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AUTOMOBILISMO
Sem se mostrar aborrecido, brasileiro afirma que medida vale enquanto Schumacher lutar pelo título
Barrichello diz estar proibido de vencer
DO ENVIADO ESPECIAL A ZELTWEG
Foi necessária uma ordem acintosa como a de ontem para Rubens Barrichello admitir: enquanto Michael Schumacher continuar na disputa do Mundial, ele
está proibido de vencer.
"É o que parece, sem dúvida nenhuma. A não ser que eu esteja
em primeiro lugar e haja algum
outro piloto bem no meio, entre
eu e o Schumacher", declarou.
Ou seja: pelo menos nos próximos cincos GPs, quando não haverá possibilidades matemáticas
de o alemão garantir o penta, Barrichello será "café-com-leite". Um
escudeiro. Um coadjuvante. Mais
um figurante na F-1.
A situação, porém, parece não
incomodar o brasileiro, que derreteu elogios ao companheiro.
Mesmo sabendo que só poderá
ganhar corridas quando a Ferrari
quiser, ele afirmou que pretende
vencer pelos próprios méritos.
"Não sei quando vou ganhar.
Mas não desejo que o Schumacher quebre. Ele é um superpiloto,
uma pessoa com quem eu tenho
prazer em conversar. Me dou
muito bem com ele", afirmou.
Até a 68ª volta do GP, Barrichello vivia seu melhor fim de semana
na F-1. Na quinta, anunciou a renovação do contrato com a Ferrari até dezembro de 2004. Na sexta,
foi o mais rápido nos treinos livres. Anteontem, conquistou a
primeira pole com asfalto seco.
Superando uma de suas deficiências, Barrichello largou bem
ontem e disparou na liderança.
Não deu chance para ninguém e,
mesmo com duas intervenções do
safety-car, manteve a ponta. Só
perdeu a posição por uma volta (a
62ª), quando entrou nos boxes
para seu segundo e último pit
stop. Mas, no giro seguinte, o alemão também foi para o pit. E Barrichello reassumiu a liderança.
Na 68ª volta, porém, todo seu final de semana e todo seu discurso
desde que chegou à Ferrari foi para o espaço. O diretor esportivo da
escuderia, Jean Todt, escreveu um
bilhete e entregou para Ross
Brawn, o diretor técnico e estrategista do time. O inglês prontamente acionou o rádio preso ao
seu cinto e falou com o brasileiro.
Embora isso não tenha sido
confirmado, a ordem teria partido de Luca di Montezemolo, presidente da Ferrari, que assistia à
corrida em Bolonha, na Itália.
"Tentei dar uma conversada,
ver se aquilo não era um gesto que
causaria polêmica. Mas me disseram que era a decisão do time e
ponto final", disse Barrichello.
O brasileiro chegou a admitir
que estranhou a demora da Ferrari em dar a ordem para que ele desacelerasse. "Ficava pensando no
carro: não está vindo nada. Mas, a
três voltas do final, a ordem veio."
Sua obediência em Zeltweg contrasta radicalmente com tudo o
que ele pregou em suas 39 corridas anteriores pela Ferrari.
O Barrichello que ontem abriu
mão de sua segunda vitória na F-1
foi o mesmo que, em 2000, se autoproclamou o homem "1-B" da
Ferrari, nunca o segundo piloto.
Aos 29 anos, Barrichello está na
categoria desde 1993. De lá para
cá, disputou 153 GPs e conseguiu
apenas uma vitória. Nos últimos
tempos, seu currículo só não é
pior que o de Jean Alesi, que correu 201 GPs e venceu só um.
Para o brasileiro, entretanto, o
resultado de ontem valeu. "Sei
que isso não vai estar no Guinness. Minha próxima vitória vai
ser a terceira. A segunda foi hoje
[ontem]. Eu fui o vencedor moral."
(FÁBIO SEIXAS)
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