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JOSÉ GERALDO COUTO
Futebol é um mundo à parte
A dois dias da abertura oficial
da Olimpíada, a Austrália
vive um clima contraditório: por
um lado, há um aumento da excitação com a proximidade dos Jogos; por outro, sente-se uma espécie de cansaço precoce, diante do
bombardeio contínuo da mídia
em torno do assunto.
Mesmo tendo dividido a atenção nacional, nos últimos dias,
com a guerra campal em torno do
Fórum Econômico Mundial, em
Melbourne, a Olimpíada ocupa
mais da metade do noticiário impresso e eletrônico daqui.
Há várias semanas os jornais e
as emissoras anunciam diariamente: "Faltam "x" dias para o
início da Olimpíada".
Cada personalidade esportiva
ou do mundo artístico que chega
a Sydney vira manchete. De Nelson Mandela a Bill Gates, de Muhammad Ali a Olivia Newton-John, todas as celebridades têm de
ser fotografadas ou filmadas com
símbolos olímpicos, delegações de
atletas etc.
Em suma: se alguns australianos se mostram ansiosos pelo início das competições, outros dão a
impressão de já estar sonhando
com o seu término. Estão empapuçados antes de a coisa começar.
O futebol brasileiro tem uma situação peculiar nesse circo todo.
Atrai uma atenção razoável da
imprensa australiana, encanta
um público crescente, mas é tratado como algo à parte -até porque o "soccer", como se sabe, não
é um esporte tão popular aqui.
Para o australiano médio, os futebolistas brasileiros são uma curiosidade quase exótica, que está
aqui para ajudar a temperar e colorir a Olimpíada.
Por mais que a delegação brasileira de futebol queira se integrar
ao mundo olímpico, o isolamento
é flagrante -em todos os sentidos.
Comissão técnica, jogadores e
mesmo imprensa que cobre a seleção parecem enclausurados em
um mundo autônomo, como se a
Olimpíada estivesse acontecendo
num outro país.
Entre os jornalistas "futebolísticos", a maioria não sabia, ontem,
que no dia anterior o pau tinha
comido em Melbourne, que Marat Safin tinha derrotado Pete
Sampras no Aberto dos EUA e
que uma pessoa havia morrido
no GP da Itália de F-1.
Não digo isso para criticar meus
companheiros jornalistas, mas
para mostrar como o mundinho
do futebol é autocentrado e exclusivista.
Esse foi, a meu ver, um dos fatores da nossa derrota na Copa da
França. Espero que não atrapalhe
os garotos da seleção olímpica,
que têm potencial de sobra para
conquistar a medalha de ouro.
A batalha começa amanhã,
contra a Eslováquia, às 6h da manhã (horário de Brasília). Vale a
pena acordar cedo para conferir.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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