, com negociação de ações nas Bolsas de Valores.
A consultora do projeto é Elena Landau, 39, ex-diretora da área de privatização do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Quando estava no governo, Landau foi chamada de "musa da privatização".
O executivo, agora sócio-diretor do Opportunity, é Luís Roberto Demarco, 34, que dirigia o programa até então mais avançado no setor, o do banco Garantia.
Landau e Demarco, contratados há poucas semanas, vão se dedicar em tempo integral ao projeto futebol do Opportunity, banco que administra recursos e intermedeia negócios para várias empresas, boa parte estrangeiras.
Foi Demarco quem apresentou as propostas do Garantia para comprar o São Paulo (R$ 100 milhões pelo departamento de futebol do clube) e o Botafogo.
Com a mudança de empresa, ele levou para o Opportunity o know-how sobre o mercado esportivo e, principalmente, os contatos com os dirigentes dos clubes potencialmente negociáveis.
De acordo com Demarco, o Opportunity reservou para o futebol verba do seu principal fundo de investimentos, o mesmo utilizado na compra de nacos de empresas estatais leiloadas, como a Companhia Vale do Rio Doce, a Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais) e o porto de Santos.
Demarco não diz quanto o banco está disposto a investir, mas no mercado avalia-se que a soma disponível atinja a casa de centenas de milhões de reais, para a entrada em, no mínimo, três mercados: São Paulo, Rio e Bahia.
Há negociações com clubes de vários Estados, em alguns casos mais de um na mesma praça, e todos os dias o banco recebe telefonemas de dirigentes.
A Folha apurou que até grupos de oposição, como o do Vasco, liderado por Jorge Salgado e Olavo Monteiro de Carvalho, têm procurado o Opportunity.
O são-paulino Luís Demarco e a botafoguense Elena Landau não informam detalhes, mas apenas as linhas globais das negociações (leia texto nesta página).
Há outros bancos estudando -ou já negociando- a compra de clubes, como o Garantia (mesmo com a saída de Demarco), o Bozano,Simonsen, e, com muita discrição, o Icatu.
A ida de Luís Demarco para o Opportunity é emblemática da concorrência entre os bancos que querem "comprar o futebol".
Estudo encomendado pelo governo estipula em US$ 25 bilhões o potencial do mercado do esporte brasileiro, que movimentaria hoje US$ 800 milhões.
Nos EUA e na Itália, o esporte já representa mais de 3% do PIB (soma das riquezas produzidas pelo país). No Brasil, de acordo com o Ministério dos Esportes, 0,1%.
O desafio do futebol tem características semelhantes às da privatização, na opinião de Landau.
"Muitos achavam que só investimentos do Tesouro bastariam para resolver os problemas das estatais. Era um paliativo", afirma a ex-diretora do BNDES.
Para ela, co-gestão e contratos de patrocínio são paliativos para o futebol profissional, cujas potencialidades serão desenvolvidas com a transformação dos clubes em sociedades anônimas.
"Nas estatais, problemas políticos influenciavam as empresas, que resistiam à privatização, sem estímulos à produtividade. O futebol vai aprender a se comportar nesse processo de mudança."
O vice-presidente do Vasco, deputado Eurico Miranda (PPB-RJ), critica o que considera a "compra da paixão" por bancos.
Para o Opportunity, a torcida ganharia com times fortes e ídolos no Brasil, não no exterior.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.