São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 2008

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Prancheta do PVC

PAULO VINICIUS COELHO - pvc@uol.com.br

Overlaping

HÁ 30 ANOS , a seleção tinha um técnico lunático. Não se negava a Cláudio Coutinho a definição de estudioso, mas algumas de suas idéias e parte de seu vocabulário produziam espanto. A palavra "overlaping" era utilizada por Coutinho para explicar o apoio necessário para o lateral subir ao ataque, tocar a bola para recebê-la na frente, no "ponto futuro", como definia.
O limite da tolerância chegou no segundo jogo da Copa-78, contra a Espanha. Coutinho escalou dois laterais-direitos juntos. Nelinho ocupava a lateral de verdade, com Toninho, camisa 2 às costas, na ponta. Gil, ponta de ofício, ficava no banco de reservas.
Não deu certo, o Brasil não saiu do 0 a 0, e mais gente achou que o técnico vivia mesmo no mundo da lua.
Dunga já percebeu que o apoio a seus laterais é um dos maiores problemas de sua seleção. Por isso, treinou jogadas de ultrapassagem na Granja Comary e escalou Elano para servir de apoio, mais pelo lado direito, às vezes também pela esquerda. Ontem, Elano não foi bem e não foi o remédio adequado.
Apesar da vitória folgada sobre a Venezuela, segue faltando um meia que se aproxime dos laterais, fundamental quando se joga contra um time fechado.
Se tem o contra-ataque, o Brasil joga. Foi assim em San Cristóbal.
Uma das alternativas é a escalação de Mancini, que só entrou aos 30min do segundo tempo. Vá lá que o jogador da Inter não é mais lateral há anos, mas não deixa de ser curioso que, 30 anos depois de Coutinho, cogita-se dois nascidos na lateral juntos.
Mancini pode fazer a aproximação, permitir a ultrapassagem -aquilo a que Coutinho chamava de overlaping.
Como Robinho domina e dribla para dentro, o lateral fica sempre abandonado, quando é o atacante do Manchester City quem precisa oferecer esse auxílio. E o Brasil não chega à linha de fundo, como ocorreu no Engenhão, contra a Bolívia, e ontem também.
Maicon e Gilberto tiveram mais apoio durante a Copa América do que nas eliminatórias. É bom ver os defeitos na hora da vitória. Ontem, o time jogou bem, venceu de maneira convincente um time frágil.
Mas pode ser melhor. Quem sabe se a seleção tiver dois laterais juntos...

ATAQUE DE NERVOS

A Colômbia, rival de quarta do Brasil, não tem atletas da qualidade do passado, mas joga igual. Muito toque de bola e pouca penetração. Tem quatro gols, o pior ataque das eliminatórias, e metade deles de falta. Para o Brasil, a perspectiva não é de ver um time só se defendendo, como fez a Bolívia.

LATIFÚNDIO

A presença de Riquelme e de três atacantes deixa a Argentina com um imenso vazio no meio. Resolve-se isso com o talento de Messi, Tevez, Agüero e do próprio meia, mas jogar dessa maneira não dá futuro. Não pelo o número de atletas ofensivos, mas pela forma como se juntam -ou não se juntam.

JOGANDO CONTRA

Em 2007, o Palmeiras treinado por Caio Júnior perdeu a vaga na Taça Libertadores e a chance do título dentro do Palestra Itália. Primeiro foi derrotado pelo Juventude, depois pelo Atlético-MG. Por isso, era perigoso acreditar que o Flamengo conseguisse todos os pontos a disputar no Maracanã. Seriam oito vitórias seguidas, o que o Fla só conseguiu uma vez na sua história em Brasileiros: em 1980, quando era dirigido por... Cláudio Coutinho.


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