São Paulo, quarta-feira, 13 de outubro de 2004

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FUTEBOL

Incomparável trio

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

A Venezuela tem atacantes habilidosos, um bom toque de bola, mas não aprendeu a marcar. O time continua ingênuo e bobo. Isso e o enorme talento dos jogadores brasileiros ocasionaram a goleada.
Zé Roberto avançou bem, como sabe e gosta. Ele tem habilidade e velocidade para fazer isso contra qualquer adversário. Porém, sempre que o Brasil enfrenta equipes melhores, Zé Roberto e os outros dois armadores preocupam-se demais com a proteção aos defensores, ficam muito distantes dos três homens da frente e tocam pouco a bola, como gosta o Parreira.
O trio de armadores marca também de longe. Nesses dois anos, com poucas exceções, como o jogo contra a Venezuela, o meio-campo tem sido a deficiência da seleção ou o setor menos brilhante. Por isso, Parreira já fez várias mudanças por motivos técnicos nesse setor.
Magrão vai substituir Juninho Pernambucano, o melhor dos três armadores brasileiros. Poderia também ser o Edu, mas não torto pela direita como entrou contra a Venezuela, e sim mais recuado pelo meio, trocando de posição com Renato, que atua bem dos dois jeitos.
Como Parreira gosta de dizer que Juninho e Zé Roberto são meias, e não volantes (eles se posicionam e marcam como volantes e avançam como meias), o técnico deveria procurar outro reserva para o Zé Roberto. Edu é um bom volante, e não um meia.
Alex deve substituir Kaká. Assim, o time mantém o estilo com dois meias e um centroavante. Dependendo do tipo de jogo, Adriano será uma ótima opção. Se o Brasil não estiver bem no primeiro tempo, por variados motivos, a culpa será do "sonolento" Alex. Aí entra o Adriano.
Quero ver o Brasil ganhar e brilhar contra a Colômbia e na maioria das partidas contra melhores equipes. Após o Mundial de 2002, o Brasil só ganhou com facilidade das fraquíssimas seleções de Venezuela, Bolívia, Hungria e Haiti. Neste ano, foram sete empates em 17 jogos. Isso é preocupante para um time que tem uma geração de craques tão espetacular quanto às de 58, 70 e 82.
Não se pode também comparar a campanha atual com a da última eliminatória. Naquela ocasião, não tinha uma base formada, houve troca de técnicos e, na maioria das partidas, os atacantes eram Luizão, Edílson, Marcelinho Paraíba e outros. Hoje, os dois atacantes são os dois Ronaldinhos. É uma enorme diferença.
Após a fácil vitória sobre a Venezuela, voltou a euforia. Já foi esquecido o futebol coletivo lento e previsível contra a Alemanha e da maioria dos jogos contra boas equipes. Zé Roberto, que era muito mais criticado do que merecia, tornou-se um craque. Não é uma coisa nem outra. Se o Brasil jogar mal hoje, retorna a depressão. É sempre assim.

Brasil é melhor
A Argentina ganhou fácil do Uruguai, o que não se esperava. O novo técnico, José Pekerman, manteve os três zagueiros, o estilo vibrante e ofensivo e a marcação por pressão. Além de ter muita habilidade, o meio-campo da Argentina desarma muito mais do que o do Brasil.
Mas houve uma modificação importante. Saíram os pontas medianos Rosales e Delgado, que só jogavam por causa do desenho tático, e entraram jogadores mais habilidosos (Riquelme e Saviola). O talento tem preferência. O time atua agora com um meia ofensivo e dois atacantes, em vez de dois pontas e um centroavante.
Ficaram ainda de fora dessa partida, por suspensão ou contusão, excelentes atletas, como Ayala, Tevez, D'Alessandro, Verón, Aimar, Crespo e Killy Gonzalez. A Argentina possui dois ótimos jogadores em cada posição. Mas o Brasil é superior porque tem um trio incomparável e decisivo na frente.

Nada de novo
Não há hoje na Europa uma grande seleção. A França, que era a melhor, piorou muito com a saída de vários atletas, principalmente Zidane. Após o sucesso de sua retranca na Eurocopa, a Grécia voltou ao seu lugar, o de time pequeno.
Espanha e Inglaterra são as duas seleções com mais chances de crescerem. A Espanha tem vários excelentes jogadores em evolução, como Vicente, Reyes e Xavi. O jovem atacante inglês Rooney tem grandes chances de se tornar um craque.
E, como a próxima Copa será na Europa, não é grande o favoritismo do Brasil.

E-mail tostao.folha@uol.com.br


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