São Paulo, quarta-feira, 13 de novembro de 2002

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FUTEBOL

O retorno dos pontas

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Zagallo está eufórico, como sempre, com o convite para dirigir a seleção no amistoso contra a Coréia do Sul. Ele está se preparando para disputar uma final de Copa do Mundo.
O técnico enfatizou que a equipe jogará com dois zagueiros e dois laterais, porque esta é a tradição do futebol brasileiro. Há na declaração uma crítica e menosprezo ao esquema com três zagueiros do Felipão, utilizado na Copa do Mundo. Parece até que o Brasil foi mal no Mundial.
Teoricamente, prefiro também dois zagueiros. Porém Felipão estava certo quando disse que os laterais brasileiros, especialmente Cafu, avançam muito e não sabem fazer a cobertura. Essa foi uma das causas de várias derrotas importantes da seleção na época que Zagallo a dirigia.
É muito mais fácil para um zagueiro, que está de frente para a bola e para o adversário, fazer a cobertura do lateral do que um volante. Esse tem de correr para trás ou para o lado.
Na Copa-2002, dependendo da maneira de jogar do outro time, Edmilson atuou às vezes de zagueiro e outras de volante, o que foi ainda mais correto.
Na conquista do título de 1994, nos EUA, a seleção atuou com dois zagueiros, mas os laterais se alternavam no apoio, os zagueiros não se adiantavam e havia dois excelentes volantes. Mauro Silva era quase um terceiro zagueiro (como Edmilson), e Dunga raramente ultrapassava a linha de meio-campo. Os armadores Raí (depois Mazinho) e Zinho participavam da marcação. O time tinha um excepcional esquema defensivo, muito melhor do que o de 1998 e 2002. Defender bem é também importante.
Na Itália, os habilidosos laterais brasileiros, como Cafu, Serginho, Júnior e César (barrou o Sorín na Lazio), jogam de alas no esquema com três zagueiros ou de meias no com dois. Nunca atuam de laterais, apoiando, ao lado de dois zagueiros.
O esquema com três zagueiros é também deficiente na marcação. Os alas atuam muito no campo rival e deixam grandes espaços nas suas costas. Nem sempre dá tempo do zagueiro sair na lateral. Por isso, o melhor esquema defensivo é o com quatro defensores, desde que os laterais sejam mais marcadores do que apoiadores.
Mas, dessa maneira, o time perde o apoio importante dos laterais. As jogadas pelos flancos são as mais eficientes. A solução de alguns técnicos foi colocar atacantes velozes pelos lados, que atacam e defendem. Eles são uma mistura dos antigos pontas com os meias do sistema 4-4-2 (dois volantes e um meia de cada lado).
Muitas equipes atuam hoje dessa forma, como o Corinthians e o Santos, o Arsenal, da Inglaterra, e as seleções da França e da Argentina. A Holanda, por sua vez, sempre jogou assim.
Alguns desses "pontas" quase só atuam pelos flancos, driblando e cruzando, como Gil e Denilson. Se não tiverem muita habilidade e velocidade, serão facilmente anulados. Foi o que aconteceu na Copa com os pontas das seleções da Argentina e da França. Outros pontas deslocam-se para o meio para finalizar, como Deivid.
Não há um esquema ideal. O mais importante é que os técnicos estão variando a maneira de jogar. Acabou a mesmice tática. Ainda bem.

Melhor do mundo
Recentemente, escalei a seleção brasileira de todos os tempos e, para aproveitar os melhores jogadores, coloquei o Roberto Carlos de lateral e o Nilton Santos de zagueiro. Recebi algumas críticas. Nilton Santos foi o melhor defensor que vi jogar, tanto na lateral quanto na zaga.
Roberto Carlos merece ser escolhido este ano, pela Fifa, o melhor jogador do mundo. Sei que a maioria não vai concordar. Ele foi excepcional durante todo o ano. Ronaldo e Rivaldo brilharam intensamente somente na Copa. Os defensores deveriam também ser mais valorizados. Nunca são os melhores. A Fifa poderia escolher os melhores de cada posição e não somente o melhor do mundo.
O lateral evoluiu muito. Marca e apóia com muita eficiência. Joga tão bem de lateral quanto de ala. Quando atua de lateral ao lado de dois zagueiros, como no Real Madrid, raramente deixa espaço nas suas costas porque tem muita velocidade e só avança no momento certo.
Roberto Carlos não se destaca apenas nos cruzamentos pelo alto. Ele não cruza tão bem como Arce e como Kléber.
Ronaldo, o melhor atacante do mundo, também não cabeceia bem. Ninguém é perfeito.

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