São Paulo, terça-feira, 14 de maio de 2002

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BASQUETE

Conta de divisão

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

O Nacional masculino voltou à TV aberta, registrou partidas bastante disputadas e lançou Minas Gerais como um promissor centro de basquete. Mas, para variar, encerra hoje sua fase de classificação sob descrédito, graças a um detalhe do regulamento.
A Confederação Brasileira definiu que o primeiro critério de desempate na tabela será o "cesta average" -o resultado da divisão entre o total de pontos convertidos e o total de pontos sofridos pela equipe ao longo do torneio.
Esse índice, indecifrável pela maioria dos torcedores, parece inofensivo aos desavisados. Mas sua supervalorização compromete não apenas o encaminhamento de um campeonato, como a saúde do próprio esporte.
Esta noite, por exemplo, pode (e deve) redundar em um triplo empate na classificação final do Nacional. Basta que, no Rio, o Flamengo supere a frágil equipe do Franca, e o Ribeirão Preto tropece em Belo Horizonte diante do forte Minas. Nesse cenário, Flamengo, Araraquara e Ribeirão Preto terminariam na quarta colocação, com 21 vitórias e 11 derrotas.
A diferença do "cesta average" entre os times já é tão expressiva que dificilmente a ordem na tabela fugirá de 4º) Ribeirão Preto, 5º) Flamengo e 6º) Araraquara.
O problema é que os ribeirão-pretanos perderam os quatro confrontos contra os dois adversários que ficarão na sua rabeira. O critério da CBB simplesmente ignora esse retrospecto, desmoralizando, assim, 15 semanas de disputa.
Em uma competição no sistema de turno e returno, como o Nacional, o princípio mais justo de desempate seria o confronto direto.
Fosse assim, em vez de receber o Flamengo para definir o mata-mata das quartas-de-final, o Ribeirão Preto teria de desafiar o Uberlândia (3º lugar) fora de casa -uma tarefa bem mais árdua.
Os defensores do "cesta average" alegam que o critério premia o basquete ofensivo e aumenta o interesse por todos os jogos. Afinal, toda cesta faz diferença.
Não enxergam, contudo, que, por causa dessa distorção, os treinadores têm sido cada vez mais conservadores nas escalações. Para dilatar o placar, exaurem seus melhores jogadores. Abrem pouco espaço para novos talentos. Deixam de oxigenar um basquete que há décadas sofre de asma.
Veja o caso do Vasco, que, mesmo participando paralelamente da Liga Sul-Americana, não pode se dar ao luxo de poupar os veteranos de seu elenco. Anteontem mesmo, ainda se recuperando de contusão, Chuí, 38, precisou disputar 25 dos 40 minutos contra o eliminado São Caetano. Uma partida que os vascaínos haviam ganho já no terceiro quarto!
Caem nessa cilada burocrática até os times em fase de formação, como o próprio Araraquara, que no início do ano perdeu o técnico, por razões de ordem médica.
Ninguém ousa nada. Nada.

Como no ano passado, São Paulo é minoria nos mata-matas do Nacional -Bauru, Araraquara e Ribeirão Preto representam o Estado entre os oito classificados. À primeira vista, isso pode parecer um sinal de vigor do basquete em outras regiões do país. Mas como explicar, então, que o trio carioca nos playoffs, Vasco, Flamengo e Fluminense, põe em dúvida sua participação no Nacional do ano que vem por falta de perspectivas financeiras?

Denominador 1
A insatisfação com a bola utilizada também sacudiu o torneio masculino. O modelo 6.1 da Penalty, produzido com material sintético, foi considerado escorregadio por vários atletas. Alguns times chegaram até mesmo a pôr em quadra bolas antigas, de uma linha que nem é mais fabricada, a 5.1, de couro natural. Para encerrar a controvérsia, foi lançado um outro modelo, o 7.3, também de material sintético, mas que, segundo os testes, é mais aderente.

Denominador 2
Três brasileiros participarão do "draft" da NBA, o vestibular que a liga realiza anualmente para renovar seus 29 times. O ala-pivô Nenê (ex-Vasco) segue bem cotado pela imprensa americana. O ala Jefferson (Ribeirão Preto) provavelmente quer só se projetar para tentar a sorte na Europa. E o ala-pivô Anderson Varejão (Barcelona) inscreveu-se na última hora, o que possivelmente diminuirá suas chances de arrumar um bom contrato.

E-mail melk@uol.com.br


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