São Paulo, quinta-feira, 13 de julho de 2000


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FUTEBOL
Indignação une torcedores

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Mil campanhas pela paz e união dos torcedores de todos os times e Estados não seriam capazes de produzir resultados tão significativos quanto os obtidos pela proposta da ridícula Copa João Havelange, o torneio "provisório" que o Clube dos 13 inventou para 2000 e que já está sendo substituído por outro, menos enrolado, mas igualmente espúrio. É impressionante a quantidade de mensagens enviadas por torcedores indignados de todo o Brasil para os jornais e as TVs. Muitos, desgostosos, propõem um boicote a todos os jogos (oficiais?) do segundo semestre.
Acredito que estejam sendo sinceros, mas duvido que aconteça.
Deixar de ir aos estádios é uma das idéias, mas isso já vem acontecendo há um bom tempo, por vários motivos diferentes (preço, horário, insegurança, dificuldade de acesso etc), e ninguém parece estar muito preocupado. Não o suficiente para oferecer condições melhores, por exemplo.
Às vezes os ingressos são oferecidos a preço melhor, em mais pontos de venda, mas não passa muito disso. Portanto as arquibancadas vazias não devem sensibilizar muito os organizadores.
Por outro lado, é difícil resistir a uma transmissão do jogo do seu time pela televisão. Se ele estiver jogando muito mal, é mais fácil mudar de canal ou dar uma volta na cozinha; se ele estiver jogando bem, a paixão pelo futebol fala mais alto (como acontece com as paixões) e você se esquece dos cartolas, do regulamento, da falta de sentido na composição das tabelas e torce por mais um gol.
A imprensa vai continuar cobrindo cada rodada, porque não pode simplesmente ignorar o que está acontecendo. Espero que ela não se esqueça de dizer, sempre, quão ignóbil é o contexto.
Mas corre-se o risco de aborrecer o leitor, que pode achar que "essa insistência já encheu o saco". Muitas causas importantíssimas são tratadas com desdém porque as pessoas cansam de ouvir sempre as mesmas coisas, e um defensor do meio ambiente vira automaticamente um "ecochato", e assim por diante (eu continuo militante como um "Capitão Planeta", recolhendo lixo e levando para reciclar. Cada um é "chato" de um jeito).
Em todo caso, se o silêncio e o total desprezo forem inviáveis, é melhor continuar fazendo barulho. Nós nos sentimos pequenos, otários e impotentes, mas "a união faz a força", por mais ridículo que soe. Quantas vezes a Rede Globo já desistiu de ter um casal homossexual nas suas novelas por causa da pressão dos telespectadores? Vamos reclamar sem parar, vamos deixar de comprar camisas e canecas dos times, vamos atazanar a vida desses caras. Se não podemos sozinhos com eles, unamo-nos contra eles.

Eurico Miranda ameaçou processar o juiz que concedeu uma liminar favorável ao Gama , alegando "perdas e danos", por "proibir o Vasco da Gama de disputar um campeonato".
O juiz não está proibindo o Vasco de coisa alguma, está garantindo o direito do Gama continuar jogando. Mas esse argumento, "perdas e danos", é usado a torto e direito pelo marreteiro que vende tralha paraguaia contrabandeada, pelo dentista que trabalha sem diploma, pelo dono de loja chique que funciona sem alvará... Todo mundo só quer "trabalhar honestamente".
É incrível como honestidade é um conceito que pode ser "flexibilizado", assim como as nossas relações trabalhistas.

A tal da "Copa dos Campeões" não seria uma má idéia, se os torneios regionais fossem rápidos e bem montados (ainda não entendo porque Minas Gerais entrou na "Copa Sul", entre outras coisas estranhas). Os campeões de cada região têm o direito de disputar um atalho para a Libertadores. E as outras vagas a que o Brasil tem direito? Ah, isso depende. O Clube dos 13 e a CBF podem chegar à conclusão que o mais justo e correto é conceder esse direito ao quarto e ao sétimo colocados da Copa União, por exemplo. Não duvido de mais nada.

O Zé Geraldo Couto reproduziu uma mensagem divertidíssima de um leitor, com outras propostas "brilhantes" para preservar os grandes clubes. O José Marcelo Torres Batista, de Salvador, também fez boas sugestões, como batizar a nova taça de "Troféu Boa Sorte João Alves". Ele compara o raciocínio aplicado ao futebol ao que acompanha outras esferas políticas: "Assim como um time que "tem tradição" não pode ser rebaixado, mesmo que perca dentro de campo, um político "de família" (oligarquia, posses, nome, tradição) também não pode ser cassado, mesmo que dê motivos para isso".
Ele está sendo irônico, mas muita gente acredita nisso -ou não estaríamos desse jeito.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br


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