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FUTEBOL
O lobby do lobby
MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA
Quer dizer então que Ricardo Teixeira trabalha por
"alterações legislativas que beneficiem o futebol"? Que a CBF age
por "mudanças pleiteadas pelo
futebol"? É como se os interesses
da cartolagem se identificassem
com as aspirações do mais amado
esporte nacional.
Um episódio conta toda a história. A Folha noticiou na edição de
terça-feira que o presidente da
confederação brasileira reativou
o seu lobby em Brasília.
Um dos pedidos levados à Câmara trata do Estatuto do Desporto. Teixeira reivindica a dispensa do pagamento de adicional
noturno e horas extras aos atletas. Isso é "defender o futebol"?
O próprio cartola esclarece: "Os
clubes não podem ficar nessa situação financeira, é preciso mudar a legislação". Que os clubes
não podem continuar como estão, nem o abobado da enchente
discorda.
Daí a pensar que certas remunerações trabalhistas provoquem
a quebradeira é outro papo. Teixeira pretende mudar a lei subtraindo direitos dos jogadores.
Sobre rigor no controle dos gestores, silêncio.
A elite futebolística nativa não
defende outras causas que não as
suas. Por vezes, coincidem com as
do futebol.
É o que ocorre com aqueles poucos que batalham pela efetiva
transformação do esporte em negócio. Por uma revolução burguesa que deixaria para trás os senhores feudais hoje de posse da
bola. E que, no campo e fora dele,
traria progressos fabulosos.
No Tribunal Superior do Trabalho, Ricardo Teixeira propôs limites baixos de desconto, nas receitas dos clubes, para o pagamento de dívidas com funcionários. Desconhecem-se esforços pela punição dos responsáveis pelos
calotes.
Tratar o lobby de Teixeira e da
CBF como ações a favor do futebol é um equívoco. Jogam para si.
Tatibitate: existem tantos e tão
contraditórios interesses em conflito que não se pode reconhecer o
lobby da CBF como "lobby do futebol". É como a "bancada da bola". O que poderia parecer um
bem pespegado carimbo confere
legitimidade a parlamentares
que conspiram contra a bola.
Em Brasília, Teixeira suou na
campanha para receber a Copa
de 2014. Alguém pode ser contra?
Não só pela honraria, mas pelas
perspectivas econômicas, surge
boa oportunidade. A empreitada,
contudo, seria tocada por dirigentes cujo comportamento foi esquadrinhado por duas CPIs no
Congresso. Pode o Brasil dar cheque em branco a tal gente e a tal
projeto, que se irrigará de dinheiro público?
A CBF aparenta ter dois lobbies.
Um é o óbvio, revigorado agora
pessoalmente por seu chefe.
Outro é subliminar: difundir
que o seu lobby não é o lobby de
determinado segmento com determinadas ambições, mas o
"lobby do futebol".
Talvez tudo isso seja, como diria o falecido Sérgio Motta, pura
masturbação sociológica. Pelo
menos no jornalismo, no que diz
respeito à sua independência, faz
enorme diferença.
A coragem de Kajuru
Foi peitudo o programa de Jorge Kajuru, domingo, na Band.
Ao tratar de lavagem de dinheiro no futebol, mexeu num vespeiro. Deu exemplo e deixou
ótima pauta para correr atrás.
Bronca santista
A maioria dos santistas que escreveram me corrige: foi de
uma patota ligada à direção do
clube, e não do grosso da torcida, a campanha contra Leão.
Cabeceira
Saiu um belo livro, "A Saga dos
Carijós", do jornalista Ailton
Alves. Reúne crônicas publicadas quase todas de 1996 a 2001,
os anos em que o Tupi de Juiz
de Fora penou na Segundona
de Minas. Narra como épico
uma emocionante história de
volta por cima.
E-mail
mario.magalhaes@uol.com.br
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