São Paulo, terça-feira, 14 de março de 2006

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JUDÔ

Amanda de Faria Dutra recorre à caridade para vencer seletiva e obter vaga na equipe que competirá no Pan dos EUA

Atleta usa quimono emprestado para alcançar a seleção

Edson Silva/Folha Imagem
Amanda de Faria Dutra treina em Guaíra, onde usa borrachas e uma árvore para praticar pegadas


LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL

Aos 11 anos, ela foi levada pela mãe para um projeto assistencial que visa integrar crianças carentes por meio do judô. No sábado passado, Amanda de Faria Dutra, 15, conseguiu a vaga na seleção brasileira juvenil, que disputará o Pan da categoria, nos EUA.
Na trajetória rumo à seleção, além das oito adversárias que teve de superar, Amanda lutou contra a dificuldade financeira.
Na final da seletiva, na capital paulista, quando foi escalada para lutar de azul, ela precisou, mais uma vez, recorrer à caridade.
"Só tenho quimono de treino, branco. Como tinha que lutar de azul a final, meu técnico precisou pegar um quimono emprestado", conta a judoca, pelo celular do treinador, já que sua casa não conta com uma linha telefônica.
Ao longo dos quatro anos em que participou do "Projeto Olímpico Branco Zanol", Amanda viu seus dois irmãos -que foram levados para os treinos com ela- desistirem do judô. "Eles tinham que trabalhar e faltava tempo para os treinos", conta a atleta.
Hoje na faixa roxa (segunda graduação antes da faixa preta), a peso leve teme ser obrigada a seguir o mesmo caminho. "Não gostaria de ter que trabalhar com outras atividades", diz Amanda, que ainda não conta com nenhum tipo de patrocínio.
Ainda, porque agora, Edelmar Zanol, o idealizador do projeto, acredita que conseguirá para ela a ajuda de custo que outros quatro judocas de sua entidade já têm. "Alguns empresários da cidade oferecem meio salário mínimo e uma cesta básica por mês para os nossos meninos."
Filha de uma arrumadeira de um hotel na cidade de Guaíra (a 466 km ao norte da capital paulista), onde vive, com um funcionário de uma usina de açúcar da região, ela conta que sentiu muitas dores nas lutas que a levaram à seleção brasileira juvenil.
"Uma semana antes da competição, machuquei a canela em um treino. Ficou muito roxa e eu sentia dores até para apoiar o pé no tatame. Isso me obrigou a passar os últimos dias antes da seletiva sem treinar. Mas fui recompensada com a vaga. Se não fosse pelo judô, duvido que tivesse a oportunidade de viajar para os EUA", afirma com segurança a judoca, que cursa o primeiro ano do ensino médio pela manhã e faz duas sessões de treinos à tarde.
Mas, mesmo quando não está no projeto, ela está treinando. Com o auxílio de seu técnico, Amanda montou uma estrutura para praticar pegadas -a forma como um judoca segura no quimono do rival, para aplicar as técnicas. "Uso uma borracha presa a uma árvore, por exemplo, para melhorar a puxada e fortalecer os braços. Funcionou", afirma Amanda, que não faz a menor idéia do que verá quando desembarcar no país norte-americano para competir.
"Nem consigo imaginar o que vou ver lá. Não tenho idéia do que existe nos EUA que não há aqui. Mas a minha meta principal é melhorar no judô", diz a atleta, ansiosa por viajar de avião pela primeira vez em seus 15 anos de vida.


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