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FUTEBOL
Chega de craques e medianos!
XICO SÁ
COLUNISTA DA FOLHA
A migo torcedor, amigo secador, sabe uma coisa que anda em falta: o grosso, o perna-de-pau completo e acabado, aquele
que trata a bola com desdém e ignorância, sem essa de ver beleza
na maldita redonda, naquela coisa deselegante e esférica que não
merece respeito nem do gandula.
Sem essa de comparar a bola a
uma mulher amada, sem essa de
comparar a bola a uma criança,
sem essa de bons tratos, lugar de
bola é no mato, que na vida nada
é amistoso. Metáfora e futebol-arte, para o grosso, são coisas de
veado. Onde andam os grossos de
verdade, meu caro Peninha, velho
beatnick gremista? Onde andam
os beques de fazenda, os volantes
Chicões, os Mericas da vida?
E, no ataque, onde estão os novos Beijocas? Onde andam os excluídos das crônicas chorosas do
Armando Nogueira?
Ora, para o grosso, comadre
Gertrude, uma bola é apenas
uma bola, uma bola, uma bola.
Essa obsessão pelo craque ou
candidato a craque nos roubou a
graça de ver em campo o grosso
de fato. A Europa nos leva os fora-de-série, e o nosso futebol fica cada vez mais uma várzea repleta
de mais-ou-menos.
O Brasileiro que começa no final de semana é o Brasileiro mais
mediano da história. Todo corretinho na fórmula e no número de
clubes, mas uma desgraça na
qualidade. Não tem supercraque
e muito menos grossos.
Você pega os piores times da Série A e não encontra um perna-de-pau completo. Mesmo com toda a decadência, os times cariocas
podem ser acusados de tudo, mas
nem o Júnior Baiano dos melhores tempos era um grosso autêntico. Fazia lambanças, mas o efeito
Telê Santana na sua existência,
nos tempos de São Paulo, limou
seus melhores defeitos. O mestre
Telê, aliás, com os seus pacientes
fundamentos, é o maior exterminador de pernas-de-pau do país.
É, o futebol perdeu a graça do
grosso de verdade. Quanto tempo
faz que não vemos gol de canela?
Chega da frieza do gol de jogada
ensaiada! Os piores jogos da vida
são os tais jogos dos nós táticos!
Prefiro a beleza das peladas.
Os trombadores estão em extinção, que saco, todo mundo volta
para armar, para ajudar o meio-campo, haja obediência tática,
haja linha burra. Cadê os gols à
Dadá Peito-de-Aço? Cadê uma
pisada na mão do goleiro à Serginho Chulapa? Cadê o pontinha
ciscador e burro que joga de cabeça abaixada feito um touro hábil?
Procura-se um grosso, cartas
para esta Folha.
A Série B, que começa amanhã,
surge como esperança. Não por
um grosso isolado, mas pelos jogos ao estilo vaquejada, vida e
morte na Segundona. Assim no
futebol como na vida, da medalhinha para cima é canela.
Que a Segundona não se contamine por nós táticos, neurolinguística nas palestras de vestiário,
auto-ajuda... Se conversa furada
ganhasse jogo, Lair Ribeiro seria
o nosso técnico na Copa.
Que nos jogos da Série B esteja
escrita, no quadro-negro dos vestiários, no máximo essa frase,
meu velho e bom Sérgio Sant"Anna: "Bola pra frente, rapaziada".
Já ganhou
Não há a menor dúvida, ninguém é capaz de esconder, a
equipe do São Paulo larga novamente como favoritíssima
para faturar mais um campeonato. Somente se der muita zebra e os secadores de plantão
funcionarem, o Tricolor não levará para o Morumbi mais um
caneco do torneio continental.
Desta vez não vai precisar nem
de helicóptero.
Alegria do Galvão
Que festa brasileira na Libertadores da América, né? Até o
Paulista de Jundiaí, que não
anda lá essas coisas, conseguiu
tirar casquinha nos argentinos.
"Sei não, isso não vai acabar
bem", cutuca-me aqui o Flobé,
o meu papagaio secador, toda
vez que ouve a voz do mais
patriótico dos nossos locutores
da televisão.
E-mail: xico.folha@uol.com.br
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