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Ferrarista ganha o sexto Mundial, bate recorde de Fangio e passa a ser o novo parâmetro das pistas
Schumacher zera a história da F-1
FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A SUZUKA
Eram 20h15 em Suzuka, no Japão. O escritório número 107 do
autódromo japonês estava esfumaçado. Entre uma gargalhada e
outra, Michael Schumacher, 34,
dava uma baforada em um charuto. Na cabeça, um boné vermelho
com letras douradas: "seis vezes
campeão mundial de F-1".
Um título épico. Inédito. Mítico.
Emblemático. E, uma novidade
na carreira do alemão, sofrido.
Schumacher precisava de apenas um ponto, ou uma oitava posição, na madrugada de ontem,
em Suzuka, para conquistar o hexacampeonato. Caso falhasse, teria que torcer para que Kimi Raikkonen, seu único adversário na
disputa, não vencesse a prova.
Como que para aumentar o peso e a dramaticidade da conquista, foi tudo no limite. O alemão
terminou em oitavo lugar, o finlandês foi o segundo colocado.
A vitória foi de Rubens Barrichello, que, além de ajudar no título do companheiro de Ferrari,
selou a conquista do 13º Mundial
de Construtores da escuderia.
Há, na história do esporte, marcas, fatos e personagens que parecem eternos, imbatíveis. De uma
só vez, Schumacher e a Ferrari superaram dois desses mitos.
O alemão bateu Juan Manuel
Fangio, o lendário argentino que
conquistou cinco títulos na década de 50 e que há 46 anos mantinha intacta a condição de maior
campeão da história da F-1.
O pentacampeonato de Fangio
em 51, 54, 55, 56 e 57 resistiu a homens velozes como Jim Clark e
Ayrton Senna. A pilotos cerebrais
como Alain Prost e Niki Lauda.
Sucumbiu ontem a Schumacher,
talvez pelo fato de o alemão unir,
como ninguém, esses dois valores
tão caros no esporte a motor.
A Ferrari superou a McLaren do
final dos anos 80, da dupla Senna-Prost, uma formação mágica para
os torcedores da F-1.
O time inglês conseguiu quatro
Mundiais de Construtores seguidos, entre 88 e 91, outra marca que
parecia inatingível, imbatível.
Parecia. A Ferrari de Schumacher-Barrichello sacramentou
ontem sua quinta conquista seguida. Desde 99, apenas a escuderia italiana comemorou o título.
"É difícil falar sobre o que estou
sentindo. Mas o que a equipe conseguiu é simplesmente fantástico.
Se você lembrarem do que aconteceu na Alemanha e na Hungria,
das dúvidas que começaram a
surgir... E aqui nós estamos, comemorando. Nós nunca desistimos, nós sempre lutamos. Todos
na Ferrari são assim. É uma família e me orgulho de fazer parte dela", disse o alemão.
Algo raro nos seus 194 domingos de F-1, Schumacher chorou
ontem. A continuação de um choro que começou no GP da Itália de
2000, quando igualou as 41 vitórias de Senna e que ressurgiu na
França, em 2002, quando bateu o
tetracampeonato de Prost.
Daqui para a frente, não há muito porque chorar. Falta apenas
uma marca para o alemão destruir, o recorde de 65 poles de
Senna. E ele terá tempo para isso.
Com contrato assinado com a
Ferrari até o final de 2006, Schumacher não só poderá bater esse
derradeiro recorde como certamente irá ampliar vários outros.
Era final de noite em Suzuka
quando Schumacher deixou o autódromo. Encharcado de champanhe, charuto na mão, sujo com
ovo, mostarda e catchup. Nem
parecia um deus do esporte.
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