São Paulo, domingo, 13 de dezembro de 2009

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PAULO VINÍCIUS COELHO

O maior fracasso do Palmeiras


Pizo amava Della Monica, que amava Cipullo, que amava Belluzzo... Hoje, todos eles se odeiam


O PRESIDENTE do Palmeiras, Luiz Gonzaga Belluzzo, precisou de habilidade, para contornar a situação política, na turbulenta semana do Parque Antarctica. Com muitos panos quentes e poucas decisões de impacto, selou a paz e manteve intacto o departamento de futebol. Cipullo fica, Muricy também. Furiosos ficaram apenas os críticos.
E são tantos...
Há 11 meses, ao vencer a eleição, Belluzzo deu a mão ao candidato da oposição, Roberto Frizzo, e caminhou para festejar a conquista com a torcida. Sua primeira promessa era pacificar o clube. Enquanto Belluzzo e Frizzo davam entrevistas de mãos dadas, o ex-presidente Della Monica contorcia-se de ciúme. Perguntava-se como Belluzzo podia dar as mãos ao adversário e esquecer-se de homenagear os aliados. Della Monica havia sido um cabo eleitoral frágil, mas estava do lado dos vencedores, afinal. Não está mais.
A falta de apoio do antigo presidente é um símbolo. O clube não se pacificou, esmigalhou-se. Controlar o cansaço de Cipullo, apaziguar os ânimos entre o principal dirigente do futebol e o treinador, tudo isso é mais viável do que recuperar a unidade de um clube historicamente dividido. "Nunca vi tanto ódio", diz um conselheiro da oposição.
Cipullo não queria sair por causa de Muricy, como muita gente supôs. Queria sair porque seu trabalho é torpedeado por opositores e situacionistas, indistintamente. Há argumentos para defender a saída de Cipullo. O mais forte, a conquista de um único título, o Paulista de 2008, em três anos de gestão. Se você se esquecer de que o Palmeiras não ganhou nada nos nove anos anteriores, o argumento é invencível.
Mas, se Cipullo sai, quem entra? Não há, no Palmeiras, uma mísera nova liderança com envergadura -ou pronta- para assumir o cargo. A única exceção, Serafim del Grande, diz não ter tempo, nem saúde, para o posto. O agravante é que Bel- luzzo diz não ser candidato à reeleição, o que alimenta os sonhos dos amigos e inimigos, dos capazes e dos incompetentes, de chegar à presidência ou ao departamento de futebol. Se o remédio é Belluzzo anunciar a intenção de se reeleger? Na atual circunstância, Belluzzo não ganha eleição nem para síndico, se o colégio eleitoral for o Conselho Deliberativo do Palmeiras.
Todas as maiores crises da história do Palmeiras foram políticas. A maior, a descoberta de que Jordão Bruno Sacomani havia desfalcado os cofres do clube, em 1977. Nessa ocasião, os dois maiores inimigos políticos -Delfino Facchina e Paschoal Giuliano- trabalharam por um clube pacificado.
Hoje, opositores e situacionistas falam na falta de títulos, no excesso de dívidas, na falta de pulso. Não, não foi Belluzzo quem endividou o Palmeiras. Foi Della Monica, tentando corrigir os anos sem investimento de Mustafá.
Então, o maior fracasso verde em 2009 nem é a dívida, que beira os R$ 50 milhões. Acredite, também não é o fiasco no Brasileirão. O maior inimigo do Palmeiras hoje é a quadrilha. Não uma daquelas que você imagina, quando se fala em dirigentes do futebol brasileiro, mas a "Quadrilha", de Drummond. "Pizo amava Della Monica, que amava Cipullo, que amava Belluzzo..." Hoje, todos se odeiam.


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