São Paulo, sábado, 13 de janeiro de 2001

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ADHEMAR FERREIRA DA SILVA (1927-2001)

Morre o maior atleta da história olímpica nacional



Medalha de ouro nos Jogos de Helsinque-52 e de Melbourne-56 na prova do salto triplo, único bicampeão brasileiro em Olimpíadas não resistiu a parada cardíaca

Agência O Globo
O único campeão olímpico brasileiro, Adhemar Ferreira da Silva, que morreu ontem em São Paulo, é observado durante salto




ADALBERTO LEISTER FILHO
EDGARD ALVES
FERNANDO ITOKAZU
DA REPORTAGEM LOCAL

País com poucos heróis olímpicos, o Brasil perdeu ontem seu único bicampeão. Adhemar Ferreira da Silva, ex-recordista mundial do salto triplo, morreu aos 73, na manhã de ontem, de parada cardíaca, no hospital Santa Isabel, região central de São Paulo.
A morte de Adhemar aconteceu menos de dois anos depois da de João Carlos de Oliveira, outro brasileiro ex-recordista da prova. João do Pulo, como era conhecido, morreu no dia 29 de maio de 99 devido a uma falência de múltiplos órgãos, causada por cirrose hepática e infecção generalizada.
Filho de um ferroviário e de uma lavadeira, Adhemar nasceu em 29 de setembro de 1927 num porão da rua Casa Verde, na zona norte de São Paulo.
Começou no atletismo com cerca de 19 anos de idade, na equipe do São Paulo FC, que, na época, tinha sua praça de esportes no bairro do Canindé. A equipe de atletismo era comandada pelo técnico Dietrich Gerner e pelo auxiliar Paulo Resende. Inicialmente, experimentou um rodízio de provas (corridas de 100 m a 1.500 m, saltos em altura e em distância).
Certo dia, viu o capitão da equipe de atletismo do São Paulo, Ewaldo Gomes da Silva, treinando salto triplo, prova que desconhecia. Curioso, pediu explicações e, a seguir, fez um teste.
Ewaldo não falou nada. Imediatamente, foi chamar o técnico Gerner, que pediu uma repetição: novo salto de 12,80 m.
Três dias depois, em sua primeira competição (São Paulo x Floresta, que é o atual Clube Espéria), marcou 13,05 m. Nascia ali um fenômeno do atletismo.
O triunfo olímpico não chegou nos Jogos de Londres, em 1948 -a Europa organizava sua primeira Olimpíada após a Segunda Guerra. O destaque brasileiro no salto triplo foi Geraldo de Oliveira, que marcou 14,82 m. Ficou com a quinta colocação.
Nervoso diante da torcida que lotava o estádio, algo que nunca vira no Brasil, Adhemar conseguiu a marca de 14,49 m e ficou apenas em oitavo lugar.
Quatro anos depois, mais amadurecido, Adhemar iria iniciar sua glória olímpica. Aos 25 anos, disputou os Jogos de Helsinque-52, na Finlândia. Deu seis saltos, quebrou quatro vezes o recorde mundial, que já pertencia a ele próprio, e ganhou a primeira medalha olímpica do atletismo brasileiro, com a marca de 16,22 m.
Foi o segundo ouro do país, que não conquistava o lugar mais alto do pódio desde os Jogos da Antuérpia, em 1920, quando o atirador Guilherme Paraense venceu na pistola de tiro rápido.
Ovacionado pelo público, Adhemar fez uma volta completa ao redor do estádio. Se não inaugurou a volta olímpica -a iniciativa fora da seleção uruguaia campeã do torneio de futebol dos Jogos de Paris-24-, a comemoração de Adhemar ao menos foi incomum para atletas vencedores em esportes individuais.
Quatro anos depois, em Melbourne, na Austrália, repetiu a conquista e quebrou o recorde da competição, com 16,35 m.
Pouco antes da prova, Adhemar percebeu um grupo de estudantes que se agitava no alambrado. Caminhou até eles e foi recebido com admiração. O brasileiro conquistou os estudantes, que, em retribuição, torceram por ele.
Ao todo, Adhemar bateu o recorde mundial do salto triplo sete vezes, além de ter sido pentacampeão sul-americano, tricampeão pan-americano e dez vezes campeão brasileiro. Conquistou mais de 40 títulos internacionais.
Adhemar também teve êxito fora das pistas. Formou-se em artes, educação física, direito e relações públicas. Falava seis idiomas -inglês, francês, alemão, italiano, espanhol e português- e foi adido cultural na Nigéria de 1964 a 67, após abandonar a carreira.
No ano passado foi a Sydney, onde assistiu à Olimpíada. Ficou hospedado na casa do casal Rosemary e Wilfred Mula, seus fãs. Em Melbourne, Rosemary estava entre o grupo de estudantes que torcera pelo sucesso do brasileiro.
Atualmente, era membro da Comissão de Atletas do Ministério do Esporte e Turismo.



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