São Paulo, domingo, 13 de junho de 2004

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AUTOMOBILISMO

Preparador físico, Balbir Singh atua como conselheiro e acompanha todos os passos do piloto desde 98

Guru indiano guia e conserva Schumacher

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A MONTRÉAL

A cena se repete em quase todos os GPs. Neste ano, já aconteceu seis vezes em sete etapas. E embora largue em sexto no GP do Canadá, pode ocorrer de novo hoje.
Fim de prova. No pódio, no alto, no centro, Michael Schumacher, 35. Inteiro, sem sinais de cansaço. Como se tivesse acabado de jogar uma partida de xadrez.
Ao seu lado, pilotos mais jovens. Mas exaustos. Entregues.
Por trás da cena, mais um trunfo do alemão, o piloto que mais títulos e recordes conquistou nos 55 anos de existência da F-1.
O trunfo tem nome, uma história pessoal curiosa e se tornou um dos grandes amigos do ferrarista.
Ele é Balbir Singh, não revela a idade e é indiano. Nasceu em Amritsar, a cidade sagrada dos sikhs, e desde 1998 acompanha todos os passos de Schumacher. E não há exagero nisso: o alemão chega a levá-lo para suas férias.
Oficialmente, Singh é massagista e preparador físico. Mas, na prática, extrapola essas funções.
Atua como conselheiro, nutricionista e orientador espiritual.
"Balbir é fundamental no meu trabalho. Ele deixa o meu corpo e a minha cabeça em ordem. Assim, só preciso me preocupar com o carro", afirma Schumacher. "Não consigo mais me imaginar sem ele por perto."
Singh emigrou para a Alemanha há dez anos e se estabeleceu na região de Kerpen, onde os irmãos Schumacher foram criados.
No começo de 96, o então bicampeão, recém-saído da Benetton, comentou com parentes que estava sentindo dores no corpo após sucessivos testes para se adaptar ao carro da Ferrari. Um primo o apresentou ao indiano.
"Foi uma identificação imediata. Em massagem e fisioterapia, o toque conta muito. Eles se entenderam desde o início", conta Sabine Kehm, autora da biografia autorizada do alemão, "Driving Force", ainda inédita no Brasil.
Por dois anos, Schumacher procurou o indiano esporadicamente. Decidiu incluí-lo em sua comitiva para as corridas após sofrer um acidente em um teste em Monza, em 98. Naquela noite, não conseguiu dormir, com dores musculares. Pela manhã, chamou o indiano. À tarde, relata o alemão, já não sentia quase nada.
Desde então, tornaram-se amigos. "Michael odeia que Balbir o chame de chefe, mas ele continua chamando", disse Sabine à Folha. "Eles estão sempre juntos. Quando não há GPs, Michael faz questão de levá-lo para casa, na Suíça, ou para onde quer que ele vá."
Singh não dá entrevistas, não tem outros clientes e faz segredo sobre seus métodos de trabalho. Abriu uma exceção para a "Autocar", uma revista indiana de automóveis. E disse que sua tarefa mais difícil é afastar o piloto de toda a correria do dia-a-dia.
"Uma vez fomos à Patagônia fazer um trabalho de relaxamento. Ele estava em pleno deserto, meditando, quando um ônibus de turistas alemães passou por perto. Eles fizeram o motorista parar e foram pedir autógrafos e tirar fotos", declarou. "Michael não tem vida privada, essa é a verdade. Ele é reconhecido onde quer que vá."
Em Montréal, como em todos os circuitos do calendário, o trabalho de Singh começou na quinta. O indiano montou num trailer uma academia para o alemão. Cuidou de sua alimentação e lhe fez massagens após os treinos.
Hoje, espera repetir um ritual que já se tornou rotina: é sempre um dos primeiros a cumprimentar o alemão pelas vitórias.
Mesmo que Schumacher não vença, Singh, o próprio piloto e a F-1 terão uma certeza. Ele deixará a pista de Montréal inteiro.


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