São Paulo, Domingo, 12 de Dezembro de 1999


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AUTOMOBILISMO
TV digital vai lançar canal exclusivamente dedicado à intimidade dos 22 pilotos da categoria
F-1 ganha "coluna social" no ano 2000

da Reportagem Local

Depois de invadir a intimidade dos carros de F-1, a TV digital se prepara para escancarar a vida dos pilotos a partir do ano 2000.
No pacote oferecido na Europa aos assinantes da FOA TV para o próximo Mundial estará incluído um canal exclusivamente dedicado a mostrar o dia-a-dia dos 22 homens que fazem a categoria.
Quem sintonizar o canal poderá, por exemplo, se deparar com o brasileiro Ricardo Zonta fazendo ginástica em uma academia. Com o austríaco Alexander Wurz pedalando sua mountain bike. Ou o campeão mundial Mika Hakkinen preparando um Kalakukko, prato típico finlandês, que mistura peixe e carne de porco.
O objetivo dos executivos da categoria é criar uma espécie de coluna social televisiva e ininterrupta. E, claro, ganhar audiência e aumentar a receita publicitária com a curiosidade -e o frisson- que os pilotos despertam há décadas.
Além disso, o canal ainda executará uma função prática, ajudando a viabilizar a implantação da TV digital: preencherá a grade de programação, até agora deficiente e quase restrita às atividades dos fins-de-semana de GPs.
Todos os pilotos já foram notificados sobre a implantação do canal, por meio de um fax enviado a seus empresários em meados de outubro. A carta é clara: os 22 estão convocados a colaborar, abrindo as portas de suas casas.
A idéia de apresentar visões diferentes da F-1 é um dos pilares da FOA TV. Desde que foi lançada, a emissora do empresário inglês Bernie Ecclestone, homem forte da categoria, tenta atrair clientela e grandes anunciantes explorando justamente esse filão.
Neste ano, por exemplo, durante o GP de San Marino, em Imola, na Itália, uma minicâmera foi instalada em um dos braços da suspensão da Ferrari de Michael Schumacher. Um ângulo inusitado, para mostrar a operação do equipamento e levar ao delírio os mais fanáticos fãs da F-1.
Outra estratégia utilizada pela FOA TV foi empobrecer as transmissões da TV aberta, para que os fãs dos países onde ela já opera passassem a assinar seus serviços.
A queda de qualidade na transmissão foi perceptível ao longo do Mundial em todos os países onde a TV digital não está implantada -caso do Brasil. Em vez do antigo "show de imagens" propalado pelos narradores, com seis mini-câmeras instaladas nos carros, apenas uma. Ângulos convencionais e tomadas gerais dos circuitos tornaram-se mais comuns do que as cenas dos boxes, mostrando o trabalho das equipes.
A medida foi duramente criticada na Inglaterra, país que realizou a primeira corrida de F-1, há 50 anos, mas que ainda não conta com a FOA TV.

Bolsa
A receita que a FOA (Formula One Administration, empresa que comanda comercialmente a categoria) vem obtendo com sua TV está sendo usada para formar um lastro que viabilize a entrada da F-1 nas Bolsas de Valores.
Há anos, Ecclestone vem tentando lançar as ações da categoria no mercado. Enfrentou duas grandes dificuldades. Primeiro, a desconfiança de Karel van Miert, executivo belga, diretor de competitividade da União Européia.
Depois, a própria demora para que a FOA TV decolasse -hoje, só alcança relativo sucesso na Alemanha e ainda enfrenta resistências em países como a Itália.
Ao fim da temporada deste ano, Ecclestone, enfim, cedeu.
Vendeu 12,5% da FOA para o fundo Morgan Grenfell Private Equity, braço do Deutsche Bank.
O banco alemão teria ainda assegurado com o empresário prioridade para comprar outros 37,5% da FOA, tornando-se proprietário de metade da categoria.
A primeira intenção do banco, já divulgada, será avançar sobre a Internet, um mercado ainda não explorado pela FOA.
Se obtiver sucesso, pode relegar a TV de Ecclestone a um segundo plano nas prioridades da F-1. E Hakkinen terá cada vez menos audiência para mostrar como se prepara um Kalakukko.


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