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São Paulo, quinta-feira, 13 de fevereiro de 2003

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FUTEBOL

Utilidade zero

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Mais um jogo esquecível da seleção brasileira, como era de se esperar. Nem o fato de ser estréia do Parreira me entusiasmou. Seria interessante analisar o seu desempenho no primeiro jogo, mas era óbvio que o técnico não poderia ter desempenho nenhum, bom ou ruim, que fosse passível de uma análise justa.
O problema não era só a fragilidade ou a insignificância do adversário no cenário do futebol. Se a Argentina ou a Itália ficassem tão longe, também seria inútil marcar o jogo. O que avaliar em uma seleção reunida de última hora, depois de uma viagem muito cansativa (eloquentes, as olheiras de Gilberto Silva!)? Parreira não teve tempo para qualquer coisa que equivalesse mais ou menos a montar e orientar um time.
Acho que o maior mérito do técnico foi ter admitido, implicitamente, que o jogo não serviria para nada. Não seria nesse encontro-relâmpago que ele formaria uma opinião sobre os jogadores que pretende aproveitar nas eliminatórias. Por isso deu preferência aos que atuam na Europa, sem se preocupar com as boas promessas surgidas no Brasil.
Kaká, por exemplo, foi poupado porque já havia trocado férias e pré-temporada (dois luxos, parece) pela disputa de um torneio que também não era uma preparação pra valer (sabemos que aquela não é verdadeira seleção olímpica). Diego e Robinho, entre outros, também não deveriam estrear na seleção em jogo tão esdrúxulo. Eles se cansariam e desfalcariam seus times praticamente à toa, como aconteceu com os que estiveram lá: Luisão foi bem? Foi. Mas o que isso prova? (Anderson Polga já estava testado. Quanto a Julio César... Espero que tenha gostado da viagem).
O que vimos em campo foram algumas boas idéias, por certo iniciativas dos próprios jogadores (impossível pensar em jogadas ensaiadas), mas mal executadas -um passe comprido demais, uma trombada entre dois meias tentando fazer a mesma coisa, a falta de pernas para alcançar um bom lançamento. Não os culpo.
A transmissão da Globo, normalmente acusada de ser ufanista e conivente com as presepadas da CBF (acusação muitas vezes injusta), foi bastante crítica. Mas as críticas também batiam cabeça -uma hora, Galvão Bueno dizia que os jogadores tinham de fazer graça para justificar o cachê pago pelo "espetáculo" e aprovava até um passe para fora do campo, desde que fosse de letra. Em outro momento, cobrava empenho, jogo sério e luta por lugar no time.
Seu papel não é mesmo fácil, mas nessa hora poderia valer o conceito "menos é mais". A narração do Galvão é editorializada demais, com comentários e julgamentos o tempo todo -cada toque na bola é aprovado ou desaprovado. Quando a avaliação não é explícita, está embutida. Se o Denílson erra um passe, ele diz que "a bola escapou", e o jogador é absolvido pelo chute torto. Se alguém com menos prestígio ou popularidade recebe uma bola quadrada, verdadeira tijolada na canela, ele diz: "Fulano se atrapalha todo e não consegue o domínio".
Não é má intenção, ele não está tentando valorizar um jogador e derrubar o outro. É só o seu estilo, o ímpeto de ser o porta-voz do torcedor brasileiro. Mas eu gostaria muito mais que ele deixasse o jogo rolar, interferindo menos, sendo menos o árbitro do nosso juízo. Às vezes ele deixa, mas é só quando começa a falar de outra coisa. E o jogo de ontem foi tão sem graça que até sobrou assunto.

Por outro lado...
Brilhante a abertura do "Globo Esporte": "Parabéns à seleção por aderir à campanha contra a fome, mas a gente não quer só comida... Quer diversão e arte".

Finanças
Já que a CBF continua tendo prejuízo, apesar dos altos cachês da seleção e da excelente administração de Ricardo Teixeira, por que não cortar umas despesas? Não seria melhor convocar apenas 18 jogadores para uma viagem em que mal cabe um treino?

Não falei das flores
A tabela do Brasileiro merece elogios: primeiro, por ter sido divulgada com antecedência maior. Segundo, por marcar jogos às 17h no verão (melhor que nada) e se lembrar do Círio de Nazaré antes de marcar um jogo em Belém. Terceiro, por não incluir os rebaixados, talvez o mais importante.

E-mail
soninha.folha@uol.com.br


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