São Paulo, sexta-feira, 14 de maio de 2004

Texto Anterior | Índice

FUTEBOL

O lobby do lobby

MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA

Quer dizer então que Ricardo Teixeira trabalha por "alterações legislativas que beneficiem o futebol"? Que a CBF age por "mudanças pleiteadas pelo futebol"? É como se os interesses da cartolagem se identificassem com as aspirações do mais amado esporte nacional.
Um episódio conta toda a história. A Folha noticiou na edição de terça-feira que o presidente da confederação brasileira reativou o seu lobby em Brasília.
Um dos pedidos levados à Câmara trata do Estatuto do Desporto. Teixeira reivindica a dispensa do pagamento de adicional noturno e horas extras aos atletas. Isso é "defender o futebol"?
O próprio cartola esclarece: "Os clubes não podem ficar nessa situação financeira, é preciso mudar a legislação". Que os clubes não podem continuar como estão, nem o abobado da enchente discorda.
Daí a pensar que certas remunerações trabalhistas provoquem a quebradeira é outro papo. Teixeira pretende mudar a lei subtraindo direitos dos jogadores. Sobre rigor no controle dos gestores, silêncio.
A elite futebolística nativa não defende outras causas que não as suas. Por vezes, coincidem com as do futebol.
É o que ocorre com aqueles poucos que batalham pela efetiva transformação do esporte em negócio. Por uma revolução burguesa que deixaria para trás os senhores feudais hoje de posse da bola. E que, no campo e fora dele, traria progressos fabulosos.
No Tribunal Superior do Trabalho, Ricardo Teixeira propôs limites baixos de desconto, nas receitas dos clubes, para o pagamento de dívidas com funcionários. Desconhecem-se esforços pela punição dos responsáveis pelos calotes.
Tratar o lobby de Teixeira e da CBF como ações a favor do futebol é um equívoco. Jogam para si. Tatibitate: existem tantos e tão contraditórios interesses em conflito que não se pode reconhecer o lobby da CBF como "lobby do futebol". É como a "bancada da bola". O que poderia parecer um bem pespegado carimbo confere legitimidade a parlamentares que conspiram contra a bola.
Em Brasília, Teixeira suou na campanha para receber a Copa de 2014. Alguém pode ser contra? Não só pela honraria, mas pelas perspectivas econômicas, surge boa oportunidade. A empreitada, contudo, seria tocada por dirigentes cujo comportamento foi esquadrinhado por duas CPIs no Congresso. Pode o Brasil dar cheque em branco a tal gente e a tal projeto, que se irrigará de dinheiro público?
A CBF aparenta ter dois lobbies. Um é o óbvio, revigorado agora pessoalmente por seu chefe.
Outro é subliminar: difundir que o seu lobby não é o lobby de determinado segmento com determinadas ambições, mas o "lobby do futebol".
Talvez tudo isso seja, como diria o falecido Sérgio Motta, pura masturbação sociológica. Pelo menos no jornalismo, no que diz respeito à sua independência, faz enorme diferença.

A coragem de Kajuru
Foi peitudo o programa de Jorge Kajuru, domingo, na Band. Ao tratar de lavagem de dinheiro no futebol, mexeu num vespeiro. Deu exemplo e deixou ótima pauta para correr atrás.

Bronca santista
A maioria dos santistas que escreveram me corrige: foi de uma patota ligada à direção do clube, e não do grosso da torcida, a campanha contra Leão.

Cabeceira
Saiu um belo livro, "A Saga dos Carijós", do jornalista Ailton Alves. Reúne crônicas publicadas quase todas de 1996 a 2001, os anos em que o Tupi de Juiz de Fora penou na Segundona de Minas. Narra como épico uma emocionante história de volta por cima.

E-mail
mario.magalhaes@uol.com.br


Texto Anterior: Boxe - Eduardo Ohata: Oportunidade perdida
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.