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"A administração
dele ainda está
sob investigação"
Folha - Em seu discurso de posse, o sr. afirmou que teria orgulho
de dizer a seus netos que Eduardo
José Farah "corajosamente ousou e
criou o que nenhum outro presidente do mundo do futebol o fez".
Passados cinco meses, qual avaliação o sr. faz de seu antecessor?
Marco Polo Del Nero - Ele viveu
uma época de ouro, com grandes
negócios, grandes campeonatos.
Faço elogios a 13 dos 15 anos de
sua administração. Nos dois últimos, foi péssimo. Ele devia ter tomado providências para evitar
déficits seguidos em 2002 e 2003.
Só quando eu assumi é que soube da situação. Cobrei isso dele
ontem [quinta]: "Como você não
viu isso?". Ele não respondeu.
Quando o Rogério Caboclo [vice
financeiro] mostrou a situação,
nós nos assustamos e resolvemos
cortar gastos [em R$ 6,2 milhões].
Folha - Mas o sr., como vice, não
deveria ter ciência da situação?
Del Nero - Ele não passava as finanças para mim.
Folha - Mas o Reynaldo Carneiro
Bastos era vice de finanças...
Del Nero - Mas na FPF não tinha
duas pessoas. Tinha uma só. Só
ele, Eduardo José Farah. Ele era o
grande comandante com tudo o
que fez e pelos erros que cometeu.
Folha - Como foi o processo de renúncia? Ele disse que você não
cumpriu o que estava apalavrado.
Del Nero - Ele comete um grande
equívoco. Antes de ele se candidatar novamente [em outubro de
2002], ele teve uma reunião comigo e com o Reynaldo e perguntou
se nós já tínhamos nos acertado.
Nós conversamos bastante e decidimos que ele escolheria. Poucos
dias antes das eleições, ele pediu
uma reunião. Para surpresa nossa, disse que era candidato novamente. Alegou que queria fazer
uma transição mais tranquila.
Depois, quis sair. Disse que estava cansado do futebol. Mas é evidente que ele não tinha todo o domínio do futebol brasileiro, muita
gente contestava a presença dele.
Não tinha um relacionamento
com a Globo, com a CBF, com o
Corinthians. Ele, sentindo tudo
isso, preferiu sair.
Folha - Em sua posse, o sr. disse
que o contrataria como consultor.
Mas isso não vingou. Por quê?
Del Nero - Ele já foi cortado. Não
perguntei se ele gostou ou não. Eu
penso na FPF. O vice financeiro
me abriu os olhos. Não brincamos com o dinheiro dos outros,
com o que pertence aos clubes.
Folha - O sr. tinha um relacionamento cordial com seu antecessor.
A que se deve a mudança de postura de Farah? Vê relação com o fato
de não tê-lo mantido como consultor e de ter demitido uma filha dele
e tirado o salário de outro filho?
Del Nero - Isso você tem que perguntar para ele. O que eu acho é
que o presidente da FPF, não o
Marco Polo, tem que ter total cuidado com as coisas que ele dirige.
Tem que ter transparência total,
tem que ter uma relação próxima
a todos os filiados, tem que ter boa
relação com os companheiros das
demais federações porque não
podemos ficar isolados, temos
que nos dar bem com a CBF, com
a Globo, fazer disso uma grande
família. É obrigação do presidente
da FPF fazer isso.
Folha - Quais as diferenças de sua
gestão para a anterior?
Del Nero - São essas que eu acabei de dizer, principalmente a
transparência. Todos os presidentes de clubes, desde o mais importante da Série A-1 até um presidente de um time da B-2, todos
merecem o meu respeito. Eu converso com todos eles, recebo todos. Não havia isso antes. Tem dirigente que nunca o conheceu. Ele
errou também na parte política.
A Liga Rio-SP, que ele presidiu,
matou o futebol do interior. Temos que analisar ainda que a FPF
está sob investigação da Receita
Federal e da Justiça, que vão apurar se a administração dele está ou
não em ordem com a legislação
do nosso país. Só vamos saber se
ela foi boa daqui a algum tempo.
Folha - O Farah previu que este
não será um grande Paulista por
causa do número de clubes, 21. O
sr. concorda?
Del Nero - Ele realmente tem razão. E é uma herança deixada por
ele. Por isso, em 2005 vai ter só 20.
Folha - Ele afirmou que volta à
FPF quando quiser, que o mandato
ainda é dele. Procede?
Del Nero - Se ele entender que
definitivo é a mesma coisa que
transitório, ele tem razão. Juridicamente não pode. O afastamento
dele foi definitivo.
Folha - Disse ainda que existem
personagens que ficam ligados para sempre às entidades ou países
que dirigiram, por mais que os sucessores tentem apagá-los.
Del Nero - É verdade. Mas... e na
Alemanha? (pausa) Quem ficou
marcado foi Hitler. Na União Soviética? Stalin. E, no Iraque, foi o
Saddam Hussein.
Folha - Ele está mais para Hitler,
Saddam, Churchill ou Havelange?
Del Nero - Prefiro não dizer.
Folha - O sr. tem outras pretensões no futebol?
Del Nero - Sou uma pessoa que
vai lutar para estar no lugar quando as coisas não estiverem bem.
Não quero um lugar onde as coisas estejam caminhando bem, como na CBF. Quero só terminar
meu mandato. Sou advogado, tenho profissão definida.
Folha - Está se referindo ao Farah? Ele é advogado também...
Del Nero - A diferença é que eu
sou militante. Há 37 anos.
Folha - O sr. ainda é advogado
particular dele, não?
Del Nero - Sou.
Folha - E continuará?
Del Nero - Não estou brigado
com ele. Ele está brigado comigo?
Existe o Marco Polo advogado,
existe o Marco Polo amigo e existe
o Marco Polo presidente da FPF.
Enquanto ele estiver à vontade e
eu também, continuamos. Se não,
ele pede subestabelecimento, e a
vida segue normalmente.
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