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Vida nômade preparou Bellucci
Ao contrário de Guga, tenista teve vários técnicos e locais de treino até se firmar como profissional
Antes de ser "descoberto", em 2007, atleta paulista teve de mudar constantemente de centro de treinamento, pois os lugares sempre fechavam
FERNANDO ITOKAZU
ENVIADO ESPECIAL À COSTA DO SAUIPE
Hoje amante do saibro, Thomaz Cocchiarali Bellucci teve
na grama o primeiro contato
com o tênis. Nada das tradicionais quadras de Wimbledon,
mas sim um campo de futebol
adaptado pelo pai, Ildebrando.
Na antiga chácara da família,
em Tietê (interior de São Paulo), Ildebrando usou um barbante para dividir o gramado,
adaptar uma rede e improvisar
a arena de tênis -a medida, tomada por temer contusões do
futebol amador, começou a definir o futuro do filho.
Ildebrando se adaptou bem
ao esporte e construiu uma
quadra de saibro. Ele, a mulher,
Maria Regina, e a filha, Beatriz,
passaram a jogar lá e em um
clube de São Paulo. Então com
cinco anos, Bellucci, o caçula,
divertia-se no paredão e logo
também começou a fazer aulas.
Depois das primeiras lições,
o pai foi aconselhado a procurar uma academia para o desenvolvimento do garoto, então com oito anos.
Foi quando começou o que
seria uma constante até a profissionalização: a troca de locais
de treinamento e de técnico.
"Meus pais sempre buscavam o melhor lugar para eu
treinar, mas esses lugares acabavam, não tinham uma estrutura firme", explica ele.
A trajetória do paulista é bem
distinta da de Gustavo Kuerten, que no início da adolescência deu o pontapé inicial na parceria com Larri Passos, seu técnico por quase toda a carreira.
Após rodar por algumas academias de São Paulo, incluindo
a de Marcelo Meyer, ex-técnico
de Fernando Meligeni, Bellucci
saiu de casa pela primeira vez.
Aos 13 anos, ele foi treinar no
Costão do Santinho, em Florianópolis, coordenado pelo ex-
-tenista e atual comentarista da
Sportv, Dácio Campos.
"O projeto não deu certo, e
fui para outro local, mas não levei o Thomaz porque ele era
muito novo para o grupo de garotos de 15 anos", disse Dácio.
"Mas dava para ver que ele era
diferenciado tecnicamente."
Depois disso, Bellucci tentou
a sorte em Joinville (SC) e Guarulhos (SP). "Como pensava em
jogar, não ficava desanimado
com as trocas. Independentemente de onde estivesse, eu me
dedicava ao máximo, treinava
e, depois, mudava de lugar."
Esse foco é elogiado pelo
coordenador da CBT (Confederação Brasileira de Tênis), o espanhol Emilio Sánchez, que
afirma que ele é bem diferente
dos outros brasileiros -Bellucci não tem namorada e diz ser
uma pessoa mais tranquila.
Além da vida nômade, ele teve que operar os dois joelhos,
aos 15 e aos 17 anos. "Foi até
bom, para eu ir me conhecendo
mais e começando a cuidar
mais do lado físico", afirma o
tenista. "Agora, eu me cuido
muito mais do que antigamente e só tenho lesões de rotina."
Na volta, conseguiu certo
destaque em torneios juvenis,
sendo finalista no Equador e na
Venezuela e atingindo o 15º lugar no ranking da categoria.
Começava então a difícil
transição de juvenil para profissional, quando Bellucci acabou "descoberto", em 2007.
Ex-tenista e técnico, Roberto
Marcher procurava um novo
talento para a Koch Tavares,
que também gerenciou a carreira de Gustavo Kuerten.
Marcher já estava na busca
havia um ano e pensava em desistir. "Eu pensava: "Essa geração tá perdida".", diz Marcher.
Foi quando ele ficou sabendo
de um certo Bellucci, canhoto,
que havia sido finalista de dois
challengers, em Cuenca e Bogotá, no mês anterior.
Marcher viajou para Campos
do Jordão para ver Bellucci no
challenger local. Conversou
com os pais do garoto sobre o
interesse da Koch. Após alguns
games num treino, ligou para
Luis Felipe Tavares, proprietário da empresa, para dizer que a
procura havia acabado.
Os pais de Bellucci, então na
274ª posição do ranking, surpreenderam-se ("Você não vai
ver o torneio?"). O tenista caiu
na semifinal, mas fechou um
contrato que irá até 2015.
"Foi muito bom porque a
transição de juvenil para profissional é muito cara, com
muitas viagens", falou Ildebrando, que se disse "aliviado"
com o fim desses gastos.
Na madrugada de segunda,
quando Bellucci recebia o cheque de US$ 68.450 pelo título
de Santiago na cerimônia de
premiação, Ildebrando, que assistiu à final em um restaurante
ao lado da quadra central na
Bahia, foi alvo de brincadeiras.
"Olha lá, Ildebrando, amanhã
já vai estar na conta."
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