GEOTT MCCLURE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Se alguém tinha dúvida da sensação de paranóia que esta cidade está vivendo, precisava ter visto anteontem, aqui no centro de imprensa em Sydney. Estourou um pneu de um carro na rua, e teve gente que se jogou no chão, pensando ser uma bomba.
Sydney não é assim. Ela é pacata, tranquila, chata até. Nos últimos dias, quem mora aqui, porém, está sendo revistado, está gastando mais tempo para andar de carro e vendo sua mesa favorita, no seu restaurante favorito, invariavelmente ocupada.
Depois, chegamos em casa, ligamos a TV e tudo o que ouvimos é um repórter perguntando a um atleta: "Como você se sente?" ou "Você está sentindo o espírito olímpico?".
Estou sendo pessimista? Acho que um pouco exagerado. Na verdade, é bom ter os Jogos Olímpicos por aqui. Apesar de todo esse caos, a cidade está mais alegre, colorida e mais pluralista.
A Austrália está se preocupando em querer mostrar que não é um país de fim de mundo. Apesar de terem colocado o Crocodilo Dundee na cerimônia de abertura, não somos provincianos. Gostamos dessa integração.
Os Jogos vão deixar para Sydney uma série de boas coisas, como os próprios ginásios e estádios que foram construídos.
O movimento verde, que cuidou da recuperação das águas e plantou uma série de árvores pela cidade, também foi importante, mas eu acho que foi meio estúpido, porque não precisávamos de uma Olimpíada para tomar tais medidas.
A cidade tem a ganhar com a Olimpíada, e é isso que você vê nas ruas. Eu estou fazendo um trajeto de 20 km em uma hora e meia, quando costumava gastar não mais do que 35 minutos em dias normais. E todos os outros estão na mesma situação.
Só que eu chego à sala de imprensa e não encontro pessoas de cara feia. Elas parecem acreditar que tudo faz parte do jogo. Se é assim, quem sou eu para achar que não? Vamos aproveitar a Olimpíada e depois tirar vantagem da cidade que sobrará inteirinha para nós.