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São Paulo, domingo, 13 de julho de 2003

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FUTEBOL

Futebol, TV e violência

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Durante oito anos, de 1994 a 2002, acompanhei no estádio a maior parte dos treinos e jogos da seleção, estive nos últimos três Mundiais e assisti aos principais jogos dos times brasileiros.
Nos últimos anos, mudei de vida, fui sentir o cheiro do verde, escutar os passarinhos e passei a ver a maioria dos jogos pela televisão. Agora tenho mais informações e vejo um número muito maior de partidas, em todo o mundo. Perco alguns detalhes técnicos e táticos.
Quando assistimos a uma partida pela TV, não vemos com os nossos olhos, e sim com os olhos de quem trabalha atrás da câmera e na edição das imagens. O operador não vê o jogo. Vê imagens. A imagem é fria, insensível e não pensa. Imagem não é tudo.
O fato de ter sido um jogador que tinha a preocupação de observar o conjunto e um comentarista de partidas ao vivo pela TV, nos estádios, durante muitos anos, me deu condições para imaginar e deduzir alguns detalhes técnicos e táticos que a imagem não mostra. Tento, e muitas vezes consigo, diferenciar o jogo editado do verdadeiro.
O ideal seria ir bastante aos estádios, ver todos os jogos e os noticiários pela TV e ainda assistir aos treinos das equipes. Isso não é possível. O ideal é algo inatingível, com uma distância variável da realidade, que serve de referência para os nossos sonhos.
Quero ir mais aos estádios, mas fico desestimulado ao ver agressões verbais e físicas, pontapés e socos, como ocorreu em vários jogos na última semana. Isso não é futebol. Agressores e juízes incompetentes precisam ser punidos.
Ao mesmo tempo em que começam a melhorar as condições dos estádios e as brigas nas arquibancadas por causa do Estatuto do Torcedor, aumenta a violência nos gramados. Tudo começou com excesso de faltas, algumas violentas, e já virou literalmente caso de polícia.
Aonde isso vai chegar?

Contradições do futebol
Nem sempre há uma relação direta entre a organização do futebol de um país, a estrutura profissional de um clube, a competência de dirigentes, comissão técnica e treinadores, a preparação e a qualidade individual e coletiva de um time e a conquista de títulos. Há outros fatores envolvidos. Por isso, é perigoso endeusar e criticar alguns profissionais pelo resultado final de um campeonato.
O vice de futebol do Corinthians, Antônio Roque Citadini, disse que os técnicos argentinos são muito melhores do que os brasileiros. Seria um recado para o Geninho? Mario Sérgio, sem se referir ao Carlos Bianchi, protestou e disse que na sua carreira de jogador viu muitos técnicos medianos ganharem importantes títulos. Também vi e continuo vendo. As evidências são que o Bianchi é um excepcional técnico.
O Brasil se preparou muito mal para as Copas de 1998 e 2002, por causa, principalmente, do péssimo calendário, mas foi vice e campeão do mundo. A principal razão foi a qualidade da comissão técnica e atletas, especialmente de alguns craques, como os dois Ronaldos, Rivaldo e Roberto Carlos. Só o gaúcho não estava em 98.
Em 2002, o título ficou mais fácil por causa da desclassificação precoce e surpreendente da Argentina e da França, os graves erros dos árbitros contra a Espanha e a Itália e as contusões e as ausências de vários grandes jogadores de outras seleções.
O Brasil não teve nada a ver com o problema dos outros. Ganhou com justiça e méritos. Porém a Copa de 2002 foi fraca e atípica. O Brasil não tinha um excepcional conjunto. Tinha excepcionais jogadores.
O Mundial entre seleções é o torneio mais importante do mundo, mas nem sempre se pode criar conceitos de excelência técnica e de boa administração num campeonato de um mês de duração e de muitos jogos classificatórios.
Na Europa, as dificuldades para conquistar a Copa de 2006 serão bem maiores. Se a seleção não fizer uma preparação muito melhor do que a anterior, será muito difícil ganhar o hexa.
Não se tem certeza também se os grandes craques de 2002 estarão em forma. No momento, eles são imprescindíveis. Kaká, Diego, o já experiente Alex e outros excelentes atletas são apenas promessas para brilhar no Mundial.
Após o título de 2002, criou-se a falsa impressão de que a seleção ganha quando quer, independentemente da qualidade da preparação e da organização do futebol brasileiro. Isso justificaria todos os erros, até o continuísmo na CBF e nas federações.

E-mail
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