São Paulo, segunda-feira, 13 de maio de 2002

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Ferrari humilha o melhor Barrichello

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A ZELTWEG

Uma atitude antiesportiva da Ferrari combinada à subserviência de Rubens Barrichello transformaram 12 de maio de 2002 em um dia de vergonha para a F-1.
Primeiro colocado nos treinos livres de sexta, pole position no sábado, líder do GP da Áustria por 69 das 71 voltas, o brasileiro acatou uma ordem da escuderia e, a 10 m da linha de chegada, deixou Michael Schumacher passar.
Pela primeira vez em 52 anos de história da F-1, com 686 GPs, um pódio foi vaiado. Sem graça, o tetracampeão mundial puxou Barrichello para o degrau mais alto. Com os ferraristas juntos e visivelmente embaraçados, Zeltweg acompanhou o hino alemão.
O clima no autódromo era de indignação. No paddock, pilotos e dirigentes fizeram pesadas críticas à postura da Ferrari e pediram intervenção da FIA (entidade máxima do automobilismo) no resultado, o que não aconteceu.
O sentimento era que a escuderia não precisava ter dado a ordem, dada sua superioridade neste ano. Mesmo se Barrichello vencesse, Schumacher teria 23 pontos de vantagem sobre o vice do Mundial, Juan Pablo Montoya.
Acuada, a Ferrari tentou se defender. Schumacher disse que "a F-1 é um esporte de equipes" e que campeonatos já foram decididos por apenas um ponto. Também disse que é ele que está na luta pelo Mundial de Pilotos.
A entrevista foi interrompida quando um jornalista perguntou: "Se a F-1 se trata de um esporte de equipes, por que há um Mundial de Pilotos?". Barrichello sacou o microfone, mas não falou. Levantou-se da mesa e deixou a sala, seguido de Schumacher e Montoya, da Williams, o terceiro colocado.
Depois Barrichello disse que seu contrato prevê que ele acate ordens da equipe. Ele não revelou qual seria sua penalização se a desobedecesse, mas, se isso ocorresse, o ambiente ficaria carregado. "Quando assinei com a Ferrari pela primeira vez [em 1999", já sabia que teria uma tarefa difícil."
Não foi a primeira vez que a categoria viu um jogo de equipe. Na mesma Zeltweg, em 2001, o brasileiro teve de ceder o segundo lugar na corrida para Schumacher. Na ocasião, saiu do carro furioso.
Ontem Barrichello não se irritou. E seu discurso condescendente o pôs definitivamente na posição de mero guarda-costas de Schumacher. "Não estou revoltado. Saio daqui como vencedor e ponto final. O Schumacher me deu o troféu. E eu vou dá-lo para a Silvana [sua mulher], porque hoje [ontem] é aniversário dela."


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