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FUTEBOL
Utilidade zero
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Mais um jogo esquecível da
seleção brasileira, como era
de se esperar. Nem o fato de ser estréia do Parreira me entusiasmou. Seria interessante analisar o
seu desempenho no primeiro jogo, mas era óbvio que o técnico
não poderia ter desempenho nenhum, bom ou ruim, que fosse
passível de uma análise justa.
O problema não era só a fragilidade ou a insignificância do adversário no cenário do futebol. Se
a Argentina ou a Itália ficassem
tão longe, também seria inútil
marcar o jogo. O que avaliar em
uma seleção reunida de última
hora, depois de uma viagem muito cansativa (eloquentes, as olheiras de Gilberto Silva!)? Parreira
não teve tempo para qualquer
coisa que equivalesse mais ou menos a montar e orientar um time.
Acho que o maior mérito do técnico foi ter admitido, implicitamente, que o jogo não serviria para nada. Não seria nesse encontro-relâmpago que ele formaria
uma opinião sobre os jogadores
que pretende aproveitar nas eliminatórias. Por isso deu preferência aos que atuam na Europa,
sem se preocupar com as boas
promessas surgidas no Brasil.
Kaká, por exemplo, foi poupado
porque já havia trocado férias e
pré-temporada (dois luxos, parece) pela disputa de um torneio
que também não era uma preparação pra valer (sabemos que
aquela não é verdadeira seleção
olímpica). Diego e Robinho, entre
outros, também não deveriam estrear na seleção em jogo tão esdrúxulo. Eles se cansariam e desfalcariam seus times praticamente à toa, como aconteceu com os
que estiveram lá: Luisão foi bem?
Foi. Mas o que isso prova? (Anderson Polga já estava testado.
Quanto a Julio César... Espero que
tenha gostado da viagem).
O que vimos em campo foram
algumas boas idéias, por certo
iniciativas dos próprios jogadores
(impossível pensar em jogadas
ensaiadas), mas mal executadas
-um passe comprido demais,
uma trombada entre dois meias
tentando fazer a mesma coisa, a
falta de pernas para alcançar um
bom lançamento. Não os culpo.
A transmissão da Globo, normalmente acusada de ser ufanista e conivente com as presepadas
da CBF (acusação muitas vezes
injusta), foi bastante crítica. Mas
as críticas também batiam cabeça
-uma hora, Galvão Bueno dizia
que os jogadores tinham de fazer
graça para justificar o cachê pago
pelo "espetáculo" e aprovava até
um passe para fora do campo,
desde que fosse de letra. Em outro
momento, cobrava empenho, jogo sério e luta por lugar no time.
Seu papel não é mesmo fácil,
mas nessa hora poderia valer o
conceito "menos é mais". A narração do Galvão é editorializada
demais, com comentários e julgamentos o tempo todo -cada toque na bola é aprovado ou desaprovado. Quando a avaliação
não é explícita, está embutida. Se
o Denílson erra um passe, ele diz
que "a bola escapou", e o jogador
é absolvido pelo chute torto. Se alguém com menos prestígio ou popularidade recebe uma bola quadrada, verdadeira tijolada na canela, ele diz: "Fulano se atrapalha
todo e não consegue o domínio".
Não é má intenção, ele não está
tentando valorizar um jogador e
derrubar o outro. É só o seu estilo,
o ímpeto de ser o porta-voz do
torcedor brasileiro. Mas eu gostaria muito mais que ele deixasse o
jogo rolar, interferindo menos,
sendo menos o árbitro do nosso
juízo. Às vezes ele deixa, mas é só
quando começa a falar de outra
coisa. E o jogo de ontem foi tão
sem graça que até sobrou assunto.
Por outro lado...
Brilhante a abertura do "Globo Esporte": "Parabéns à seleção por aderir à campanha
contra a fome, mas a gente
não quer só comida... Quer
diversão e arte".
Finanças
Já que a CBF continua tendo
prejuízo, apesar dos altos cachês da seleção e da excelente
administração de Ricardo
Teixeira, por que não cortar
umas despesas? Não seria
melhor convocar apenas 18
jogadores para uma viagem
em que mal cabe um treino?
Não falei das flores
A tabela do Brasileiro merece
elogios: primeiro, por ter sido
divulgada com antecedência
maior. Segundo, por marcar
jogos às 17h no verão (melhor
que nada) e se lembrar do Círio de Nazaré antes de marcar
um jogo em Belém. Terceiro,
por não incluir os rebaixados,
talvez o mais importante.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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