São Paulo, sábado, 13 de janeiro de 2001

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MOTOR

Era Ferrari

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

Um leitor reclamou quando a coluna descreveu o jejum ferrarista como duas décadas de bagunça e incompetência.
Pois a Ferrari tem na temporada deste ano a chance de provar que alcançou de fato a maturidade que uma equipe de F-1 precisa ter para suportar os altos e baixos do esporte -maturidade, por exemplo, que fez a McLaren se tornar o melhor time do final dos anos 90 após um período de franca decadência; que está fazendo a Williams ressurgir das cinzas, agora; e que a Renault pretende demonstrar quando encampar definitivamente a Benetton.
Uma cláusula no contrato de Michael Schumacher será responsável por esse que pode ser o grande teste do que o alemão gosta de chamar de "era Ferrari", que ele vem prometendo levar a cabo neste e nos próximos anos.
O documento expira apenas no final da próxima temporada. Mas, segundo foi revelado nesta semana, um segundo título com a escuderia italiana valeria ao alemão passe livre imediato.
Ou seja, como não é pequena a chance de Schumacher ser tetracampeão na temporada que começa em março, a Ferrari terá que se desdobrar durante o ano para obter uma renovação de contrato ou, hipótese absurda, torcer para que seu melhor homem fracasse no campeonato.
E perder um piloto como Schumacher é prejuízo duplo para os italianos, já que, além de não contar com seus serviços, terão que correr contra o próprio.
Com passe livre, o alemão seria disputado a bala por duas fabricantes que já trabalharam com ele e conhecem seu potencial -a Mercedes, responsável por sua estréia na categoria, e a Renault, com a qual obteve o acachapante bicampeonato em 1995.
Luca Montezemolo há tempos se dedica a essa renovação. Da mesma forma, o piloto se esforça nas entrevistas para expressar seu desejo de permanecer em Maranello. As ofertas são vultosas, algumas até prevendo emprego vitalício para o alemão na equipe.
Só que Schumacher e seu staff sabem fazer contas, e o acordo pode se tornar inviável. Afinal, o sujeito já ganha um salário surreal, US$ 40 milhões anuais.
Um piloto vale tanto dinheiro? É a primeira pergunta que os italianos vão fazer. E quanto uma Mercedes, ávida por colocar finalmente um germânico em sua "flecha de prata", deveria pagar? Será a primeira resposta que qualquer alemão vai querer ouvir.
Essas e outras especulações vão sobrevoar a temporada deste ano, tendo como norte o desempenho do alemão na pista.
E uma delas os ingleses já tratam de propagar -por motivos considerados óbvios-, uma mais do que duvidosa intriga interna em Maranello que acabaria por beneficiar Rubens Barrichello.
Segundo o boato, a Ferrari trabalharia para o brasileiro neste ano para reter Schumacher por mais uma temporada e baixar sua cotação no mercado -sim, a F-1 é terreno fértil para fantasias.
A história pode ser inverossímil, mas dá o tom da temporada, que poderá ter um forte ingrediente de bastidores.
Enfim, o alemão vai ter 50 luas para responder se deu mesmo início à "era Ferrari" ou a uma "era Schumacher" na F-1.

Dividendos
Segundo a SRI, agência de pesquisa internacional ligada à ISL, a Ferrari ocupou mais da metade das transmissões de TV da F-1 em 2001, 54,9% do total. De acordo com a empresa, o equivalente a US$ 3 bilhões em espaço publicitário. Dado curioso, a Jordan, apesar de apenas sexta colocada no Mundial de Construtores, ganhou mais exposição que Williams e BAR, terceira e quinta colocadas.

Prejuízos
A recém-empossada administração da cidade de São Paulo se assustou com o autódromo de Interlagos que encontrou a menos de três meses do GP Brasil, como se isso fosse alguma novidade no início de cada ano. Interlagos é um problema bem mais complexo que infiltrações e furto de louça sanitária. Mais do que indignação, o autódromo precisa é de um sério plano de recuperação. E-mail : mariante@uol.com.br

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