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Prancheta do PVC
PAULO VINICIUS COELHO - pvc@uol.com.br
Overlaping
HÁ 30 ANOS , a seleção
tinha um técnico lunático. Não se negava
a Cláudio Coutinho a definição
de estudioso, mas algumas de
suas idéias e parte de seu vocabulário produziam espanto. A
palavra "overlaping" era utilizada por Coutinho para explicar o apoio necessário para o lateral subir ao ataque, tocar a
bola para recebê-la na frente,
no "ponto futuro", como definia.
O limite da tolerância chegou
no segundo jogo da Copa-78,
contra a Espanha. Coutinho escalou dois laterais-direitos juntos. Nelinho ocupava a lateral
de verdade, com Toninho, camisa 2 às costas, na ponta. Gil,
ponta de ofício, ficava no banco
de reservas.
Não deu certo, o Brasil não
saiu do 0 a 0, e mais gente
achou que o técnico vivia mesmo no mundo da lua.
Dunga já percebeu que o
apoio a seus laterais é um dos
maiores problemas de sua seleção. Por isso, treinou jogadas de
ultrapassagem na Granja Comary e escalou Elano para servir de apoio, mais pelo lado direito, às vezes também pela esquerda. Ontem, Elano não foi
bem e não foi o remédio adequado.
Apesar da vitória folgada sobre a Venezuela, segue faltando
um meia que se aproxime dos
laterais, fundamental quando
se joga contra um time fechado.
Se tem o contra-ataque, o Brasil joga. Foi assim em San Cristóbal.
Uma das alternativas é a escalação de Mancini, que só entrou aos 30min do segundo
tempo. Vá lá que o jogador da
Inter não é mais lateral há anos,
mas não deixa de ser curioso
que, 30 anos depois de Coutinho, cogita-se dois nascidos na
lateral juntos.
Mancini pode fazer a aproximação, permitir a ultrapassagem -aquilo a que Coutinho
chamava de overlaping.
Como Robinho domina e dribla para dentro, o lateral fica
sempre abandonado, quando é
o atacante do Manchester City
quem precisa oferecer esse auxílio. E o Brasil não chega à linha de fundo, como ocorreu no
Engenhão, contra a Bolívia, e
ontem também.
Maicon e Gilberto tiveram
mais apoio durante a Copa
América do que nas eliminatórias. É bom ver os defeitos na
hora da vitória. Ontem, o time
jogou bem, venceu de maneira
convincente um time frágil.
Mas pode ser melhor. Quem sabe se a seleção tiver dois laterais juntos...
ATAQUE DE NERVOS
A Colômbia, rival de quarta do Brasil, não tem atletas
da qualidade do passado,
mas joga igual. Muito toque
de bola e pouca penetração.
Tem quatro gols, o pior ataque das eliminatórias, e metade deles de falta. Para o
Brasil, a perspectiva não é de
ver um time só se defendendo, como fez a Bolívia.
LATIFÚNDIO
A presença de Riquelme e
de três atacantes deixa a Argentina com um imenso vazio no meio. Resolve-se isso
com o talento de Messi, Tevez, Agüero e do próprio
meia, mas jogar dessa maneira não dá futuro. Não pelo
o número de atletas ofensivos, mas pela forma como se
juntam -ou não se juntam.
JOGANDO CONTRA
Em 2007, o Palmeiras treinado por Caio Júnior perdeu
a vaga na Taça Libertadores e a chance do título dentro
do Palestra Itália. Primeiro foi derrotado pelo Juventude,
depois pelo Atlético-MG. Por isso, era perigoso acreditar
que o Flamengo conseguisse todos os pontos a disputar no
Maracanã. Seriam oito vitórias seguidas, o que o Fla só
conseguiu uma vez na sua história em Brasileiros: em
1980, quando era dirigido por... Cláudio Coutinho.
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