São Paulo, segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

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À margem do esporte

Rebeca Gusmão se apoia em brecha na interpretação de seu banimento e cava espaço em modalidades não olímpicas

Pedro Ladeira/Folhapress
Rebeca Gusmão, no supino, em academia de Brasília

DANIEL BRITO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Rebeca Gusmão virou levantadora de peso e comunista. Banida do esporte em 2009 após ter sido constatada a presença de testosterona em exames antidoping feitos entre 2006 e 2007, ela mora em Brasília, cidade em que nasceu há 26 anos, e leva a vida atrelada ao esporte.
Anteontem, por exemplo, conquistou o título de campeã brasiliense de powerlifting (nome em inglês para levantamento de peso) ao suportar uma barra com 130 kg. Ela era a única mulher entre os 12 competidores.
Em outubro, buscou o caminho da política ao se candidatar a deputada distrital pelo PC do B, mesmo partido do ministro do Esporte, Orlando Silva Jr. A ex-nadadora defendeu o discurso de inclusão social pelo esporte para combater as drogas. Com 437 votos, não foi eleita.
Já no esporte, Rebeca se aproveita de uma falha na interpretação da decisão da Fina (Federação Internacional de Natação), entidade que a baniu há dois anos, para continuar competindo.
"Pelo que entendi, eu estou banida do esporte natação e não dos esportes como um todo", justifica a atleta, que conquistou cinco medalhas, sendo duas de ouro (nos 50 m e 100 m livre), no Pan do Rio-07, mas as perdeu por causa do doping.
De fato, a Fina julgou, em setembro de 2008, que Rebeca está banida do esporte. Ela apelou ao TAS (Tribunal Arbitral do Esporte), na Suíça, que acompanhou a decisão da federação de natação.
"O que eu entendo do julgamento é que eu posso jogar futebol americano, lutar jiu- -jítsu, participar de esportes não olímpicos", interpreta a levantadora de peso.
Ela já disputou o Campeonato Brasiliense de futebol no ano passado, o Campeonato Universitário do DF de futsal e cinco competições de levantamento de peso desde dezembro de 2009.
A primeira delas foi um "Mundial" promovido pela Federação Paulista de Levantamentos Básicos do Interior. O campeonato contou com 50 atletas, todos brasileiros, em um acanhado ginásio no Distrito Federal.
Assim como na competição de anteontem, Rebeca foi a única mulher na disputa, e sagrou-se "campeã mundial" ao levantar 140 kg, 10 kg a mais que a marca do sábado, no torneio brasiliense.
Seu recorde, no entanto, é 150 kg, alcançados em novembro, em Vitória (ES).
A meta para 2011 é conseguir chegar aos 200 kg. Coincidentemente, o recorde mundial é de outra Rebecca. Norte-americana de 34 anos, Rebecca Swanson levanta incríveis 272,5 kg.
Rebeca Braga Lakiss Gusmão apresenta aparência física bem diferente da atleta que disputou as provas de natação no Pan do Rio.
Está com 102 kg, 18 kg a mais que três anos atrás. O que a ajuda a se destacar no levantamento de peso.
"Acabei me descuidando da alimentação. Não são 18 kg só de músculo. Mas eu seco rapidinho, [é] só fechar a boca e treinar mais", disse.
A brasiliense conta com dois patrocinadores: um escritório de advocacia especializado em causas agrárias e um fabricante de bebidas de Brasília, que vende energéticos à base de cafeína, guaraná e taurina (substância que, entre outras coisas, auxilia no anabolismo) em garrafas de dois litros.
É com a ajuda deles que Rebeca Gusmão deve se encontrar com a xará Becca Swanson em outros "Campeonatos Mundiais" em 2011.
Ela está de passagem marcada para Dallas, nos EUA, em abril, e Dublin, na Irlanda, em novembro. Em nenhuma das competições é feito o exame antidoping, garantiu o técnico da brasiliense, Carlos Caramello.


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