São Paulo, quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

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JUCA KFOURI

Libertadores, mesmo com horrores


Dá uma certa saudade do tempo em que o torneio era disputado só pelos campeões nacionais e seus vices


H OUVE UMA época em que a Taça Libertadores da América era disputada apenas pelos campeões de 10 dos 13 países da América do Sul. Em 1960, por sinal, na primeira disputa, nem isso, porque três campeões, os da Venezuela, Equador e Peru, faltaram.
No ano seguinte, em que o Peñarol ganhou o bicampeonato, tendo o Palmeiras como vice, a Venezuela continuou de fora e assim seguiu. Em 1962/63, como se sabe, o bicampeão foi o Santos. Superou o Peñarol em três jogos, em 1962, e o Boca Juniors em 1963, em dois, na Bombonera, inclusive.
Eram outros tempos, não importa se melhores ou piores. Resta constatar que eram, ao menos, diferentes. E menos flexíveis, tanto que houve resistência para se aceitar a participação dos vices nacionais. Havia bem menos jogos também, a tal ponto que para ser bicampeão o Santos de Pelé teve de jogar contra só dois rivais: o Botafogo de Garrincha, que não jogou nem no empate de 1 a 1, no Pacaembu nem na goleada de 4 a 0, no Maracanã, e o Boca.

Mas que jogos!
Eram, sim, tempos românticos, embora de ânimos até mais acirrados, de mais violência nos gramados raramente de boa qualidade e de muito, mas muito doping. Hoje, quando se olha para a primeira rodada dos cinco brasileiros, o que se vê? Só o tricampeão São Paulo terá pela frente um adversário de tradição na Copa, o Atlético Nacional de Medellín, campeão de 1989 e vice de 1995 -anos em que o tráfico de drogas ainda lavava muito dinheiro nos times colombianos.
Porque o bicampeão Santos jogaria nesta madrugada contra o apenas sonoro Cúcuta Deportivo, também da Colômbia. Outro bicampeão, o Cruzeiro, pegaria o Real Potosí, da Bolívia, que, de real, convenhamos, tem só a altitude para intimidar no segundo jogo. Razão pela qual fazem muito bem os clubes brasileiros de recorrer até a última instância para evitar tamanho sofrimento, mesmo que o presidente Lula se solidarize com bolivianos, equatorianos, colombianos, peruanos, enfim, tenha optado pela demagogia e não pela saúde e pelo espírito esportivo.
Para a dupla Fla-Flu sobrou o Coronel Bolognesi, do Peru, e a LDU, do Equador, respectivamente. Se aos rubro-negros campeões de 1981 coube também um adversário obscuro, os tricolores enfrentarão uma equipe sem conquistas, mas, ao menos, já habituada à competição, bem mais que o próprio time nacional. Sim, porque os equatorianos vão para sua 13ª participação na Libertadores, com 101 jogos, 40 vitórias e 38 derrotas, ao passo que os cariocas participarão pela terceira vez, com apenas 12 jogos, quatro vitórias e cinco derrotas.
O interessante é que a Libertadores virou objeto de sonhos de todos os clubes brasileiros, que às vezes chegam a relegar a posto secundário ser campeão nacional. Mas, até que os grandes comecem a se encontrar, a competição é que parece ser de segunda linha, ainda mais se a comparamos com a Copa dos Campeões da Europa, que, aliás, também afrouxou seus critérios além da conta.

blogdojuca@uol.com.br


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