São Paulo, segunda-feira, 13 de maio de 2002

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AUTOMOBILISMO

Sem se mostrar aborrecido, brasileiro afirma que medida vale enquanto Schumacher lutar pelo título

Barrichello diz estar proibido de vencer

DO ENVIADO ESPECIAL A ZELTWEG

Foi necessária uma ordem acintosa como a de ontem para Rubens Barrichello admitir: enquanto Michael Schumacher continuar na disputa do Mundial, ele está proibido de vencer.
"É o que parece, sem dúvida nenhuma. A não ser que eu esteja em primeiro lugar e haja algum outro piloto bem no meio, entre eu e o Schumacher", declarou.
Ou seja: pelo menos nos próximos cincos GPs, quando não haverá possibilidades matemáticas de o alemão garantir o penta, Barrichello será "café-com-leite". Um escudeiro. Um coadjuvante. Mais um figurante na F-1.
A situação, porém, parece não incomodar o brasileiro, que derreteu elogios ao companheiro. Mesmo sabendo que só poderá ganhar corridas quando a Ferrari quiser, ele afirmou que pretende vencer pelos próprios méritos.
"Não sei quando vou ganhar. Mas não desejo que o Schumacher quebre. Ele é um superpiloto, uma pessoa com quem eu tenho prazer em conversar. Me dou muito bem com ele", afirmou.
Até a 68ª volta do GP, Barrichello vivia seu melhor fim de semana na F-1. Na quinta, anunciou a renovação do contrato com a Ferrari até dezembro de 2004. Na sexta, foi o mais rápido nos treinos livres. Anteontem, conquistou a primeira pole com asfalto seco.
Superando uma de suas deficiências, Barrichello largou bem ontem e disparou na liderança. Não deu chance para ninguém e, mesmo com duas intervenções do safety-car, manteve a ponta. Só perdeu a posição por uma volta (a 62ª), quando entrou nos boxes para seu segundo e último pit stop. Mas, no giro seguinte, o alemão também foi para o pit. E Barrichello reassumiu a liderança.
Na 68ª volta, porém, todo seu final de semana e todo seu discurso desde que chegou à Ferrari foi para o espaço. O diretor esportivo da escuderia, Jean Todt, escreveu um bilhete e entregou para Ross Brawn, o diretor técnico e estrategista do time. O inglês prontamente acionou o rádio preso ao seu cinto e falou com o brasileiro.
Embora isso não tenha sido confirmado, a ordem teria partido de Luca di Montezemolo, presidente da Ferrari, que assistia à corrida em Bolonha, na Itália.
"Tentei dar uma conversada, ver se aquilo não era um gesto que causaria polêmica. Mas me disseram que era a decisão do time e ponto final", disse Barrichello.
O brasileiro chegou a admitir que estranhou a demora da Ferrari em dar a ordem para que ele desacelerasse. "Ficava pensando no carro: não está vindo nada. Mas, a três voltas do final, a ordem veio."
Sua obediência em Zeltweg contrasta radicalmente com tudo o que ele pregou em suas 39 corridas anteriores pela Ferrari.
O Barrichello que ontem abriu mão de sua segunda vitória na F-1 foi o mesmo que, em 2000, se autoproclamou o homem "1-B" da Ferrari, nunca o segundo piloto.
Aos 29 anos, Barrichello está na categoria desde 1993. De lá para cá, disputou 153 GPs e conseguiu apenas uma vitória. Nos últimos tempos, seu currículo só não é pior que o de Jean Alesi, que correu 201 GPs e venceu só um.
Para o brasileiro, entretanto, o resultado de ontem valeu. "Sei que isso não vai estar no Guinness. Minha próxima vitória vai ser a terceira. A segunda foi hoje [ontem]. Eu fui o vencedor moral." (FÁBIO SEIXAS)



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