São Paulo, sexta-feira, 13 de agosto de 2004

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POLIFONIA

Mal começou, e eles querem que acabe

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS

A 28ª Olimpíada da Era Moderna começa hoje. Mas eles já estão contando as horas para a meia-noite do dia 29. Muitos estão fugindo para outras cidades. Os que ficaram, fazem manifestações.
Eles são os anti-Atenas-2004.
"Somos contra as conseqüências sociais, trabalhistas e antidemocráticas que a Olimpíada trará. Passaram por cima da Constituição, passaram por cima do direito de ir e vir, acabaram com tradições", disse a advogada Ann Vafibis, uma das líderes do movimento, que tem até um site, o www.anti2004.net.
Ela trabalha no Ministério da Justiça da Grécia e jura que cerca de 300 pessoas já aderiram ao seu grupo, que obteve ainda apoio do Partido Verde e do Partido Comunista.
"No dia 29, o show acaba, todo mundo vai embora, mas os problemas ficarão. Por mais fogos de artifício que usem na festa de encerramento, o fato é que encararemos uma realidade nova e dura no dia seguinte", afirmou Giorgos Mavrikos, mais um militante.
Os anti-Olimpíada reclamam das condições de trabalho que os operários enfrentaram nas construções de estádios e ginásios, da expulsão de camelôs e feirantes -uma tradição secular- das ruas de Atenas, da invasão de privacidade causada pelas 1.600 câmeras espalhadas pela capital, da destruição de áreas verdes, da interferência de outros países em questões de segurança e, ufa!, da conta que o governo paga para organizar os Jogos.
Os menos engajados optaram por outra solução. Fugir. Por dia, 65 navios estão deixando o porto de Pireus rumo às ilhas gregas. No último fim de semana, as estradas para o Peloponeso estavam lotadas.
Há, ainda, grupos não-organizados. Como o dos gregos que são contra os Jogos por terem receio de ações terroristas.
"Meus pais têm medo e não me deixaram ir a Atenas. Assim que as provas começarem, vou para a Estônia", contou a estudante Stella Stravinou, de Patras, a 218 km da capital.
E há os fumantes, irritados com as limitações impostas nas instalações olímpicas e com um pedido do governo para que evitem acender cigarros até mesmo nas ruas. Os gregos estão entre os maiores fumantes da Europa -60% das pessoas entre 20 e 34 anos fumam regularmente.
Ao contrário do que prometem os anti-Atenas-2004, o Athoc não ficará livre dos críticos no dia 29. Outra turma já se prepara para protestar no mês que vem: portadores de deficiência física reclamam da falta de rampas nas recém-inauguradas instalações esportivas. Os Jogos Paraolímpicos vão de 17 a 28 de setembro.
Mas essa é outra história.


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