São Paulo, domingo, 12 de novembro de 2000

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FUTSAL

Favorita para o título, seleção treina sob tensão provocada por briga entre fornecedores de material esportivo

Disputa pelos pés põe em risco hexa mundial do Brasil

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DO PAINEL FC

LUÍS SOUZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dilema sobre a ""propriedade" dos pés dos atletas atrapalha a preparação da seleção brasileira de futsal para o Mundial da Guatemala, que começa no sábado.
Apesar de 12 dos atletas terem contrato com outras empresas fornecedoras de material esportivo, eles serão obrigados a usar tênis Penalty na competição.
A determinação da Confederação Brasileira de Futebol de Salão contraria prática no esporte, que deixa aos jogadores a possibilidade de calçar o tênis ou a chuteira que lhes convier. O resto do uniforme, no entanto, é o fornecido pela empresa que tem contrato com o clube ou a federação.
Descontente com a imposição da CBFS, Fred Aniya, representante da Umbro, com cinco atletas do grupo sob contrato, mandou uma carta à entidade protestando contra a determinação.
""Entendemos que o atleta tem o direito de escolha do calçado que pretende usar sem que seja cerceado nesta liberdade que a lei lhe assegura", escreveu Aniya a Carlos Alberto Bittencourt, vice-presidente da confederação.
""Pela Lei Pelé, é direito do atleta escolher o tênis, mas como o contrato da confederação com a Penalty é anterior a ela, fica uma questão para os advogados resolverem. O que eu pergunto é: a cláusula de imposição é legal? Ao que nos parece, não", disse Christian Nagao, gerente da Umbro.
Legal ou não, para Bittencourt, o homem-forte da CBFS, apesar de ocupar o cargo de vice há 21 anos, quando foi fundada a entidade, não importa. ""Quem manda sou eu. Conquistamos cinco títulos mundiais porque aqui tem comando", avisou.
Em seguida, disparou a metralhadora, dizendo que os jogadores têm de fazer o que foi estabelecido e ponto final. Ninguém vai usar tênis com logotipo que não o da Penalty porque ""não deixo".
E aproveitou para criticar as concorrentes da empresa, concentrando na Umbro suas principais reclamações. ""Ela sabia da proibição antes de assinar contrato com os jogadores. Não pode chegar agora e reclamar."
Sobre Aniya, o representante da Umbro, chamou-o de ""aproveitador, um comerciante que só quer aparecer na semana do Mundial e tumultuar o ambiente".
E o clima, apesar de declaração em contrário do técnico Vânder Iacovino -""aqui ninguém sabia da polêmica"- foi de tensão nos últimos dias.
Um exemplo era Franklin, goleiro reserva patrocinado pela Umbro. Ele se mostrava ansioso para saber o resultado de reunião entre os fornecedores de material esportivo, que deveria ter acontecido anteontem, mas não ocorreu por divergências entre eles.
Outro era Manoel Tobias, principal atleta do Brasil, antes patrocinado pela Penalty, agora pela Umbro, que lamentava a situação. Apesar de dizer que ele faria o que fosse estabelecido pelas partes, não escondia a vontade de jogar com tênis Umbro.
O receio de perderem seus contratos individuais competindo com a marca Penalty deixou o ambiente tão carregado em Fortaleza, onde a seleção está se preparando para o Mundial, que Nike, Topper e Umbro entraram em contato com seus atletas e avisaram que, em hipótese alguma, serão eles os penalizados.
""A culpa não é dos jogadores. Eles terão todo o nosso apoio, independente da marca do tênis usada na Guatemala", disse Kátia Gianone, gerente de comunicação da Nike do Brasil. Topper e Umbro emitiram opiniões parecidas.
Lamentam que a questão tenha chegado aos atletas, que precisam de tranquilidade para o Mundial.


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