São Paulo, quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

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Para Pequim, politização da Olimpíada é injusta

Um dia depois de o cineasta Steven Spielberg deixar de assessorar os Jogos de 2008, China nega interferência em conflito no Sudão

DA REPORTAGEM LOCAL

Um dia após o cineasta Steven Spielberg anunciar a saída do posto de assessor artístico dos Jogos de Pequim, a China apelou a ativistas que associam sua ligação com o Sudão à Olimpíada para que façam "jogo limpo", numa tentativa de despolitizar a competição.
O país asiático é aliado do Sudão, que enfrenta conflitos na região de Darfur desde 2003. Estimativas não oficiais dão conta de que 200 mil pessoas tenham morrido nos ataques na região oeste sudanesa.
A China é acusada de não ajudar na resolução do embate -o governo do Sudão, parceiro chinês, apóia uma das forças no conflito do país.
Spielberg pediu afastamento com a justificativa de que o governo chinês nada fazia para apaziguar a situação no Sudão.
A embaixada chinesa em Washington emitiu comunicado, sem citar a saída do diretor norte-americano do projeto, destacando "o papel positivo da China na questão de Darfur".
A nota ainda frisou que "Darfur não é assunto interno da China" e "não foi causado pela China". "É totalmente sem sentido e injusto por parte de certas organizações fazer uma relação direta entre as duas coisas", disse a embaixada.
No mesmo dia da desistência de Spielberg, uma carta foi enviada ao presidente da China, Hu Jintao, condenando o apoio ao Sudão. O documento tinha a assinatura de oito ganhadores do prêmio Nobel, 13 atletas e 46 parlamentares, além de personalidades como a atriz Mia Farrow, crítica da participação do cineasta na Olimpíada.
Grupos rebeldes de Darfur, em oposição ao governo do Sudão, pediram o boicote à Olimpíada. "Estamos fazendo um apelo a todas as nações para boicotarmos os Jogos Olímpicos, assim como a todos os atletas", disse o porta-voz do Movimento Justiça e Igualdade, Ahmed Hussein Adam.
O comitê organizador dos Jogos não se pronunciou.
O Comitê Olímpico Internacional limitou-se a dizer que a saída de Spielberg foi uma "decisão pessoal". "O COI não intermediou a relação entre Pequim e Steven Spielberg. Não cabe à entidade fazer qualquer comentário", informou o comitê, em comunicado.
A crise veio à tona na mesma semana em que países sinalizaram censura a seus atletas em Pequim. O comitê da Grã-Bretanha anunciou que seus esportistas seriam proibidos de falar em política, sob pena de afastamento da Olimpíada.


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