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A exclusividade do técnico para a seleção
ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas
O nosso futebol, aquele de primeiro time, de Copa do Mundo, é uma diáspora. Estamos
espalhados por esse mundão
afora, e só o trabalho de colher
imagens de nossos craques
diante da TV, sem sair de casa,
a cada rodada, já justificaria
um técnico exclusivo para a seleção.
Pegue-se um domingo desses,
em que estamos de férias à espera do Rio-São Paulo, um torneio esquenta-motores. Se o
amigo dispuser dos serviços das
TVs por assinatura, acabará
varando a madrugada, desde a
hora do almoço, para assistir
tudo o que nos oferecem. E tudo,
ou quase tudo, de interesse vital
para um treinador da seleção
brasileira que queira estar realmente ligado em seu tempo.
Mas só isso não basta. É preciso que o sujeito saia por aí, trocando idéias com outros treinadores de nível internacional,
acompanhando de perto os treinamentos deste ou daquele futuro convocável, colhendo informações de cocheira sobre o
craque que surge, indo aos estádios, que é onde se vê com maior
amplitude os esquemas táticos e
a movimentação dos jogadores
quando não estão de posse da
bola.
Enfim, se o técnico quiser mesmo ser um profissional moderno, dedicado, curioso e eficiente, tem muito trabalho pela
frente. Tanto que dividi-lo com
a preparação de um time de
ponta seria mais do que uma
imprudência. Seria burrice.
E Luxemburgo pode ser chamado de muita coisa, menos de
burro, né?
Pelo que eu me lembre, o último treinador da seleção brasileira que acumulava a direção
de um clube e da seleção foi
Cláudio Coutinho, prática herdada de Zagallo e muito comum nos anos 40 e 50, com esta
ou aquela exceção.
Coutinho tocava o Flamengo
-aquele mesmo Flamengo que
viria a ser campeão do mundo,
sob o comando de Carpegiani-
, além da seleção, logo depois da
Copa de 78, quando Giulite
Coutinho assumiu a recém-
criada CBF, até então CBD. E
Giulite queria porque queria
cumprir a pauta que a crônica
esportiva exigia para moralizar
e organizar o futebol brasileiro,
conduzido ao caos pelo ex-presidente, o almirante Heleno Nunes, aquele da frase célebre:
"Onde a Arena vai mal, um time no Nacional".
Um dos itens era o que falava
da necessidade de termos um
técnico exclusivo na seleção.
Cláudio Coutinho, o profissional de futebol mais inteligente e
bem preparado com quem cruzei nestas últimas três décadas
(Saldanha era cintilante, mas
despreparado emocionalmente), concordava com a tese, mas,
na prática, não podia assumi-
la. E tinha lá suas razões. Afinal, sofrera a mais intensa e
cruel campanha da imprensa
quando assumiu no lugar de
Brandão, durante as eliminatórias para a Copa da Argentina,
sob o forte argumento de que,
embora tivesse sido treinador
da seleção do Peru e do Olympique de Marselha, jamais havia
dirigido um time brasileiro.
"Se eu não for campeão com
um time, não vão me deixar em
paz. E, com o Flamengo, vou ser
campeão do mundo, cara. Depois, fico só na seleção." Foi
campeão carioca, brasileiro e
da Libertadores, mas a seleção
escapou-lhe das mãos muito
antes, em nome da coerência.
E a coerência teve um nome:
Telê. É preciso ir além?
²
Alberto Helena Jr. escreve aos domingos, às segundas e às quartas-feiras
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