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Carpegiani hoje é a vanguarda no Brasil
MATINAS SUZUKI JR.
da Equipe de Articulistas
Paulo César Carpegiani vem
sendo criticado pelo excesso de
mudanças táticas que faz. As
críticas não deixam de ter seu
fundamento e partem de pessoas mais insuspeitas, a exemplo de meu novo colega de Folha Tostão e de meu ex-colega
de Folha José Trajano.
Afinal de contas, o São Paulo
corre o risco de, com tantas opções de posicionamento e movimentação, não ter, na verdade,
nenhum esquema consistente.
Alguns chegam mesmo a enxergar nas derrotas decisivas
do tricolor um importante elemento crítico na estratégia de
não ter estratégia do técnico.
Vou ousar, modestamente,
discordar dessas críticas. Acho
extremamente salutar para o
São Paulo e para o futebol, de
uma maneira geral, o laboratório de experimentações táticas
do dr. Carpegiani.
O futebol está vivendo um
processo intenso de modificações táticas, agora que não há
mais modelo tático hegemônico (4-4-2 ou 3-5-2, dominantes
nos últimos 15 anos, são cada
vez menos usados em suas formas puras). Sob esse aspecto, o
futebol, assim como a política e
a economia na formulação
clássica de Hobsbawn, também
vive sua era das incertezas.
Não ter um esquema tático
definido previamente é uma
atitude moderna. Está em linha com o que perseguem, por
exemplo, as empresas em suas
formas mais avançadas de negociações, em um mundo cada
vez mais complexo e competitivo -como cada vez mais complexas e competitivas se tornam as arenas esportivas, goste
desse processo ou não.
Primeiro, esse comportamento dificulta a preparação dos
rivais -que não saberão jamais, de antemão, que formação tática enfrentarão.
Segundo, a variação, pelo que
tenho visto, procura valorizar o
potencial de cada jogador em
suas habilidades mais vantajosas (dar liberdade para o arranque e a finalização de Serginho, por exemplo, sem perder o
poder de finalização de Marcelinho, aproveitar a regularidade de Jorginho, mantendo a
mobilidade de Edmílson, e por
aí vai), estratégia, para dizer o
mínimo, inteligente.
Terceiro, Carpegiani teve a
coragem de mostrar para o futebol brasileiro -quase sempre conservador, quando não
covarde na arrumação defensiva- que é, sim, possível formatar sistemas defensivos sem
os tradicionais e ultrapassados
quatro zagueiros.
E, por fim, as modificações táticas de Carpegiani procuram
sempre valorizar o lado estético e lúdico que está na origem
do jogo. E isso é simplesmente
"bonito, pois, pois", como diria
o dono do hotel do poema de
Manuel Bandeira.
Carpegiani é hoje a vanguarda brasileira.
Por razões parecidas, discordo da crítica ao deixar passar
batido o fato de Wanderley Luxemburgo ter colocado, em
uma mesma formação, Amoroso, Ronaldinho, Rivaldo e Romário. A maioria ficou discutindo a desnecessidade do jogo
contra o Barcelona, o que é verdade, mas não se deu o destaque devido para o gesto revolucionário do técnico da seleção.
Se esses quatro jogadores tiverem tempo para treinar e jogar juntos, o futebol brasileiro
poderá estar gerando um fato
cultural novo da maior importância para o país -que, aliás,
está necessitando imensamente de um fato cultural novo.
²
Matinas Suzuki Jr. escreve às quintas e é diretor editorial-adjunto da Abril S/A
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