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FUTEBOL
O retorno dos pontas
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Zagallo está eufórico, como
sempre, com o convite para
dirigir a seleção no amistoso contra a Coréia do Sul. Ele está se
preparando para disputar uma
final de Copa do Mundo.
O técnico enfatizou que a equipe jogará com dois zagueiros e
dois laterais, porque esta é a tradição do futebol brasileiro. Há na
declaração uma crítica e menosprezo ao esquema com três zagueiros do Felipão, utilizado na
Copa do Mundo. Parece até que o
Brasil foi mal no Mundial.
Teoricamente, prefiro também
dois zagueiros. Porém Felipão estava certo quando disse que os laterais brasileiros, especialmente
Cafu, avançam muito e não sabem fazer a cobertura. Essa foi
uma das causas de várias derrotas importantes da seleção na
época que Zagallo a dirigia.
É muito mais fácil para um zagueiro, que está de frente para a
bola e para o adversário, fazer a
cobertura do lateral do que um
volante. Esse tem de correr para
trás ou para o lado.
Na Copa-2002, dependendo da
maneira de jogar do outro time,
Edmilson atuou às vezes de zagueiro e outras de volante, o que
foi ainda mais correto.
Na conquista do título de 1994,
nos EUA, a seleção atuou com
dois zagueiros, mas os laterais se
alternavam no apoio, os zagueiros não se adiantavam e havia
dois excelentes volantes. Mauro
Silva era quase um terceiro zagueiro (como Edmilson), e Dunga
raramente ultrapassava a linha
de meio-campo. Os armadores
Raí (depois Mazinho) e Zinho
participavam da marcação. O time tinha um excepcional esquema defensivo, muito melhor do
que o de 1998 e 2002. Defender
bem é também importante.
Na Itália, os habilidosos laterais
brasileiros, como Cafu, Serginho,
Júnior e César (barrou o Sorín na
Lazio), jogam de alas no esquema
com três zagueiros ou de meias no
com dois. Nunca atuam de laterais, apoiando, ao lado de dois
zagueiros.
O esquema com três zagueiros é
também deficiente na marcação.
Os alas atuam muito no campo
rival e deixam grandes espaços
nas suas costas. Nem sempre dá
tempo do zagueiro sair na lateral.
Por isso, o melhor esquema defensivo é o com quatro defensores,
desde que os laterais sejam mais
marcadores do que apoiadores.
Mas, dessa maneira, o time perde o apoio importante dos laterais. As jogadas pelos flancos são
as mais eficientes. A solução de
alguns técnicos foi colocar atacantes velozes pelos lados, que
atacam e defendem. Eles são uma
mistura dos antigos pontas com
os meias do sistema 4-4-2 (dois
volantes e um meia de cada lado).
Muitas equipes atuam hoje dessa forma, como o Corinthians e o
Santos, o Arsenal, da Inglaterra, e
as seleções da França e da Argentina. A Holanda, por sua vez,
sempre jogou assim.
Alguns desses "pontas" quase só
atuam pelos flancos, driblando e
cruzando, como Gil e Denilson. Se
não tiverem muita habilidade e
velocidade, serão facilmente anulados. Foi o que aconteceu na Copa com os pontas das seleções da
Argentina e da França. Outros
pontas deslocam-se para o meio
para finalizar, como Deivid.
Não há um esquema ideal. O
mais importante é que os técnicos
estão variando a maneira de jogar. Acabou a mesmice tática.
Ainda bem.
Melhor do mundo
Recentemente, escalei a seleção
brasileira de todos os tempos e,
para aproveitar os melhores jogadores, coloquei o Roberto Carlos
de lateral e o Nilton Santos de zagueiro. Recebi algumas críticas.
Nilton Santos foi o melhor defensor que vi jogar, tanto na lateral
quanto na zaga.
Roberto Carlos merece ser escolhido este ano, pela Fifa, o melhor
jogador do mundo. Sei que a
maioria não vai concordar. Ele
foi excepcional durante todo o
ano. Ronaldo e Rivaldo brilharam intensamente somente na
Copa. Os defensores deveriam
também ser mais valorizados.
Nunca são os melhores. A Fifa poderia escolher os melhores de cada posição e não somente o melhor do mundo.
O lateral evoluiu muito. Marca
e apóia com muita eficiência. Joga tão bem de lateral quanto de
ala. Quando atua de lateral ao lado de dois zagueiros, como no
Real Madrid, raramente deixa espaço nas suas costas porque tem
muita velocidade e só avança no
momento certo.
Roberto Carlos não se destaca
apenas nos cruzamentos pelo alto. Ele não cruza tão bem como
Arce e como Kléber.
Ronaldo, o melhor atacante do
mundo, também não cabeceia
bem. Ninguém é perfeito.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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