São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 2008

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Pequim ataca nuvem de poeira

Às vésperas da Olimpíada chinesa, em agosto, governo anuncia plano para combater a poluição

Para tentar melhorar o ar da cidade, haverá paralisação de obras entre 21 de julho e 20 de setembro, quando termina a Paraolimpíada


RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Uma camada de pó cobre boa parte dos carros que circulam em Pequim, que parecem jamais ter passado por um lava-rápido. Ao dar uma volta a pé, mesmo com sapato novo ou recém-engraxado pelas ruas da sede da Olimpíada, qualquer calçado volta como se você tivesse andado no campo.
Para combater esses efeitos de uma cidade em obras, com poeira de construção por todos os lados e ventos de areia vindos do deserto do Gobi, a Prefeitura de Pequim lançou ontem um programa de combate ao pó. A partir da próxima quinta-feira, dia 20, todas as obras da cidade serão suspensas em dias com ventos fortes.
Já entre 21 de julho e 20 de setembro, as obras em construção na capital chinesa serão paralisadas por completo. Ou seja, 18 dias antes do início da Olimpíada, em 8 de agosto, até o fim dos Jogos Paraolímpicos.
Há 3.000 prédios em construção em Pequim, a maioria arranha-céus de 20 a 30 andares, além de shopping centers e prédios públicos -um total de 100 milhões de m2 em construção. O Estádio Olímpico, que pelo seu aspecto externo foi apelidado de Ninho de Pássaro, só deve ficar pronto em maio.
Quatro departamentos do governo chinês, incluídos Obras e Proteção Ambiental, assinam a circular que anuncia as medidas contra a "poluição de pó e de areia".
O departamento de meteorologia municipal fez uma previsão de que Pequim terá dez dias com tempestades de areia nesta primavera (outono no Brasil), trazidas pelos ventos do deserto de Gobi, que fica a apenas 250 km da cidade.
O vice-diretor do Escritório Municipal de Proteção Ambiental da Prefeitura de Pequim, Du Shaozhong, afirmou que a quantidade de poluentes da cidade está em queda pelo nono ano consecutivo.
"Partículas de pó em obras em construção são uma das grandes fontes de poluição da cidade", afirmou Du.
Segundo o governo, em 2007, Pequim teve 246 dias de "céu azul". Apesar do discurso oficial de que a qualidade do ar não pára de melhorar e do cálculo de recorde de "dias azuis", na prática, pouca gente confia na veracidade das estatísticas.
Uma delegação do Usoc, o comitê olímpico dos EUA, que visitou a cidade no mês passado, concluiu que a qualidade do ar era "péssima".
Nos últimos dias, a fumaça pesada da poluição tem impedido a visão, em Pequim, de prédios de 30 andares a apenas 300 metros de distância. A quantidade de dióxido de nitrogênio no ar é 78% maior que a recomendada pela Organização Mundial da Saúde.
Haile Gebrselassie, recordista mundial da maratona, anunciou que não participará dos Jogos por causa da poluição atmosférica. O etíope sofre de asma, que é agravada pela poeira.
A tenista belga Justine Henin, número um do ranking mundial e atual campeã olímpica, irá usar máscara durante a Olimpíada, assim como alguns atletas norte-americanos. O presidente do Comitê Olímpico Internacional, o também belga Jacques Rogge, diz considerar essa medida "inútil".
Pequim já gastou estimados US$ 17 bilhões (cerca de R$ 28,8 bilhões) para melhorar a qualidade do ar desde que venceu a disputa para sediar a Olimpíada de 2008, há sete anos. Foi plantado um cinturão verde ao redor da capital para protegê-la do deserto.
Para reduzir a poluição, a prefeitura também estuda a execução de um rodízio radical durante os 16 dias de Jogos, que pode ser implementado até antes. As placas autorizando a circulação de veículos seriam divididas entre pares e ímpares, o que retiraria das ruas metade da frota de Pequim durante a Olimpíada. Mil carros são licenciados por dia na cidade.
O departamento municipal de obras também proibiu cartazes ou qualquer publicidade nos muros ou tapumes de proteção das obras, uma versão mais acanhada do programa paulistano Cidade Limpa.
Esses muros devem medir no mínimo 1,8 metro. É muito pouco, se o objetivo for controlar a circulação de poeira.


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