São Paulo, sábado, 13 de junho de 2009

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déjà vu

Seleção curte sua Weggis sul-africana

Time faz a alegria de 8.000 africanos em uma atividade leve, recreativa, que lembrou a preparação para a Copa-2006

Jogadores recebem calorosa recepção na "cidade das flores" sul-africana antes da estreia da equipe de Dunga na Copa das Confederações


Ricardo Nogueira/Folha Imagem
Gilberto Silva, Kaká, Kléber e Daniel Alves correm ao redor do campo em Bloemfontein, cidade que abrigará Brasil x Egito, segunda, pela Copa das Confederações

EDUARDO ARRUDA
PAULO COBOS
ENVIADOS ESPECIAIS A BLOEMFONTEIN

O dia em que a seleção brasileira teve seu primeiro contato real, e se emocionou com a África, lembrou a mais atrapalhada e festiva preparação do time para uma Copa do Mundo.
A comparação com a suíça Weggis, para muitos o grande motivo pelo fracasso brasileiro na Alemanha, em 2006, foi inevitável. Torcida enlouquecida, badalação, música e treino bem leve, quase um recreativo.
Por mais de uma hora, a seleção fez a alegria de 8.000 africanos que encheram o acanhado Seisa Ramabodu Stadium.
A calorosa recepção foi respondida pelos jogadores brasileiros, que foram perto do alambrado saudar os torcedores. Eles passaram o tempo todo cantando músicas típicas.
O campo utilizado pelo Brasil fica numa Township, área afastada das cidades para onde os negros eram levados pelo governo durante o regime de apartheid (1948 a 1990).
Rocklands é um lugar pobre, com ruas de terra batida, pequenas casas de madeira e com índice alto de criminalidade para os padrões da calma Bloemfontein, a ""cidade das flores" da África do Sul.
Desde as primeiras horas do dia, os moradores já circulavam pelo estádio. Quando a seleção chegou, uma multidão se aglomerava do lado de fora. E do lado de dentro também.
""Eu estou muito feliz que eles nos deram essa chance. É o céu para nós conhecer esses jogadores", dizia, sorridente, Leah Maeke, 47, empregada doméstica que levou o filho Rapelang, 9, para ver Kaká.
O agora jogador do Real Madrid e Ronaldinho eram os mais lembrados pelos frenéticos torcedores, que não entendiam o motivo de o craque gaúcho do Milan estar ausente da seleção.
Em meio à euforia dos torcedores, um senhor, Nox Nonkoryce, 57, que coordena uma fundação para ajudar desabrigados e desempregados da comunidade local, via a presença dos brasileiros como esperança para dias melhores por ali.
""Quem sabe esse time famoso não chame, de alguma forma, a atenção do mundo para os grandes problemas da África", dizia ele, que, ao ser questionado sobre o motivo de as pessoas demonstrarem tanta felicidade mesmo vivendo em condições precárias, respondeu: ""Nós somos felizes porque acreditamos sempre que tudo vai melhorar um dia".
Hoje, a seleção deve treinar novamente no campo de Rocklands, mas sem a presença dos moradores do local.
O fantasma de Weggis ainda assombra a CBF. Após o evento de ontem, funcionários da confederação diziam que tinham visto a ""Weggis africana".
O certo é que a partir de hoje o time de Dunga não fará mais nenhum treinamento aberto ao público. Os africanos terão de pagar o preço da ""farra" suíça. ""Eu fiz tudo para conseguir o convite porque sei que para mim é uma chance única de ver o Brasil. Não tenho dinheiro para ir aos jogos, e eles não voltarão aqui nunca mais", falava, emocionado, o estudante Daniel Mthombeki, 19.


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