São Paulo, sexta, 13 de fevereiro de 1998

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JUCA KFOURI
Zagallo é penta

Não, não é o que você está pensando.
A hora não é de tripudiar nem muito menos de faltar com o respeito ao nosso venerando treinador.
Trata-se, apenas, de uma singela constatação, pois, desde que reassumiu a seleção brasileira pós-Parreira, Zagallo perdeu: a Copa América, no Uruguai; duas Copas Ouro; os Jogos Olímpicos e o Torneio da França -cinco competições, portanto, o que justifica o título acima.
Com ele e sua comissão técnica inexpressiva, a seleção ganhou, digno de nota, só uma Copa América, disputada pelas seleções reservas da América do Sul, exceção à da Bolívia. Então, com a inestimável colaboração da arbitragem, o grande mérito foi mesmo o espírito da equipe na altitude de La Paz.
É evidente que, antes de Zagallo, o baixinho Romário foi o maior responsável pela derrota para os EUA. Ele mesmo reconhece e nem por isso deve ser banido do time, porque é gênio.
O problema maior não é nem a queda diante dos norte-americanos, mas tudo que a precedeu.
Se nós aprendemos em 1987 -quando o quinteto comandado por Oscar e Marcel derrotou os EUA nos Pan-Americanos de Indianapólis- que três coisas são inadmissíveis para os sobrinhos de Tio Sam (hambúrguer frio, cerveja quente e perder no basquete), não será exagero dizer, agora que eles se vingaram, que café frio, cerveja quente e derrota no futebol também deixam o brasileiro indignado.
E temos tido derrotas humilhantes para Japão, Nigéria, Noruega e EUA, sem se falar de Jamaica e Guatemala.
Derrotas que têm a ver com uma total falta de planejamento e de padrão de jogo, fruto da banalização a que foi submetida a seleção tetracampeã mundial.
O time das camisas amarelas virou arroz-de-festa e, pior, saco de pancadas, vítima da ganância de um estilo perverso que, há nove anos, infelicita a CBF.
Não há tempo para grandes mudanças, e a arrogância cebefeana, somada à incompetência para fazer o bem que a caracteriza, não dá a menor esperança de que algo mude.
Vamos ficar na eterna dependência de que o talento do jogador brasileiro resolva, tênue esperança diante de uma Copa na Europa e com a Alemanha preparada para acabar o século também como tetracampeã.
Prepare, pois, o seu coração. E o estômago.



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