|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Blitz da Austrália derruba Zico
Guus Hiddink lança time ao ataque, surpreende Japão do técnico brasileiro e já sonha com 2ª fase
Tim Cahill marca primeiro
gol australiano em Copas do Mundo e dá início à virada em oito minutos no jogo de estréia do grupo do Brasil
GUILHERME ROSEGUINI
ENVIADO ESPECIAL A KAISERSLAUTERN
Parecia dia de Zico.
O brasileiro evocou a tradição guerreira dos japoneses,
driblou com criatividade uma
norma que proibia seu intérprete de prestar auxílio no gramado e contou com a ajuda do
árbitro para ficar à frente do
marcador em quase todo o jogo.
Mas foi dia de Guus Hiddink.
Em desvantagem, o técnico
usou emoção para contagiar os
australianos no intervalo, lançou sua seleção ao ataque sem
medir conseqüências, conseguiu uma imponente virada e
vibrou como se tivesse conquistado um título ao final do
primeiro jogo do Grupo F da
Copa, o mesmo do Brasil.
"Fez-se justiça", declarou o
holandês após o 3 a 1 de ontem,
em Kaiserslautern.
Famoso por ter chegado às
semifinais dos dois últimos
Mundiais -em 1998, com seu
país natal, e em 2002, com a
Coréia do Sul -, ele também
passa para a história da Austrália, que nunca havia vencido ou
balançado as redes na competição. A seleção estava fora do
torneio desde 1974.
Os gols, aliás, acabaram anotados a partir dos 39 minutos
da etapa final. Todos por atletas
que estavam no banco de reservas. A Tim Cahill, meia de vocação ofensiva, coube a honra dos
dois primeiros tentos. John
Aloisi, atacante, marcou o terceiro, já nos acréscimos.
"No vestiário, fiz os jogadores acreditarem que poderíamos voltar e mudar tudo. Lembrei tudo o que havíamos passado até ali. Eles foram guerreiros", afirmou Hiddink.
Zico também queria esse espírito de luta em seus jogadores. A prova estava nas faixas
exibidas pela torcida no Fritz-Walter-Stadion. Uma delas
com frase de Zico, em bom português, dizia: "Que a força dos
samurais ajude o Japão a escrever grandes histórias."
A ajuda, na verdade, veio do
árbitro egípcio Essam Abd El
Fatah, que não viu uma falta de
Takahara no goleiro Schwarzer. Naquele lance, Nakamura
tentou um cruzamento e, sem
ninguém para interceptá-lo,
acabou abrindo o marcador.
Após o jogo, pediu desculpas
pelo erro, segundo o arqueiro
australiano. "Ele disse depois
do jogo que Deus estava do lado
dele, porque o resultado veio
para nosso lado."
Revoltado, Hiddink buscou
um monitor para rever o lance.
Um oficial da Fifa tentou conter sua investida. Os dois por
pouco não trocaram sopapos.
Depois, deu empurrão em
um auxiliar da seleção japonesa
que se aproximou dele.
Enquanto isso, Zico se vestiu
com a mesma roupa de seu tradutor Kunihiro Suzuki para
driblar a norma da Fifa que
proíbe intérpretes na área técnica. Ambos usavam calças sociais em tom cinza-escuro, sapatos pretos e camisas claras.
Quando precisava dar alguma instrução urgente, Zico recuava até o banco, conversava
com Suzuki e mandava-o à beira do campo. Ninguém percebia a diferença, e o tradutor
atuava sem ser importunado.
Nada do que o brasileiro ou
seu intérprete falavam, contudo, fazia o Japão aproveitar os
espaços deixados pela Austrália
no segundo tempo. "Nós poderíamos ter acabado com o jogo.
Erramos muito", analisou o
brasileiro, que tem histórico
azarado em Copas. Ele participou de quatro, como atleta (78,
82 e 86) e coordenador (98),
mas não venceu nenhuma.
Não à toa, Zico levou as mãos
à cabeça quando o juiz encerrou o jogo. Sua missão agora é
espinhosa. Precisa bater a
Croácia e tentar a classificação
contra o Brasil, no último jogo.
Do outro lado, Hiddink gritava e socava o ar. Com três pontos, o holandês já vê como concreta a possibilidade de levar a
Austrália até os mata-matas.
Aproveitando a confiança demonstrada pelo comandante,
um jornalista perguntou se não
houve uma pitada de sorte na
virada tão espetacular. Hiddink
não negou, mas explicou: "A
sorte só aparece para quem
busca a vitória."
Texto Anterior: Soninha: Sempre a 1ª vez Próximo Texto: Entrevista: "Somos um grupo que não desiste" Índice
|