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Bumba meu busão
Sem passagens de avião, jogadores do Nacional de basquete se apertam pelas estradas do país
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Dor nas costas, comida estragada, assaltos, estradas cheias de buracos, noites mal dormidas.
Quase obrigatórios na aventura
de quem decide cruzar o Brasil
com uma mochila nas costas, os
inconvenientes das longas viagens de ônibus se tornaram rotina
para os jogadores que disputam o
Nacional masculino de basquete.
Com o corte feito pela confederação brasileira na concessão de
passagens aéreas, as equipes estão
sendo obrigadas a enfrentar verdadeiras maratonas pelas estradas para jogar fora de casa. É o
que faz agora o Brasília.
A equipe chegou ontem a Mogi
das Cruzes, penúltimo ponto de
uma peregrinação que passou por
Uberlândia e São Paulo e que segue hoje para Casa Branca.
Quando pisarem de novo na capital federal, os jogadores terão
percorrido cerca de 2.100 km. Reflexo do tamanho do torneio, o
mais "nacional" da história, com
16 times em 15 cidades diferentes.
"Não dá para cobrar motivação
dos jogadores. Do jeito que está,
vamos chegar a Brasília de ambulância", brinca o técnico Milton
Setrini, o Carioquinha, que volta à
quadra hoje, às 11h.
Até agora, sua equipe só coleciona derrotas "na excursão". E
recorrentes reclamações.
"Disputo o Nacional há oito
anos e nunca vi um tão mal estruturado", reclama Paulão. "Nós somos grandes [a média é de altura
é 1,97 m]. Por melhor que seja o
ônibus, você não acha posição para dormir, a perna não cabe..."
Não é só o desgaste físico que os
atletas de Brasília têm enfrentado.
Na viagem entre Uberlândia e São
Paulo, viram o ônibus que viaja à
sua frente ser baleado. O episódio
mudou os planos da equipe, que
decidiu evitar viagens noturnas.
Mas mesmo o susto se transformou em gozação, prática recorrente entre os atletas que tentam
parar de contar os quilômetros.
"Se os ladrões entrassem no
ônibus, iam ver um monte de
marmanjo de dois metros de altura se enfiando embaixo dos bancos", diverte-se o ala Paulão.
O pinga-pinga pelas estradas
não é exclusividade do time de
Brasília. Muitas equipes já enfrentaram maratonas semelhantes.
Para diminuir o desgaste dos
atletas, o Ribeirão Preto decidiu
investir na nova "estrela" do torneio. A equipe vai reformar o ônibus e aumentar o espaço dos assentos -serão três por fileira, e
não quatro, como hoje.
O técnico Aluísio Ferreira, o Lula, também ganhará ajuda. Ele terá uma mesa com energia elétrica,
em que poderá editar fitas de vídeo e usar o computador.
"A situação está ruim para todo
mundo", conta o treinador.
O pouco conforto do ônibus semileito perdeu a importância para a equipe de Araraquara após
uma viagem, na volta de Brasília.
Em uma das paradas, os jogadores esqueceram as recomendações e abusaram dos quitutes. Tiveram de ser levados às pressas ao
hospital com diarréia. Para alguns, foram quatro dias de cama.
Nunca a equipe viu tantos atletas caírem ao mesmo tempo.
Mas mesmo com as baixas, o
técnico do Araraquara, Tom Zé,
ainda prefere viajar de ônibus.
"Morro de medo de avião. Pago
para não entrar em um", conta.
Medo também é um dos argumentos que o pivô Fabião, de Brasília, usa para reivindicar o fim da
peregrinação pelas estradas.
Em 1998, quando defendia o
Corinthians, o jogador de 2 m viu
o ônibus perder o freio na descida
para o litoral paulista. Até hoje
ainda sofre com o trauma.
"Eu não consigo pregar o olho.
Se o ônibus balança, cai em um
buraco, eu dou um pulo", conta.
Quem consegue descansar mesmo é Alexey. O ala é invejado pelos companheiros por viajar no
"quarto do líder", brincadeira feita em alusão ao programa Big
Brother. Uma poltrona vazia ao
lado da sua deixa o jogador esticar
as pernas durante as viagens.
Mas a mordomia não o faz deixar de criticar a situação. Como
muitos, acredita que a situação
poderia ser diferente se Oscar ainda jogasse. Este é o primeiro campeonato sem a principal estrela do
basquete nacional.
"Não sei se fariam isso com ele
aí. Mas, se o Oscar reclamasse, poderia seria diferente."
Ontem, Alexey e seus companheiros ganharam um tempo extra de recuperação. Carioquinha
mudou os planos, desistiu de viajar de madrugada e deixou os atletas dormirem até mais tarde. O
motivo não era o cansaço: queria
economizar uma diária de hotel.
NA TV - Mogi x Brasília,
RedeTV!, ao vivo, às 11h
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