São Paulo, sexta-feira, 13 de abril de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BASQUETE
Liga vai permitir a marcação por zona a partir do próximo torneio

Saturada, NBA abandona a regra que a tornou especial

DA REPORTAGEM LOCAL

É o fim do mundo que o torcedor da NBA conheceu. A liga anunciou que vai abandonar a principal regra que distinguiu o basquete profissional norte-americano -idolatrado pelas acrobacias, criatividade e velocidade- do praticado no resto do planeta.
A partir do próximo campeonato, que começa em outubro, a defesa individual, homem a homem, não será mais obrigatória.
É a mudança de regra mais revolucionária desde que o torneio adotou o limite de 24 segundos para a posse de bola, em 1954.
Implantada em 1946, a proibição à marcação por zona moldou o basquete da NBA. Em uma análise simplificadora, pode-se dizer que um jogo da liga não se resume ao duelo entre equipes. Há, sim, cinco duelos individuais simultâneos, os chamados "matchups".
Os times se movem para explorar esses confrontos pessoais, para minimizar suas fraquezas e aproveitar as do rival. A quadra torna-se o hábitat perfeito para um jogador talentoso, criativo e atlético -não à toa, Michael Jordan explodiu nesse ambiente.
A marcação por zona, por sua vez, permite que se mascarem as deficiências. Se um jogador é falho na defesa, a equipe sai em seu socorre, congestionando o setor.
O recuo da NBA começou a ser articulado em janeiro. A cúpula da liga tinha, então, um triplo diagnóstico de saturação:
1) Os atletas estão mais altos e velozes, fisicamente capacitados a "cobrir" mais de um adversário ao mesmo tempo -na prática, já havia uma marcação mista;
2) Para furar essa defesa mista, "meia-zona", os técnicos da NBA consagraram uma jogada que empobreceu a partida -isolam seu melhor jogador no ataque, deslocando os outros quatro para um lado da quadra, e torcem para que ele, na habilidade, leve a melhor sobre seu marcador direto;
3) Os torcedores, e até os árbitros, tinham cada vez mais dificuldades para reconhecer o uso ilegal da marcação por zona.
Alguns dos treinadores mais experientes e sofisticados da liga, como Pat Riley (Miami) e Larry Brown (Philadelphia), lançaram uma cruzada nesta semana para tentar barrar a mudança.
Para eles, a zona levaria ao engarrafamento eterno sob as tabelas, inibiria as infiltrações -os lances mais criativos do esporte- e enxugaria os placares.
Mas outros teóricos, como Don Nelson (Dallas), apoiaram a iniciativa, prevendo mais movimentação e solidariedade nos jogos e e minimizando os riscos. "Uma regra jamais vai dobrar o talento de um atleta ou de um time", disse.
De qualquer forma, em nome da novidade e da desburocratização do basquete, o recuo histórico acabou aprovado, ontem, por 22 dos 29 donos de equipe.
Para suavizar a transição, foram tomadas três decisões. Primeiro, a regra de três segundos no garrafão -criada para impedir que o atacante estacione sob a tabela- vai valer também para os jogadores de defesa que não estiverem "colados" em um oponente. Segundo, será reduzido o tempo que o time possui para fazer a bola chegar ao ataque (de 10 para 8 segundos). Terceiro, haverá uma tolerância para o uso das mãos pelo marcador (hoje basta um toque com a mão espalmada para que o árbitro assinale falta).


Texto Anterior: Futebol - José Roberto Torero: O último dos primeiros
Próximo Texto: Campeonato já definiu os 16 classificados
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.