São Paulo, sábado, 13 de fevereiro de 2010

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Vida nômade preparou Bellucci

Ao contrário de Guga, tenista teve vários técnicos e locais de treino até se firmar como profissional

Antes de ser "descoberto", em 2007, atleta paulista teve de mudar constantemente de centro de treinamento, pois os lugares sempre fechavam

FERNANDO ITOKAZU
ENVIADO ESPECIAL À COSTA DO SAUIPE

Hoje amante do saibro, Thomaz Cocchiarali Bellucci teve na grama o primeiro contato com o tênis. Nada das tradicionais quadras de Wimbledon, mas sim um campo de futebol adaptado pelo pai, Ildebrando.
Na antiga chácara da família, em Tietê (interior de São Paulo), Ildebrando usou um barbante para dividir o gramado, adaptar uma rede e improvisar a arena de tênis -a medida, tomada por temer contusões do futebol amador, começou a definir o futuro do filho.
Ildebrando se adaptou bem ao esporte e construiu uma quadra de saibro. Ele, a mulher, Maria Regina, e a filha, Beatriz, passaram a jogar lá e em um clube de São Paulo. Então com cinco anos, Bellucci, o caçula, divertia-se no paredão e logo também começou a fazer aulas.
Depois das primeiras lições, o pai foi aconselhado a procurar uma academia para o desenvolvimento do garoto, então com oito anos.
Foi quando começou o que seria uma constante até a profissionalização: a troca de locais de treinamento e de técnico.
"Meus pais sempre buscavam o melhor lugar para eu treinar, mas esses lugares acabavam, não tinham uma estrutura firme", explica ele.
A trajetória do paulista é bem distinta da de Gustavo Kuerten, que no início da adolescência deu o pontapé inicial na parceria com Larri Passos, seu técnico por quase toda a carreira.
Após rodar por algumas academias de São Paulo, incluindo a de Marcelo Meyer, ex-técnico de Fernando Meligeni, Bellucci saiu de casa pela primeira vez.
Aos 13 anos, ele foi treinar no Costão do Santinho, em Florianópolis, coordenado pelo ex- -tenista e atual comentarista da Sportv, Dácio Campos.
"O projeto não deu certo, e fui para outro local, mas não levei o Thomaz porque ele era muito novo para o grupo de garotos de 15 anos", disse Dácio. "Mas dava para ver que ele era diferenciado tecnicamente."
Depois disso, Bellucci tentou a sorte em Joinville (SC) e Guarulhos (SP). "Como pensava em jogar, não ficava desanimado com as trocas. Independentemente de onde estivesse, eu me dedicava ao máximo, treinava e, depois, mudava de lugar."
Esse foco é elogiado pelo coordenador da CBT (Confederação Brasileira de Tênis), o espanhol Emilio Sánchez, que afirma que ele é bem diferente dos outros brasileiros -Bellucci não tem namorada e diz ser uma pessoa mais tranquila.
Além da vida nômade, ele teve que operar os dois joelhos, aos 15 e aos 17 anos. "Foi até bom, para eu ir me conhecendo mais e começando a cuidar mais do lado físico", afirma o tenista. "Agora, eu me cuido muito mais do que antigamente e só tenho lesões de rotina."
Na volta, conseguiu certo destaque em torneios juvenis, sendo finalista no Equador e na Venezuela e atingindo o 15º lugar no ranking da categoria.
Começava então a difícil transição de juvenil para profissional, quando Bellucci acabou "descoberto", em 2007.
Ex-tenista e técnico, Roberto Marcher procurava um novo talento para a Koch Tavares, que também gerenciou a carreira de Gustavo Kuerten.
Marcher já estava na busca havia um ano e pensava em desistir. "Eu pensava: "Essa geração tá perdida".", diz Marcher.
Foi quando ele ficou sabendo de um certo Bellucci, canhoto, que havia sido finalista de dois challengers, em Cuenca e Bogotá, no mês anterior.
Marcher viajou para Campos do Jordão para ver Bellucci no challenger local. Conversou com os pais do garoto sobre o interesse da Koch. Após alguns games num treino, ligou para Luis Felipe Tavares, proprietário da empresa, para dizer que a procura havia acabado.
Os pais de Bellucci, então na 274ª posição do ranking, surpreenderam-se ("Você não vai ver o torneio?"). O tenista caiu na semifinal, mas fechou um contrato que irá até 2015.
"Foi muito bom porque a transição de juvenil para profissional é muito cara, com muitas viagens", falou Ildebrando, que se disse "aliviado" com o fim desses gastos.
Na madrugada de segunda, quando Bellucci recebia o cheque de US$ 68.450 pelo título de Santiago na cerimônia de premiação, Ildebrando, que assistiu à final em um restaurante ao lado da quadra central na Bahia, foi alvo de brincadeiras.
"Olha lá, Ildebrando, amanhã já vai estar na conta."


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