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Pequim ataca nuvem de poeira
Às vésperas da Olimpíada chinesa, em agosto, governo anuncia plano para combater a poluição
Para tentar melhorar o ar da
cidade, haverá paralisação
de obras entre 21 de julho
e 20 de setembro, quando
termina a Paraolimpíada
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
Uma camada de pó cobre boa
parte dos carros que circulam
em Pequim, que parecem jamais ter passado por um lava-rápido. Ao dar uma volta a pé,
mesmo com sapato novo ou recém-engraxado pelas ruas da
sede da Olimpíada, qualquer
calçado volta como se você tivesse andado no campo.
Para combater esses efeitos
de uma cidade em obras, com
poeira de construção por todos
os lados e ventos de areia vindos do deserto do Gobi, a Prefeitura de Pequim lançou ontem um programa de combate
ao pó. A partir da próxima
quinta-feira, dia 20, todas as
obras da cidade serão suspensas em dias com ventos fortes.
Já entre 21 de julho e 20 de
setembro, as obras em construção na capital chinesa serão paralisadas por completo. Ou seja, 18 dias antes do início da
Olimpíada, em 8 de agosto, até
o fim dos Jogos Paraolímpicos.
Há 3.000 prédios em construção em Pequim, a maioria
arranha-céus de 20 a 30 andares, além de shopping centers e
prédios públicos -um total de
100 milhões de m2 em construção. O Estádio Olímpico, que
pelo seu aspecto externo foi
apelidado de Ninho de Pássaro,
só deve ficar pronto em maio.
Quatro departamentos do
governo chinês, incluídos
Obras e Proteção Ambiental,
assinam a circular que anuncia
as medidas contra a "poluição
de pó e de areia".
O departamento de meteorologia municipal fez uma previsão de que Pequim terá dez
dias com tempestades de areia
nesta primavera (outono no
Brasil), trazidas pelos ventos
do deserto de Gobi, que fica a
apenas 250 km da cidade.
O vice-diretor do Escritório
Municipal de Proteção Ambiental da Prefeitura de Pequim, Du Shaozhong, afirmou
que a quantidade de poluentes
da cidade está em queda pelo
nono ano consecutivo.
"Partículas de pó em obras
em construção são uma das
grandes fontes de poluição da
cidade", afirmou Du.
Segundo o governo, em
2007, Pequim teve 246 dias de
"céu azul". Apesar do discurso
oficial de que a qualidade do ar
não pára de melhorar e do cálculo de recorde de "dias azuis",
na prática, pouca gente confia
na veracidade das estatísticas.
Uma delegação do Usoc, o
comitê olímpico dos EUA, que
visitou a cidade no mês passado, concluiu que a qualidade do
ar era "péssima".
Nos últimos dias, a fumaça
pesada da poluição tem impedido a visão, em Pequim, de
prédios de 30 andares a apenas
300 metros de distância. A
quantidade de dióxido de nitrogênio no ar é 78% maior que
a recomendada pela Organização Mundial da Saúde.
Haile Gebrselassie, recordista mundial da maratona, anunciou que não participará dos
Jogos por causa da poluição atmosférica. O etíope sofre de asma, que é agravada pela poeira.
A tenista belga Justine Henin, número um do ranking
mundial e atual campeã olímpica, irá usar máscara durante
a Olimpíada, assim como alguns atletas norte-americanos.
O presidente do Comitê Olímpico Internacional, o também
belga Jacques Rogge, diz considerar essa medida "inútil".
Pequim já gastou estimados
US$ 17 bilhões (cerca de R$
28,8 bilhões) para melhorar a
qualidade do ar desde que venceu a disputa para sediar a
Olimpíada de 2008, há sete
anos. Foi plantado um cinturão
verde ao redor da capital para
protegê-la do deserto.
Para reduzir a poluição, a
prefeitura também estuda a
execução de um rodízio radical
durante os 16 dias de Jogos,
que pode ser implementado até
antes. As placas autorizando a
circulação de veículos seriam
divididas entre pares e ímpares, o que retiraria das ruas metade da frota de Pequim durante a Olimpíada. Mil carros são
licenciados por dia na cidade.
O departamento municipal
de obras também proibiu cartazes ou qualquer publicidade
nos muros ou tapumes de proteção das obras, uma versão
mais acanhada do programa
paulistano Cidade Limpa.
Esses muros devem medir
no mínimo 1,8 metro. É muito
pouco, se o objetivo for controlar a circulação de poeira.
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