São Paulo, sábado, 12 de novembro de 2005

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Ninguém me ama, e eu não amo ninguém, diz Tyson, que chora

EDUARDO OHATA
DO PAINEL FC

"Ninguém me ama. Eu não amo ninguém." Foi assim que o norte-americano Mike Tyson, 39, sintetizou em entrevista à Folha seu comportamento beligerante, despertado na visita a São Paulo.
Durante o curso da entrevista, concedida na suíte presidencial do hotel em que o americano está hospedado, Tyson justificou seu comportamento ao afirmar ser um cara legal, que nunca estuprou ou matou. Vestido com camisa branca e calça jeans, acrescentou que às vezes quer ficar só.
O histórico de suas confusões é extenso. Vai desde um roubo que resultou em sua prisão aos 12 anos, passa por um período na prisão após ser condenado pelo estupro de Desiree Washington (que ele nega), até chegar a agressões a fotógrafos, em Cuba, e a um cinegrafista que o filmava em uma boate no meio de semana.
Após prestar depoimento ontem à tarde no Fórum Criminal da Barra Funda, o ex-lutador foi intimado a comparecer a nova audiência em março de 2006.
Nos 35 minutos em que durou a entrevista, o campeão mais jovem da história dos pesados, que em dado momento ficou com os olhos marejados, pediu por três vezes que fosse chamado de Mike.
Em meio à bagunça de malas abertas no chão de sua suíte, um pacote de camisinhas sobre uma cadeira e uma mesa coalhada de papéis, "Iron" Mike, que tem seis filhos, afirmou que não gostaria que eles fossem como ele. Disse não desejar que eles brutalizassem ninguém, como aconteceu com ele próprio quando criança.
Simpático, aproveitou a ausência de jornalistas para carregar crianças no colo, assinar autógrafos e, pacientemente, posar para fotos com visitantes e hóspedes do hotel no qual está hospedado, no bairro de Cerqueira César.
Tyson estava tão atencioso, que recebeu com bom humor duas provocações. Na primeira, ao ver a reportagem da Folha, perguntou: "O que está fazendo aqui?"
Riu ao ouvir a resposta: "Estou aqui para incomodar você mais um pouquinho". No dia anterior, chegara até a ameaçar agressão.
Depois de concluída a entrevista, já no lobby do hotel, recebeu com perplexidade "uma última questão": "Como é a potência de um soco de Mike Tyson?". Sorrindo, começou a fazer movimentos de sombra (simulação de luta), quando a reportagem apontou o punho na direção de seu rosto.
Com cartel profissional de 50 vitórias, 44 delas por nocaute, e seis derrotas, Tyson reafirmou que está aposentado. "Não consigo fazer as mesmas coisas de antes e não tenho mais "coração", fome, para participar de combates", disse.
"Não culpo ninguém, nem Don King, pelo que aconteceu comigo [em termos financeiros]. Nós lutadores deixamos toda a responsabilidade para os outros", disse.
"Nós, campeões dos pesos-pesados, somos uns idiotas. Morremos na miséria, sem amor, sem respeito. Veja o que aconteceu com John L. Sullivan, com Sonny Liston", completou, ao demonstrar conhecer a história do boxe.


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