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LEGISLAÇÃO
Medida provisória anunciada deve acabar com isenção do IR, a vantagem fiscal dos clubes tradicionais
FHC 'empurra' clube a virar empresa
MARCELO DAMATO
da Reportagem Local
A medida provisória que acaba
com a isenção de Imposto de Renda de clubes esportivos no Brasil, a
ser editada nos próximos dias pelo
governo federal, poderá empurrar
vários deles rumo à transformação
em empresa.
Sem a isenção, que deve vigorar a
partir de 1º de janeiro do próximo
ano, os clubes perdem o maior benefício financeiro para manter a
atual situação jurídica, de sociedade sem fins lucrativos.
A medida provisória vai alterar
até mesmo o rumo da tramitação
do projeto de lei Pelé no Congresso
Nacional.
O projeto ainda está na comissão
especial que deve votá-lo até o dia
26, segundo acordo firmado pelos
líderes partidários.
O presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB-SP),
prometeu fazer a votação diretamente em plenário se o prazo for
descumprido.
"A medida provisória vai facilitar a discussão sobre o clube-empresa. Se acaba a questão tributária, já que todo mundo vai ter que
pagar imposto, a discussão fica
mais fácil", afirmou o deputado
Tony Gel (PFL-PE), relator da comissão especial que analisa o projeto Pelé.
A transformação compulsória
dos clubes ou de seus departamentos de esporte profissional em empresas é o ponto mais polêmico do
texto enviado pelo ministro dos
Esportes, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, em setembro.
Os objetivos do ministro com esse artigo foram o de atrair investidores para o esporte, tornar a administração dos clubes mais transparente e obrigá-los a pagar impostos.
Terceira via
"Mudou completamente o eixo
da discussão", reconhece o presidente do Clube dos 13, Fábio Koff.
Ex-presidente do Grêmio no
quadriênio 93-96, Koff tornou-se
famoso por implantar gestão empresarial no clube, mas, nos últimos meses, firmou-se como um
dos mais ferrenhos opositores à
transformação compulsória dos
clubes em empresa.
Segundo ele, os clubes deveriam
ter o direito de escolher o melhor
momento para fazer essa mudança, com o objetivo de se associarem aos investidores em melhores
condições.
Com a medida provisória, terão
que fatalmente optar por uma das
maneiras da transformação. Segundo ele, o essencial é preservar
"seu caráter de expressão cultural
de uma comunidade".
Pelo projeto de lei, os clubes têm
dois caminhos: virar empresas como um todo ou cindir seu departamento profissional e transformá-lo em empresa.
Koff, que é advogado, sugere
uma terceira via: "Poderia ser permitido que eles virassem sociedades civis com fins econômicos, como são por exemplo os escritórios
de advocacia".
Essa proposta já tem apoio do relator. "Também acho que é um
caminho. Já comentei isso numa
reunião com o Pelé."
Ao contrário do que acha do
projeto Pelé, Koff não considerou
autoritário o pacote de medidas
anunciado pelo governo.
"Neste momento que o país vive, todos devem dar sua contribuição. A posição em relação a essas
medidas é até mesmo uma questão
de nacionalismo, de patriotismo."
Problemas
O advogado Aires Barreto, especialista na área tributária, disse
que o governo está mexendo num
"vespeiro".
"Por definição, uma entidade
sem fins lucrativos não tem lucro,
e o Imposto de Renda é sobre o lucro. É muito complicado esse negócio de transformar uma entidade sem fins lucrativos numa com
fins lucrativos."
Uma das questões mais importantes seria o mecanismo de transformação dos clubes em empresas.
"Quem serão os titulares dessa
empresa? Ninguém sabe. Não é tão
simples como achar que cada sócio patrimonial terá direito a uma
cota."
Segundo ele, há um risco grande
de haver "manipulações". "Num
clube, os dirigentes podem fazer
aprovar uma mudança no estatuto
que dá a eles cinco cotas. Podem
até ficar donos de toda a empresa.
Essa questão é areia movediça."
Pôr na MP uma regra única para
todos os clubes poderia, segundo
ele, ser interpretado como violação ao direito constitucional de associação.
A única solução que ele viu, na
entrevista à Folha, foi equiparar os
clubes às empresas apenas para
fins de IR. "Seria uma ficção jurídica, como já existem outras na legislação do IR."
Dessa maneira, os clubes seriam
tributados sobre o superávit como
se fosse lucro.
A medida provisória não só deve
acabar com a desvantagem fiscal
dos clubes-empresa em relação
aos tradicionais, como também
pode inverter a situação.
Clubes com pouca receita, que
são a maioria das 501 entidades de
futebol profissional do país, poderão tentar se encaixar nas regras
que regem pequenas empresas ou
optar por pagar IR sobre o lucro
presumido.
Mas os clubes grandes, como os
que disputam a Série A do Brasileiro de futebol, devem ultrapassar o
limite para essa opção.
O presidente do Grêmio, Luís
Carlos Silveira Martins, o Cacalo,
afirmou que seu clube provavelmente terá de pagar impostos. Segundo ele, no último semestre, o
Grêmio registrou superávit de R$
8 milhões.
Como a alíquota é de 25%, o imposto a pagar seria de R$ 2 milhões, caso a MP estivesse em vigor.
"Uma das soluções será reaplicar todo o dinheiro antes do final
de cada exercício."
Mas a Folha apurou que, para a
Receita, certos gastos não podem
ser computados como despesa,
mas sim como investimento no
patrimônio do clube. E, dessa maneira, o IR seria cobrado do mesmo jeito.
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