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Ninguém me ama, e eu não amo ninguém, diz Tyson, que chora
EDUARDO OHATA
DO PAINEL FC
"Ninguém me ama. Eu não amo
ninguém." Foi assim que o norte-americano Mike Tyson, 39, sintetizou em entrevista à Folha seu
comportamento beligerante, despertado na visita a São Paulo.
Durante o curso da entrevista,
concedida na suíte presidencial
do hotel em que o americano está
hospedado, Tyson justificou seu
comportamento ao afirmar ser
um cara legal, que nunca estuprou ou matou. Vestido com camisa branca e calça jeans, acrescentou que às vezes quer ficar só.
O histórico de suas confusões é
extenso. Vai desde um roubo que
resultou em sua prisão aos 12
anos, passa por um período na
prisão após ser condenado pelo
estupro de Desiree Washington
(que ele nega), até chegar a agressões a fotógrafos, em Cuba, e a um
cinegrafista que o filmava em
uma boate no meio de semana.
Após prestar depoimento ontem à tarde no Fórum Criminal
da Barra Funda, o ex-lutador foi
intimado a comparecer a nova
audiência em março de 2006.
Nos 35 minutos em que durou a
entrevista, o campeão mais jovem
da história dos pesados, que em
dado momento ficou com os
olhos marejados, pediu por três
vezes que fosse chamado de Mike.
Em meio à bagunça de malas
abertas no chão de sua suíte, um
pacote de camisinhas sobre uma
cadeira e uma mesa coalhada de
papéis, "Iron" Mike, que tem seis
filhos, afirmou que não gostaria
que eles fossem como ele. Disse
não desejar que eles brutalizassem ninguém, como aconteceu
com ele próprio quando criança.
Simpático, aproveitou a ausência de jornalistas para carregar
crianças no colo, assinar autógrafos e, pacientemente, posar para
fotos com visitantes e hóspedes
do hotel no qual está hospedado,
no bairro de Cerqueira César.
Tyson estava tão atencioso, que
recebeu com bom humor duas
provocações. Na primeira, ao ver
a reportagem da Folha, perguntou: "O que está fazendo aqui?"
Riu ao ouvir a resposta: "Estou
aqui para incomodar você mais
um pouquinho". No dia anterior,
chegara até a ameaçar agressão.
Depois de concluída a entrevista, já no lobby do hotel, recebeu
com perplexidade "uma última
questão": "Como é a potência de
um soco de Mike Tyson?". Sorrindo, começou a fazer movimentos
de sombra (simulação de luta),
quando a reportagem apontou o
punho na direção de seu rosto.
Com cartel profissional de 50 vitórias, 44 delas por nocaute, e seis
derrotas, Tyson reafirmou que está aposentado. "Não consigo fazer
as mesmas coisas de antes e não
tenho mais "coração", fome, para
participar de combates", disse.
"Não culpo ninguém, nem Don
King, pelo que aconteceu comigo
[em termos financeiros]. Nós lutadores deixamos toda a responsabilidade para os outros", disse.
"Nós, campeões dos pesos-pesados, somos uns idiotas. Morremos na miséria, sem amor, sem
respeito. Veja o que aconteceu
com John L. Sullivan, com Sonny
Liston", completou, ao demonstrar conhecer a história do boxe.
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