São Paulo, sexta-feira, 13 de outubro de 2000

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Copa da Ásia começa no Líbano em meio a conflito armado na região
Sede da competição pela 1ª vez, país corre risco de ser envolvido no confronto entre palestinos e israelenses e mobiliza até o Exército para proteger seleções participantes
Futebol desafia medo no Oriente Médio

Reuters
Abbas Ramim (à frente) disputa cabeceio contra atleta da Tailândia na vitória do Iraque, ontem, pela Copa da Ásia, no Líbano


RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

No momento em que o processo de paz no Oriente Médio está mais do que ameaçado, a Copa da Ásia, a principal competição de futebol do continente mais populoso do planeta, chega ao Líbano pela primeira vez na história.
Cinco dias depois de o Hizbollah, milícia extremista islâmica libanesa, sequestrar três soldados israelenses e ampliar a tensão na região, começou, em Saida e em Beirute, a 12ª edição do torneio.
Ontem, o Iraque bateu a Tailândia por 2 a 0, e o anfitrião Líbano perdeu para o Irã por 4 a 0.
A segurança, quesito primordial para qualquer competição hoje, é obviamente a grande questão da Copa da Ásia deste ano.
Foi armado trabalho conjunto entre a polícia e o Exército do Líbano para o evento. As delegações dos 12 países participantes receberão escolta durante todos os seus deslocamentos pelo país. Hotéis, locais de treino e estádios terão segurança reforçada.
A organização do torneio destacou 220 veículos para transportar com segurança jogadores, técnico e dirigentes. Os últimos andarão inclusive em limusines especiais.
O Comitê Organizador da Copa da Ásia de 2000 instalou até um escritório no Aeroporto Internacional de Beirute para controlar a entrada e saída de membros das delegações e torcedores.
Pelas leis libanesas, ninguém que tenha algum carimbo ou estampa israelense no passaporte pode entrar no país. Os organizadores do evento destacam a restrição e garantem que não vão abrir precedentes para jogadores e técnicos que tenham ""marcas de Israel" em seus documentos.
Algumas delegações tomaram precauções a mais para o torneio. Os japoneses, por exemplo, enviaram embaixadores para conhecer os locais onde a equipe vai estar.
A Confederação Asiática de Futebol, claramente preocupada com a realização de seu maior torneio em um verdadeiro clima de guerra, chegou inclusive em agosto a ameaçar tirar a competição do Líbano após uma visita de inspetores da entidade ao país.
Além dos problemas políticos, houve atraso nos preparativos para o torneio em Beirute.
O estádio Sports City, que foi destruído em 1982 por aviões israelenses, demorou a ser reconstruído, e a Malásia foi sondada como possível organizadora da Copa da Ásia -o Líbano ficaria fora da disputa, e a federação do país receberia pesada multa.
Os problemas políticos, porém, são os que mais colocam em risco o evento. O sul do Líbano está em estado de alerta, uma vez que tropas israelenses estão concentradas na fronteira dos dois países.
Quase que simultaneamente ao início da Copa da Ásia, dois soldados israelenses foram linchados por palestinos, o que aumentou a tensão na região. O governo de Israel, em resposta, atacou sedes de autoridades palestinas, como o quartel-general de Iasser Arafat, principal líder da Palestina.
O governo libanês, por sua vez, está esperando por uma troca de reféns com o governo israelense e quer que o país vizinho deixe as terras de Shebaa, reivindicadas por Beirute, a principal cidade-sede da Copa da Ásia-2000.
O secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Kofi Annan, está sendo esperado em Beirute para tentar amenizar a tensão no Oriente Médio.
Apesar do conflito, a Confederação Asiática não admitiu abrir mão da Copa da Ásia no Líbano, divulgando até em seu site oficial que, ""pronto ou não", o torneio seria disputado.
""Nada vai mudar nossa idéia de apoiar o Líbano neste momento. Nem bomba nem guerra irá nos tirar daqui", disse Asad Taqi, vice-presidente da entidade e principal dirigente do Kuait.



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