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POLIFONIA
Mal começou, e eles querem que acabe
FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS
A 28ª Olimpíada da Era
Moderna começa hoje.
Mas eles já estão contando as
horas para a meia-noite do
dia 29. Muitos estão fugindo
para outras cidades. Os que ficaram, fazem manifestações.
Eles são os anti-Atenas-2004.
"Somos contra as conseqüências sociais, trabalhistas e
antidemocráticas que a Olimpíada trará. Passaram por cima da Constituição, passaram
por cima do direito de ir e vir,
acabaram com tradições", disse a advogada Ann Vafibis,
uma das líderes do movimento, que tem até um site, o
www.anti2004.net.
Ela trabalha no Ministério
da Justiça da Grécia e jura que
cerca de 300 pessoas já aderiram ao seu grupo, que obteve
ainda apoio do Partido Verde
e do Partido Comunista.
"No dia 29, o show acaba, todo mundo vai embora, mas os
problemas ficarão. Por mais
fogos de artifício que usem na
festa de encerramento, o fato é
que encararemos uma realidade nova e dura no dia seguinte", afirmou Giorgos Mavrikos, mais um militante.
Os anti-Olimpíada reclamam das condições de trabalho que os operários enfrentaram nas construções de estádios e ginásios, da expulsão de
camelôs e feirantes -uma tradição secular- das ruas de
Atenas, da invasão de privacidade causada pelas 1.600 câmeras espalhadas pela capital,
da destruição de áreas verdes,
da interferência de outros países em questões de segurança e,
ufa!, da conta que o governo
paga para organizar os Jogos.
Os menos engajados optaram por outra solução. Fugir.
Por dia, 65 navios estão deixando o porto de Pireus rumo
às ilhas gregas. No último fim
de semana, as estradas para o
Peloponeso estavam lotadas.
Há, ainda, grupos não-organizados. Como o dos gregos
que são contra os Jogos por terem receio de ações terroristas.
"Meus pais têm medo e não
me deixaram ir a Atenas. Assim que as provas começarem,
vou para a Estônia", contou a
estudante Stella Stravinou, de
Patras, a 218 km da capital.
E há os fumantes, irritados
com as limitações impostas
nas instalações olímpicas e
com um pedido do governo
para que evitem acender cigarros até mesmo nas ruas. Os
gregos estão entre os maiores
fumantes da Europa -60%
das pessoas entre 20 e 34 anos
fumam regularmente.
Ao contrário do que prometem os anti-Atenas-2004, o
Athoc não ficará livre dos críticos no dia 29. Outra turma já
se prepara para protestar no
mês que vem: portadores de
deficiência física reclamam da
falta de rampas nas recém-inauguradas instalações esportivas. Os Jogos Paraolímpicos vão de 17 a 28 de setembro.
Mas essa é outra história.
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