São Paulo, quarta-feira, 13 de setembro de 2000

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JOSÉ GERALDO COUTO

Futebol é um mundo à parte

A dois dias da abertura oficial da Olimpíada, a Austrália vive um clima contraditório: por um lado, há um aumento da excitação com a proximidade dos Jogos; por outro, sente-se uma espécie de cansaço precoce, diante do bombardeio contínuo da mídia em torno do assunto.
Mesmo tendo dividido a atenção nacional, nos últimos dias, com a guerra campal em torno do Fórum Econômico Mundial, em Melbourne, a Olimpíada ocupa mais da metade do noticiário impresso e eletrônico daqui.
Há várias semanas os jornais e as emissoras anunciam diariamente: "Faltam "x" dias para o início da Olimpíada".
Cada personalidade esportiva ou do mundo artístico que chega a Sydney vira manchete. De Nelson Mandela a Bill Gates, de Muhammad Ali a Olivia Newton-John, todas as celebridades têm de ser fotografadas ou filmadas com símbolos olímpicos, delegações de atletas etc.
Em suma: se alguns australianos se mostram ansiosos pelo início das competições, outros dão a impressão de já estar sonhando com o seu término. Estão empapuçados antes de a coisa começar.
O futebol brasileiro tem uma situação peculiar nesse circo todo. Atrai uma atenção razoável da imprensa australiana, encanta um público crescente, mas é tratado como algo à parte -até porque o "soccer", como se sabe, não é um esporte tão popular aqui.
Para o australiano médio, os futebolistas brasileiros são uma curiosidade quase exótica, que está aqui para ajudar a temperar e colorir a Olimpíada.
Por mais que a delegação brasileira de futebol queira se integrar ao mundo olímpico, o isolamento é flagrante -em todos os sentidos.
Comissão técnica, jogadores e mesmo imprensa que cobre a seleção parecem enclausurados em um mundo autônomo, como se a Olimpíada estivesse acontecendo num outro país.
Entre os jornalistas "futebolísticos", a maioria não sabia, ontem, que no dia anterior o pau tinha comido em Melbourne, que Marat Safin tinha derrotado Pete Sampras no Aberto dos EUA e que uma pessoa havia morrido no GP da Itália de F-1.
Não digo isso para criticar meus companheiros jornalistas, mas para mostrar como o mundinho do futebol é autocentrado e exclusivista.
Esse foi, a meu ver, um dos fatores da nossa derrota na Copa da França. Espero que não atrapalhe os garotos da seleção olímpica, que têm potencial de sobra para conquistar a medalha de ouro.
A batalha começa amanhã, contra a Eslováquia, às 6h da manhã (horário de Brasília). Vale a pena acordar cedo para conferir.
E-mail jgcouto@uol.com.br


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