São Paulo, domingo, 13 de outubro de 2002

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POR QUÊ?

Pontas baixos e rápidos colocam seleção na final

CIDA SANTOS
COLUNISTA DA FOLHA

O esporte tem as suas sutilezas. Vinte anos depois, o Brasil volta a disputar uma final de Mundial com um time com semelhanças com a geração de prata. Tem ponteiros baixos, habilidosos e com muita explosão. Nalbert e Giba lembram Renan, Bernard e Montanaro.
Em 1982, o Brasil perdeu na decisão para a URSS. Hoje, o time, comandado por Bernardinho, volta ao mesmo ginásio, em Buenos Aires, com chances de mudar a história. Depois da derrota para os EUA, na segunda rodada, a turma se acertou e tem mostrado o melhor vôlei do torneio.
Uma grande equipe começa com um grande levantador. Maurício é o melhor do mundo. É ousado, tem muita velocidade nas mãos e varia muito o jogo. Para felicidade geral da nação, quando ele não esteve bem, como aconteceu contra a Iugoslávia, o reserva Ricardinho entrou no primeiro set e não saiu mais da quadra.
Ricardinho é canhoto, 7 cm mais alto que Maurício e tão ousado quanto o titular. De levantadores estamos bem.
A seleção joga com três ponteiros baixos para os atuais padrões internacionais: Giba tem 1,92 m, Nalbert, 1,95 m, e André, 1,95 m. Mas eles compensam a estatura com muita velocidade e habilidade no ataque.
E é nesse ponto que estão o nosso céu e o nosso inferno. Quando o passe sai e a equipe consegue jogar com velocidade, fica difícil segurar o ataque brasileiro. Mas, quando a recepção falha, a seleção mostra a sua maior deficiência: as bolas altas e lentas na ponta. Viramos presa fácil do bloqueio rival.
Foi o que aconteceu na final da Liga Mundial, em agosto, contra a Rússia: o Brasil teve uma enorme dificuldade de colocar a bola no chão no ataque e perdeu o jogo. Os russos conseguiram 15 pontos de bloqueio.
Com Nalbert e Giba, o Brasil tem um ataque baixo, mas ganha em volume de jogo. Os dois e o líbero Escadinha garantem a qualidade do passe, algo vital para um time que depende da velocidade no ataque.
A equipe tem dois grandes centrais: Gustavo e Henrique. Gustavo não começou bem o Mundial, mas, desde o jogo contra a República Tcheca, acertou o bloqueio . Os dois também são muito eficientes nas bolas rápidas. Contra a Itália, Henrique fez 15 pontos, foi o maior pontuador do time, algo raro para um central.
O que também tem garantido as vitórias é a eficiência no saque. O Brasil é o único que tem quatro atletas entre os dez melhores sacadores do torneio. E saque no vôlei moderno é fundamental. E a equipe não conta só com os titulares. Tem reservas de qualidade, que, quando entram, seguram a onda.
No banco, está a maior diferença em relação à seleção sexta colocada em Sydney. Bernardinho, que substituiu Radamés Lattari, formou um grupo unido, tem grandes jogadores e sabe tirar o melhor de cada um.
Contra a Iugoslávia, foi corajoso: tirou Maurício e André no primeiro set. Pôs Ricardinho e Anderson. Manteve os dois até o fim e garantiu a vitória.
Mais do que a tática ou a técnica, a grande lição aprendida por esse grupo talvez tenha sido em Sydney. O Brasil tinha o melhor time e não venceu. Agora tem novamente a melhor equipe e não quer nem pensar em perder. Como diz o capitão Nalbert: "Quero e vou lutar pelo ouro". Boa sorte.



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