São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 2008

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Austrália vê F-1 mais humana

Limitação à eletrônica e fim do controle de tração devolvem o domínio dos carros para os pilotos

Dispositivos proibidos impediam as rodas de patinarem em largadas e retomadas e compensavam freadas mais bruscas

TATIANA CUNHA
ENVIADA ESPECIAL A MELBOURNE

O 59º Mundial de F-1 começa hoje na Austrália com um quê de nostalgia. Conhecida por usar e desenvolver tecnologia de ponta, a categoria faz uma breve incursão ao passado na tentativa de resgatar um pouco do glamour de outras épocas.
O fim do controle de tração, e, conseqüentemente, do controle de largada devolve o controle do carro aos pilotos, mais especificamente à sensibilidade de cada um deles. Nas palavras de Felipe Massa, a F-1 passará a ser "mais humana".
A partir das 20h (de Brasília), com o início da primeira sessão de treinos livres para o GP da Austrália, uma prévia do que pode acontecer durante a temporada já poderá ser vista.
O teste principal, porém, somente deve acontecer na madrugada do próximo domingo, na largada da primeira corrida de 2008, ponto mais crítico do fim dos auxílios aos pilotos.
É justamente durante as largadas ou nas retomadas de velocidade que o controle de tração é mais utilizado, já que ele impede as rodas de patinarem.
"Teremos que readaptar nosso estilo de dirigir e a maneira de acertar os carros para compensar o fim da eletrônica", afirmou Fernando Alonso.
Seu companheiro de Renault, Nelsinho Piquet, vai além. "Acho que a maior diferença não vai ser o fim do controle de tração, e sim o do freio-motor", disse o piloto, que estréia hoje na categoria.
"Os carros vão ficar muito mais instáveis, especialmente com pneus usados. Antes, era possível frear com muito mais força. Agora, se você fizer isso, você vai travar suas rodas, e o motor não irá compensar."
Esta, no entanto, não é a primeira vez que a FIA (Federação Internacional de Automobilismo) tenta banir o uso do dispositivo. No final de 1993, a entidade radicalizou e resolveu restringir ao máximo a eletrônica.
Mais foi justamente após as medidas que a categoria sofreu um de seus maiores golpes. Em um mesmo final de semana de 1994 assistiu, impotente, às mortes de Ayrton Senna e Roland Ratzenberger. Não demorou para que o fim da eletrônica na categoria fosse apontado como um dos responsáveis pela tragédia ocorrida em Imola.
Desde então, de tempos em tempos surgiam rumores de que algumas equipes usavam ilegalmente o controle de tração. Foram os casos da Benetton, nas temporadas de 1994 e 1995, da Williams, em 1996 e 1997, e da Ferrari, em 2001.
Depois de admitir que não tinha uma forma eficaz para fiscalizar o uso do dispositivo, na quinta corrida de 2001 a FIA resolveu liberá-lo novamente.
Foi apenas a padronização de uma mesma centralina para todos os times que possibilitou que agora o controle de tração fosse novamente abolido da F-1. Neste ano, a McLaren fornecerá para os 11 times a central eletrônica que comanda as principais funções dos carros.
De acordo com os pilotos, engana-se quem pensa que os mais experientes terão alguma vantagem por já terem guiado sem o dispositivo. "Era tudo diferente, os motores eram V10. Os pneus eram outros", explicou o ferrarista Felipe Massa.
As novidades dividiram a opinião dos maiores afetados.
"A mudança vai dar mais controle aos pilotos, e teremos que dar nosso melhor. Talvez isso faça com que os melhores pilotos façam um trabalho melhor", falou Lewis Hamilton, vice-campeão no ano passado.
Se alguns elogiam o fim da ajuda eletrônica, outros acreditam que haverá mais batidas, o que fará com que o safety car seja acionado mais vezes.
O fato é que a novidade deverá trazer novos elementos ao campeonato. Mais erros, mais incertezas, mais ultrapassagens, mais espetáculo. É exatamente o que a FIA mais deseja.


NA TV - Treinos do GP da Austrália
Sportv 2, às 20h, e Sportv, à 0h



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