|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
virou mar
Sertão dribla a pobreza no futebol
Com maior revelação do país no ano, e times lutando por Estaduais, semiárido nordestino entra no mapa da bola
Com dinheiro vindo de prefeituras, banda de forró
e até de funerária, clubes sertanejos mudam status
e agora até almejam títulos
Alexandro Auler - 7.mar.09/JC Imagem
|
Ciro vibra ao fazer gol no Salgueiro, equipe de sua cidade natal |
PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL
GUSTAVO ALVES
COLABORAÇÃO PARA FOLHA
Na bola, o sertão já virou mar.
Com o candidato a maior revelação do país em 2009 e clubes peitando grandes nordestinos, a região em que a pobreza
reduzia o futebol a quase nada é
hoje destaque no Nordeste.
A começar por seu embaixador. O atacante Ciro, 19, artilheiro do Sport na temporada,
começou nos juniores do Salgueiro, na cidade do mesmo nome no sertão central de Pernambuco, a 518 km de Recife.
Sucesso individual que chega
na esteira do êxito coletivo.
Antes coadjuvantes ou sacos
de pancada nos torneios estaduais nordestinos, os clubes
sertanejos mudaram de status.
No Rio Grande do Norte, a
decisão do primeiro turno foi
entre dois clubes do semiárido
-o Assu, de Açu, e o Santa
Cruz, da cidade do mesmo nome. Em todo o século passado,
o futebol potiguar só teve campeões sediados na sua capital,
Natal. Nesta década, já são três
títulos de equipes sertanejas.
O Campeonato Paraibano,
antes dominado por clubes do
eixo João Pessoa-Campina
Grande, agora tem também como protagonistas clubes do alto sertão do Estado, como o
Sousa, finalista do primeiro
turno em 2009, e o Nacional de
Patos, campeão em 2007.
O Salgueiro, onde começou
Ciro, conseguiu até uma façanha nacional -obteve uma vaga na nova Série C do Brasileiro, o que nem o poderoso Santa
Cruz, da capital Recife, fez.
No Ceará, o Icasa, de Juazeiro do Norte, vem de um vice-
-campeonato estadual. Em Alagoas, o ASA de Arapiraca, imortalizado como sinônimo de time ruim em música de Chico
Buarque, ganhou quatro dos últimos nove estaduais -antes,
só havia sido campeão em 1953.
Em comum, além do clima
seco, todos esses times ficam
em cidades onde a renda per capita não chega à metade da nacional e o IDH, o índice de desenvolvimento humano, fica
bem abaixo da média do país.
Indicadores que não impedem as prefeituras locais de investirem nos clubes.
"A prefeitura municipal arca
com 50% das despesas da equipe, que tem folha de pagamento
de R$ 50 mil", diz Luis Dailson
Macedo, o presidente do Assu.
Mais inusitada é a fórmula do
Salgueiro para se manter. O
clube ganhou fama de bom pagador e repete em 2009 o bom
desempenho (só ficou atrás dos
grandes do primeiro turno).
As despesas são bancadas em
partes iguais pela prefeitura,
por uma funerária e por uma
banda de forró. Assim, paga até
R$ 3.500 para alguns atletas.
Com o futebol, a cidade também tenta se livrar da fama da
"cidade da maconha", ganha
pela produção da erva e dos altos índices de criminalidade
causados por ela. "Pensamos
que o único jeito de mudar isso
era pelo futebol. Éramos muito
malvistos, mal falados. Fazíamos contato com os jogadores e
perguntávamos se queriam jogar aqui. A resposta era sempre
"eu não vou não, você está doido?". Agora pagamos bem, e todos querem jogar aqui", diz José Guilherme de Alencar, o presidente do Salgueiro.
Texto Anterior: Painel FC Próximo Texto: Bem de vida, Ciro ignorou o Flamengo Índice
|