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Clubes usam raio-x para achar "gatos"
Radiografias de pulso, coluna vertebral e bacia são as mais precisas para identificar a idade dos atletas e evitar fraudes
Segundo especialistas, as chamadas "linhas de crescimento", presentes em todos os ossos do corpo, somem depois dos 18 anos
JULYANA TRAVAGLIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um simples exame de raio-x
pode ajudar a evitar que novos
casos como o de Carlos Alberto
voltem a aparecer, pelo menos
enquanto os jogadores estiverem nas categorias de base.
A técnica, geralmente adotada por grandes clubes em clínicas particulares, parte de uma
radiografia do punho, da coluna vertebral ou da bacia. O exame revela a idade óssea da pessoa -nível de maturação dos
ossos- e dá pistas valiosas sobre o potencial de crescimento.
Na última terça, a Folha revelou que Carlos Alberto, volante do Figueirense e um dos
destaques da equipe no Brasileiro, adulterou seus documentos em cinco anos. O "gato" tem
28 anos, e não 23, como dizia.
"Dependendo da linha de
crescimento, você determina a
idade. Até os 14 anos, elas são
conservadas. Depois, começam
a se consolidar", explica Joaquim Grava, médico do Santos.
A linha aparece no raio-x, na
extremidade do osso. Quanto
mais "larga" ela estiver, mais
jovem é a pessoa. Após os 18
anos, vai sumindo até tornar-se
quase imperceptível. Depois
dos 30, a linha praticamente
desaparece da radiografia.
"Quando você tem o seu
crescimento ósseo parado, não
crescerá mais na estatura",
afirma. Ele explica que a radiografia do punho é a mais precisa porque, além da linha de
crescimento, permite a especialistas a análise do tamanho
dos oito ossos da região.
Apesar de ser uma técnica
simples e de custo não muito
elevado -uma radiografia custa, em média, R$ 50-, o exame
de idade óssea é feito somente
em um caso específico: quando
existe alguma desconfiança de
que o atleta não tem a idade
que declara nos documentos.
"Não é uma regra dentro do
clube. Esse exame é feito mais
para que tenhamos um controle do crescimento e do desenvolvimento do atleta", afirma
Turíbio Leite de Barros Neto,
fisiologista do São Paulo.
Ele diz que a dúvida não surge a partir do rendimento do
jovem atleta em campo, mas
sim no momento em que o garoto é submetido às avaliações
médicas, quando será registrado no clube. "Suponha que um
garoto tenha 13 anos no documento, mas apresente características físicas de puberdade
[fase de transição entre a infância e a idade adulta] ou maturação sexual [período de desenvolvimento dos testículos, órgãos de reprodução e caracteres sexuais secundários]",
exemplifica. "Se existir esse tipo de dúvida, o menino passará
pelo exame."
Além dessas características
biológicas, outro ponto que leva os clubes a realizar o exame
é a origem do atleta, como afirma Rodrigo Caetano, coordenador das categorias de base do
Grêmio. Ele diz que os Estados
campeões em "gatos" estão no
Norte e no Nordeste.
Para ele, o fato de muitos garotos oriundos dessas regiões
serem pobres faz com que acabem alterando as idades apresentadas nos documentos.
"Isso é cada vez mais corriqueiro. A ânsia familiar e os
empresários, que não medem
esforços para burlar as leis, fazem com que isso aconteça.
Por isso, nós acabamos até fazendo pesquisas em cartórios
de registros e escolas, além do
exame ósseo", justifica.
Embora haja uma tentativa
de fiscalização, Caetano acredita que as entidades são "vítimas" dessa situação. "Nós não
somos polícia. Não tem como
virarmos órgão fiscalizador.
Somos vítimas de pessoas que
querem se aproveitar dos garotos para conseguir dinheiro."
Colaborou RENAN CACIOLI, da Reportagem
Local
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